Vista de área devastada por exploração de madeira ilegal na Amazônia, na região do Pará, em 14 de outubro de 2014
Reduzir o desmatamento a zero deixou de
ser o suficiente para salvar a Amazônia: é preciso fazer um “esforço de
guerra” que implique o fim do corte de árvores e também o replantio para
recuperar grandes áreas devastadas.
O renomado pesquisador brasileiro
Antonio Donato Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(Inpe), lançou este alerta no informe “O Futuro Climático da Amazônia”,
baseado em 200 estudos e artigos científicos sobre o tema.
PERGUNTA: Qual é o objetivo deste relatório?
RESPOSTA: “A mensagem
mais importante é que valorizemos a floresta. O clima se ressente a cada
árvore que tiramos da Amazônia. As mudanças climáticas não são mais uma
previsão científica, mas uma realidade. Não temos mais tempo, o
desastre está em curso. Não sei a que ponto sem retorno nós chegamos.
Nos últimos 40 anos, destruímos 763.000 km2 de floresta (duas vezes a
superfície da Alemanha); são 2.000 árvores por minuto. Isso corresponde a
uma estrada de 2 km de largura da Terra à Lua.
Temos que nos unir em um ‘esforço de
guerra’, como fizeram os aliados durante a Segunda Guerra Mundial. O
desmatamento zero não é mais suficiente, é preciso replantar a floresta,
reconstruir os ecossistemas em zonas degradadas.
Não só a Amazônia está em jogo, estamos
falando das florestas do Congo, da Sibéria… É necessário que os governos
do mundo, os empresários e as elites se juntem como fizeram na crise de
2008: em 15 dias encontraram bilhões de dólares para salvar o sistema
bancário. É preciso fazer o mesmo para evitar o abismo climático e
salvar a humanidade e isto não seria tão caro”.
PERGUNTA: O que este estudo traz de novo?
RESPOSTA: “É um
trabalho inovador porque revela os segredos que tornam a Amazônia um
sistema único no planeta: exporta umidade, através de ‘rios voadores de
vapor’ d’água, que são correntes de umidade que esta massa de árvores
põe na atmosfera, levando chuvas para o sudeste, o centro-oeste e o sul
do Brasil, e também para outras regiões de Bolívia, Paraguai, Argentina,
a milhares de quilômetros. O problema é que estamos destruindo a fonte
destes ‘rios voadores’.
Sem os serviços da selva, estas regiões
produtivas poderiam ter um clima quase desértico. As árvores amazônicas
chegam a jogar na atmosfera o equivalente a 20 bilhões de toneladas de
água por dia, mais do que o rio Amazonas lança no Oceano Atlântico a
cada dia (17 bilhões de toneladas). É como uma bomba que manda água para
outras regiões. É por isso que não há deserto nem furacões ao leste dos
Andes. Há grandes provas de que a crise climática está vinculada ao
desmatamento da Amazônia.
A seca excepcional que vive a região
sudeste do Brasil, especialmente São Paulo, já pode ser o resultado da
destruição da Amazônia”.
PERGUNTA: Esse grande esforço poderia aportar os resultados esperados?
RESPOSTA: “O
desmatamento zero deveria ter começado ontem. O governo brasileiro fez
um trabalho magnífico entre 2004 e 2012, quando conseguiu reduzir o
desmatamento de 27.000 km2 ao ano para 4.000 km2. Mas o novo Código
Florestal, que anistiou aqueles que desmatavam, enviou um sinal de
impunidade e tudo recomeçou.
Se reagimos, temos a capacidade de nos
recuperar, embora o resultado não esteja garantido porque existem
mudanças climáticas mundiais. De qualquer forma, reconstruir os
ecossistemas é a melhor solução”.
A Amazônia é a maior floresta tropical
do mundo e se estende por 6,9 milhões de km2 entre Brasil, Bolívia,
Colômbia, Equador, Peru, Suriname, Venezuela, Guiana e Guiana Francesa.
Sessenta por cento da selva ficam em território brasileiro.
Fonte: MSN