GOVERNADOR DO PARÁ JATENE AGRIDE ALUNOS E PROFESSORES EM SANTARÉM - VEJA
O que seria a reinauguração da escola estadual Rio Tapajós,
ontem de manhã em Santarém, começou e terminou como um fiasco para o governador
do Pará, Simão Jatene, e o prefeito Alexandre Von, ambos do PSDB. O momento
mais quente foi a discussão de três alunas concluintes já preocupadas como
vestibular, que encararam o governador exigindo melhorias tanto na parte física
como na estrutura pedagógica. O diretor, Prof. Aloizio Bentes, deu declaração à
TV Tapajós, apoiando as meninas.
Conforme relato do professor Ormano Sousa na sua página no
FB, “o governador Simão Jatene perdeu a compostura com alunos da escola Rio
Tapajós após discurso de reinauguração do prédio. Os alunos falaram que não
gostariam apenas de uma reforma de pintura, mas estruturais, falaram das aulas
de educação física, quando são expostos ao sol quente na quadra que foi
construída pela própria comunidade escolar, dentre outros pontos. Jatene tentou
argumentar, mas alunos insistiram em ser ouvidos. Jatene esbravejou e deixou o
pátio da escola”.
Veja aqui as imagens:
Veja aqui as imagens:
O governador falou que a escola teria sido
"depredada", conforme as palavras dele, pela falta de conservação, e
que os professores, por isso, não estariam cumprindo com o seu papel de
educadores. Em nenhum momento Jatene foi hostilizado pelos alunos, nem por
ninguém presente, mas as meninas que se colocavam sobre uma pequena mureta,
onde os alunos sentam nos horários de intervalos na área coberta, onde o fato
ocorria, rebateram, dizendo que os alunos não eram vândalos e que uma reforma
que pensavam para a escola não era somente de pintura de paredes, de pintura de
telhas para mostrar tudo novo
Presente na ocasião, Ormano atendeu a pedido deste blog e
faz o seguinte relato mais completo:
1. Jatene está em visita a Santarém no programa do Propaz.
Foi à Escola Rio Tapajós com a intenção de inaugurar a reforma do prédio. Na
realidade, a reforma se resume, praticamente, a uma pintura geral. Como é
natural, as paredes já estavam sujas, e, para fazer o bonito junto ao
governador, a 5ª URE (Unidade Regional de Ensino) determinou que as aulas
fossem suspensas por dois dias para repintura interna.
Ontem, durante todo o dia, sem preparar o terreno, as áreas
arborizadas foram tapetadas de grama, ficou uma maravilha... para inglês ver.
No primeiro sol quente, a grama vai morrer por falta de adubo. Ele não chegou a
inaugurar. A cerimonial mudou o discurso e disse que a visita era apenas para
verificar como estavam sendo feitas as reformas das escolas e ali seria um
modelo para que ele visse.
2. O evento foi pouco prestigiado. Como não houve aula no
dia anterior, para liberar para a repintura e outros "retoques", os
alunos não compareceram hoje (ontem) também, pois sabiam que não haveria aula
pela manhã, somente tarde e noite seriam normais, como ocorreu, realmente. Havia
poucos alunos.
Poucos professores. Somente os que tinham horário a cumprir.
Logo cedo a Profª Marinete Lima, que é a segunda pessoa na 5ª URE,
"convidou" os professores presentes para um mutirão de limpeza com
uns poucos alunos que ali estavam. Ninguém atendeu o "convite". No
momento da chegada do governador, além desses já citados estava o pessoal da
comitiva, o prefeito Alexandre Von e assessores, além do pessoal da imprensa. A
TV Tapajós mostrou a cena em que três alunas concluintes do 3º ano discutiram
com Jatene, talvez pelo fato de ter repercutido a nota que lancei no FB.
3. Eram três alunas do 3º ano. Elas - detalhe - ainda
estavam com camisas do Flamengo festejando a vitória do time na Copa do Brasil.
Ouviram atentamente o discurso inflamado do governador. Jatene detonou a escola
e os alunos.
Citaram a necessidade de ter uma quadra decente - a que
existe foi construída pela própria comunidade escolar, sem nenhum centavo da
Seduc. (A escola recebeu, no dia em que completou 15 anos, dia 3 de outubro
passado, um comunicado informando da autorização da cobertura da quadra, mas
sem projeto pronto nem verba orçada - promessa, portanto). Jatene disse que
"não há dinheiro que cubra todas as necessidades da escola". As
meninas insistiram em apontar necessidades, salas quentes, laboratórios e
espaços pedagógicos sem funcionar por falta de pessoal.
O governador, que já estava bravo, saiu esbravejando, dando
as costas, deixando as alunas falando sozinhas. O diretor, Prof. Aloizio
Bentes, deu declaração à TV Tapajós, apoiando as meninas. Acho que isso poderá
"feder" pro lado dele.
4. O governador deixou a área coberta e se dirigiu para umas
salas próximas para mostrar à imprensa, quando constatou carteiras mal
conservadas. Voltou a dizer que má conservação de material tira a possibilidade
de investir em outros setores. É oportuno dizer que os espaços que estão
climatizados - secretaria, sala dos professores, auditório, biblioteca, foram
por investimento da própria escola, por projetos e iniciativas, como festivais
que a escola promove.
5. Ele permaneceu no local por cerca de meia hora ainda.
Talvez orientado por assessores, ele tentou reverter o clima de tensão com uma
rápida conversa com professores e alunos presentes, mas apenas algo unilateral
sem nenhuma promessa. Mas foi ratificado a ele a necessidade de investir nos
espaços da escola.
6. Não houve reação dos professores, a não ser nesse momento
em que ele conversou com alguns, porque vários já haviam saído. Eu já não
estava mais quando ele conversou com o pequeno grupo.
O diretor está no cargo por eleição. Portanto, qualquer
tentativa de tirá-lo vai de encontro às prerrogativas legais. Ele se manteve
bastante neutro, como é o perfil dele. Uma visão de ótica. As meninas estavam
num plano superior a Jatene. E elas mostraram autoridade. Nada havia sido
previsto. Foi azar do Jatene ter chamado os alunos de vândalos.
Postado por Manuel Dutra