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terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Algo de novo no reino da corrupção

Por: Cristian Klein ( Jornal do Brasil)

Um dos personagens mais interessantes em grandes escândalos de corrupção é o delator. Quem – e por que – resolve revelar a podridão que envolve determinada figura pública? Quase sempre é uma pessoa íntima, supostamente de extrema confiança, com a qual o político reduz, em tese, as probabilidades de denúncia. O histórico brasileiro reserva aos mais chegados da família um papel de destaque: mulheres, ex-mulheres, irmãos. São pessoas próximas, que sempre souberam e tiraram proveito dos resultados da corrupção. Até que razões mais fortes e emocionais as fazem entregar os crimes e esquemas praticados há anos. Raramente são movidas por uma súbita consciência pesada ou por um repentino lampejo de ética. Mas pelo sentimento de vingança por terem sido traídas.
Foi assim com Nicéia Pitta, quando descobriu que o marido, o ex-prefeito de São Paulo, Celso Pitta, morto mês passado, tinha um caso com a secretária. Foi assim com Maria Christina Mendes Caldeira, ex-mulher do então presidente do PL (hoje PR), Valdemar Costa Neto, que depois de expulsa da mansão onde morava após o fim do casamento, contou episódios comprometedores que levaram Valdemar à renúncia do mandato de deputado federal, durante o escândalo do mensalão, em 2005. Há dois anos, as denúncias contra o então presidente do Senado, Renan Calheiros, ganharam corpo, literalmente, quando Monica Veloso, mãe de sua filha fora do casamento, confirmou que recebia pensão paga pelo lobista de uma empreiteira. Isso para não mencionar o caso clássico, com elementos de tragédia rodrigueana, da delação de Pedro Collor contra o irmão. A vingança pelo suposto romance entre o ex-presidente Fernando Collor e a cunhada, Tereza, levou, pela primeira vez, um chefe de Estado brasileiro ao impeachment.
A delação, em certas situações, também pode partir de pessoas próximas, mas fora do círculo familiar. São motoristas, caseiros, secretárias. Nestes casos, sim, a denúncia, em boa parte, vem acompanhada de um sentimento de dever, de ética – e não de ódio, de revanche. É uma lição dos que estão no andar de baixo para os que estão em cima. Mas o impacto destas declarações não é garantido. Feito por subordinados, a tática de desacreditá-los, frente à reputação dos donos do poder, é sempre utilizada. Quando o ataque parte da própria família, não. É prova quase que inconteste.
A palavra de uma ex-mulher ou irmão traídos só não vale mais que mil imagens que registram em detalhes o exato momento em que ocorrem atos explícitos de corrupção. É o que se vê agora no escândalo que atinge o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM). As cenas gravadas durante o período de investigação fazem de casos anteriores filmes da sessão da tarde. A imagem do presidente da Câmara Legislativa, Leonardo Prudente (DEM), aliado de Arruda, enfiando dinheiro nas meias por não ter mais espaço nos bolsos para carregar a propina, já entrou para a história das sequências mais indecentes pela corrupção brasileira.
Mas o que vale destacar é que o delator, a pessoa que colaborou para a revelação do esquema, não tem qualquer relação de parentesco com os acusados. Durval Barbosa, ex-secretário de Relações Institucionais, foi durante muito tempo, ele mesmo, engrenagem na máquina de corrupção montada no governo do Distrito Federal, segundo investigações, desde a administração de Joaquim Roriz. Por que ele dedurou? As informações dão conta de que ele estaria sendo isolado dentro do grupo político. Preterido, teria encontrado aí os motivos para denunciar os ex-comparsas. Isso não explica muito, pois o custo – inclusive em termos de sua segurança física – seria alto demais. Durval precisaria de um benefício e encontrou no instituto da delação premiada uma oportunidade de atingir duplamente seu objetivo. Fez um acordo com o Ministério Público, a Polícia Federal e o Judiciário para se livrar de inquéritos e ter penas reduzidas. E obteve sua vingança. Seus crimes devem ser punidos exemplarmente. Mas o trabalho de cooperação construiu provas bombásticas. É um avanço. O caminho da denúncia deixa de depender das histórias de alcovas, das traições familiares (de certo, um enredo mais novelesco) e ganha mais uma alternativa – insossa, é verdade – por meio de um mecanismo institucional para a descoberta e o desincentivo à corrupção. Que a moda pegue.