
Entre 1980 e 2012, o Índice de Desenvolvimento Humano
(IDH) da Alemanha passou de 0,780 para 0,920. É o 5º país no índice
geral, 80 anos de esperança de vida e renda per capita de US$ 41 mil. O
IDH mede a renda das pessoas, escolaridade e expectativa de vida. Ela
saiu arrasada da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Saiu destruída do
nazismo e da Segunda Guerra Mundial (1933-1945). Hoje é a nação
economicamente mais forte da Europa, tendo alcançado o nível excelente
em qualidade de vida em poucas décadas. Técnica, planejamento,
organização, dedicação, empenho: são qualidades que eles esbanjam
orgulhosamente.
E o Brasil? De 1980 a 2012 nós melhoramos (saímos de
0,522 para 0,730 no IDH), mas ocupamos a vergonhosa posição de número
85. Somos hoje menos que a Alemanha em 1980. Pior: há muitos anos
estamos patinando na casa dos oitenta no IDH. O Brasil melhorou, mas
estamos longe das nações civilizadas. Nossa esperança de vida é de 74
anos, escolaridade média de 7 anos (contra 13 dos alemães) e nossa renda
per capita é de US$ 12 mil. Tanto Brasil como Alemanha estão entre os
10 países mais ricos do planeta. Ocorre que eles são ricos e promoveram o
desenvolvimento da qualidade de vida das pessoas (5º do mundo); nós
somos ricos e extremamente desiguais: baixa escolaridade, ¾ da população
são analfabetos funcionais, piores índices na educação, ridícula
competitividade, precária inovação, serviços públicos de quinta
categoria, transporte público indecente, saúde doente, Justiça injusta e
morosa, escola analfabeta etc. Somos, não por acaso, o 85º país do
mundo (dentre 186) em termos de qualidade de vida.
Temos capacidade para produzir riqueza, mas nunca
soubemos transformar isso em qualidade de vida para todos (veja Flávia
Oliveira, O Globo 9/7/14: 26). Sabemos ganhar, mas não temos a menor
ideia do que seja distribuir. Socioeconomicamente sabemos rivalizar, não
cooperar. O índice Gini da Alemanha (é o que mede a desigualdade:
quanto mais se aproxima do zero, mais igualdade; quanto mais perto do 1,
mais desigualdade) é de 0,27; o do Brasil é 0,51. Somos o dobro de
desiguais. O que isso provoca? Violência, desorganização social, péssima
qualidade de vida, miséria, fome etc. Um exemplo: os alemães contam com
menos de 1 assassinato para cada 100 mil pessoas (0,8, em 2011). E o
Brasil? 29 para cada 100 mil (em 2012). Somos mais de 30 vezes mais
violentos que eles. Essa é uma das nossas tragédias, que os alemães não
conhecem. Somos ainda o 12º país mais violento do mundo, o campeão
mundial nos homicídios em números absolutos (56 mil por ano) e, das 50
cidades mais letais, 16 estão no nosso país.
De todas essas goleadas acachapantes nós não nos
envergonhamos. Da desigualdade temos orgulho, não vergonha. Que pena!
Aqui é que temos que nos superar: em qualidade de vida, uso da
tecnologia, ciência, conhecimento, educação… Feito isso, muitas
estrelinhas vamos colocar na camisa da seleção brasileira, porque não
nos falta talento e habilidade.
Fonte:Luiz Flávio Gomes
Jurista e professor. Fundador da Rede de Ensino LFG. Diretor-presidente
do Instituto Avante Brasil. Foi Promotor de Justiça (1980 a 1983)