Segundo especialista, usuário perde a noção sobre o que é bom para si mesmo
Por: Carolina Freitas(Época)
Um avô conseguiu na Justiça o direito de internar a neta viciada em crack, mesmo contra a vontade da jovem. No entendimento do juiz Ricardo Coimbra Barcellos, da 13ª Vara da Fazenda Pública do Rio, a mulher estaria com a liberdade restrita por conta da droga, o que permitiria à família decidir por ela. Novidade nos tribunais, a decisão pela internação forçada é comum nas clínicas especializadas. E, nos casos graves, a única porta de saída da dependência.
“Quando o sujeito está numa repetição de uso de uma substância de ação curta e intensa como o crack, ele tem pouca chance de fazer escolhas em prol da saúde”, explica o psiquiatra Carlos Salgado, presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas (Abead). “Ele passa dias numa roda viva em busca de droga. A capacidade de julgar atos como assaltar ou machucar alguém fica quase nula.”
A droga compromete o discernimento mesmo nos intervalos entre as jornadas de consumo da substância. Por isso, fica ainda mais difícil que o usuário procure ajuda por si próprio. “Nos intervalos, o indivíduo está extenuado, deprimido. Logo em seguida já começa a sentir falta da droga. Ele segue com a vida voltada para o uso da substância. O juízo crítico fica alterado às vezes por meses, mesmo com a interrupção do consumo”, diz Salgado.