Pistoleiros chegam fortemente armados em determinados locais e promovem momentos de intimidação e terror às famílias que residem
Cenas como essa estão virando rotina na região do Planalto em Santarém
Uma grave denúncia foi feita à nossa
reportagem nesta semana, por colonos do planalto santareno em relação a
invasão e grilagem de terras. Segundo os colonos, pistoleiros chegam
fortemente armados em determinados locais e promovem momentos de
intimidação e terror às famílias que residem nos imóveis.
Depois ordenam que todos os moradores
saiam do local, para que eles possam tomar posse do terreno em nome de
grandes empresários de Santarém. Nos últimos anos, pelo menos 10
proprietários de terrenos no planalto santareno foram vítimas das
emboscadas dos pistoleiros. O ato cometido às famílias virou motivo de
medo de dezenas de pessoas que residem há vários anos no planalto
santareno.
Preocupados com o problema, os colonos
cobram investigação por parte dos órgãos de segurança de Santarém, como
as polícias Civil, Federal e o Ministério Público Federal (MPF). A
insegurança no campo, nos últimos anos, provocou uma onda do êxodo rural
em Santarém. Temendo a violência, centenas de famílias venderam seus
lotes e migraram para zona urbana da cidade, o que contribuiu para o
inchaço populacional em diversos bairros.
Segundo a coordenação da Comissão
Pastoral da Terra de Santarém, os assassinatos no campo continuam
acontecendo, além disso, houve um aumento de 15% no número de conflitos.
A Amazônia representa 70% dos conflitos no campo em todo país. Ainda de
acordo com a Comissão Pastoral, há uma indústria implantada da
grilagem, movida pelos interesses do capital, com os grandes projetos
previstos para serem implantados na região, ganhando campo muito amplo
de invasão e desrespeitando o próprio meio ambiente.
Para a Comissão Pastoral, esses
interesses é que geram a violência no campo, como o que vitimou o casal
de extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito
Santo, em maio de 2011, no sudeste do Pará. A Pastoral cita ainda a
importância em denunciar estes casos para combater a violência.
A entidade lembra que há poucos anos
veio à tona em Santarém uma lista de trabalhadores rurais marcados para
morrer, como ax-presidente do Sindicato dos Trabalhadores e
Trabalhadoras Rurais (STTR) e atualmente Vereadora, Ivete Bastos dos
Santos (PT), que é uma das poucas que está sob proteção judicial.
Em 2005, quando reeleita por unanimidade
para seu segundo mandato à frente do Sindicato dos Trabalhadores e
Trabalhadoras Rurais de Santarém, Ivete recebeu as primeiras ameaças de
morte, relacionadas diretamente com a chegada da soja à região e às
sucessivas denúncias do Sindicato e da própria dirigente sobre a
exploração ilegal e predatória do ecossistema, acabando com os igarapés,
com a vida das pessoas, dos animais e prejudicando a produção familiar.
“A audácia e a certeza da impunidade dos
latifundiários era tão grande que certa vez um deles apareceu na porta
da sede do Sindicato, me chamou para fora e fez ameaças junto a um
jagunço que levava na cintura uma pistola à vista”, descreve.
As ameaças foram além. Numa região
chamada gleba Nova Pacoval, 25 casas de trabalhadores foram queimadas e
várias lideranças ameaçadas de morte. “Fomos a Polícia Federal, Polícia
Civil, Ministério Público Federal e Estadual. Procuramos todas as
alternativas, porque o governo estadual sempre tratou com invisibilidade
os trabalhadores e trabalhadoras rurais. Tanto que a Secretaria de
Segurança Pública nunca funcionou. Quando íamos prestar uma ocorrência
de um fato não éramos atendidos porque eles diziam que as denúncias
tinham que ter nome ou endereço. Mas ninguém que ameaça, que faz tortura
com um trabalhador, leva uma placa de identificação na testa. Todo
mundo sabe o que houve no Massacre em Eldorado dos Carajás, no
assassinato da irmã Dorothy Stange dos nossos companheiros José Claudio e
Maria do Espírito Santo,mas a impunidade reina nesses casos porque
nunca foi prioridade punir, nunca houve uma política específica para
combater isso, porque a maioria do poder público está do lado dos
latifundiários”, lamenta.
GRILAGEM DE TERRAS: Nos
últimos vinte anos, mais de 500 pessoas, entre trabalhadores rurais,
assentados, pequenos agricultores e lideranças do movimento em defesa da
reforma agrária e dos direitos humanos, foram assassinados no Pará, de
acordo com a Comissão Pastoral da Terra (CPT). No mesmo período, cerca
de 117,3 mil quilômetros quadrados de florestas foram desmatados no
Estado, mais de duas vezes o território da Paraíba. Sem relação
aparente, os dois tristes números fazem parte da mesma tragédia
socioambiental encenada também em vários outros locais da Amazônia. A
violência no campo e a devastação estão interligadas e têm uma causa
comum: a omissão, a conivência e até o estímulo do Poder Público diante
da ocupação e do comércio ilegal de terras.
Depois de crescer à sombra de políticas
públicas e leis equivocadas que perduraram por décadas (algumas delas
ainda vigentes), a grilagem é reconhecida, hoje, como um dos principais
motores do desflorestamento e dos conflitos fundiários que acabam
resultando na violência cometida contra populações locais e
tradicionais.
Por: Manoel Cardoso