A lama da corrupção instalada na Petrobras, conhecida como
“Petrolão”, respingou nos últimos dias fortemente em mais um cacique do PMDB e
chegou mais perto de atolar o partido no Estado do Pará.
Segundo o depoimento do consultor da Toyo Setal e delator na
Operação Lava Jato, Júlio Camargo, o presidente da Câmara dos Deputados,
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), pediu a ele propina de US$ 5 milhões em um contrato de
navios-sonda da Petrobras.
No depoimento prestado ao juiz Sergio Moro, na quinta-feira, 16, em Curitiba, Camargo disse que o pedido de propina teria ocorrido pessoalmente, em uma reunião no Rio de Janeiro. O valor, afirmou, foi pago por meio de Fernando Soares, o Fernando Baiano, apontado como operador do PMDB em contratos com a Petrobras.
No depoimento prestado ao juiz Sergio Moro, na quinta-feira, 16, em Curitiba, Camargo disse que o pedido de propina teria ocorrido pessoalmente, em uma reunião no Rio de Janeiro. O valor, afirmou, foi pago por meio de Fernando Soares, o Fernando Baiano, apontado como operador do PMDB em contratos com a Petrobras.
Fernando Baiano é um discípulo de Jorge Luz, um conhecido
lobista paraense que tem ligações estreitas com a família Barbalho. No meio
empresarial, Luz é dado como o maior lobista do País e de maior influência
dentro da Petrobras. Ganhou esse status após trabalhar para o governo Jader
Barbalho, em 1982, e para o seu sucessor, Carlos Santos. O lobista manteria até
hoje uma empresa de consultoria em Belém, atuando no setor elétrico e no ramo
da construção civil, mas é mais conhecido no Rio de Janeiro, onde costuma
desfilar pela Barra da Tijuca, bairro nobre onde ele reside, a bordo de uma
Ferrari.
O nome de Luz tem tangenciado o escândalo. Em documentos
apreendidos pela PF no escritório do ex-diretor da empresa Paulo Roberto Costa,
os nomes de Jorge Luz e de seu filho, Bruno Luz, aparecem vinculados ao
pagamento de comissões em negócios fechados pela Diretoria de Abastecimento da
estatal. De acordo com a revista “Época”, uma empresa de Luz fechou, em 2008,
contrato de R$ 5,2 milhões com a estatal.
A revista “Veja” publicou no dia seguinte ao depoimento de
Júlio Camargo, o quanto o lobista ligado ao chefe do clã Barbalho está
enlameado até o pescoço com o Petrolão e quanto o seu nome representa uma
ameaça aos principais partidos da base do governo federal. “A próxima dor de
cabeça de Eduardo Cunha pode ser esse sujeito (Jorge Luz, que na matéria
aparece em uma foto, tirada em 1993, no Paraguai, na companhia de sua então
namorada, Ariadne Coelho, a “rainha das quentinhas”).
Um paraense que penetrou
no meio político via Jader Barbalho, de quem sempre foi próximo. Luz, que desde
estudante mora no Rio de Janeiro, foi a partir dos anos 90 um dos principais
lobistas em atuação na Petrobras e, de acordo com relatos que têm chegado aos
investigadores da Lava-Jato, é muito ligado a Cunha. Fernando Baiano, outro
operador próximo a Cunha, é uma espécie de cria de Luz. A propósito, Luz também
é conectado ao PT, via Candido Vacarezza e Vander Loubet”, alerta.
Denúncias recentes mostram que a parceria entre o
homem-bomba do Petrolão e o político com a maior ficha corrida no Supremo
Tribunal Federal (STF) ainda se mantém. É o caso da revelação feita pelo jornal
“Folha de São Paulo”, no fim do ano passado, de um e-mail apócrifo que alertou
os diretores da estatal, em 2008, sobre o pagamento de propina. A mensagem,
assinada por um funcionário anônimo da empresa, que se autointitulava “O
Vigilante”, coloca o nome de Barbalho ao lado do político já falecido José
Janene (PP-PR), como um dos mentores das ações do cartel que funcionava dentro
da Petrobras. “Pobres diretores, tornaram-se escravos do Janene, do Jader
Barbalho”, diz o alerta.
A mesma reportagem lembra que o lobista era braço direito de
Jader Barbalho, quando o então governador do Pará protagonizou um dos maiores
escândalos financeiros da história recente do Estado, ao transferir dinheiro
dos cofres do Banco do Estado do Pará (Banpará) para a sua conta pessoal no Rio
de Janeiro. Entre 20 de outubro e 31 de dezembro de 1984, Jader teria desviado
- segundo denunciou auditoria do Banco Central do Brasil – algo em torno de R$
10 milhões dos cofres do Banpará. O golpe, descoberto pelo auditor-fiscal do
Banco Central Abrahão Patruni Junior, completou 30 anos em 2014, mas graças a
artimanhas jurídicas, Jader Barbalho ainda não foi a julgamento.
Ainda pelas matérias deflagradas pela imprensa, o lobista
Jorge Luz construiu no governo Lula boas relações com chefes do PMDB e do PT.
“No PMDB, é próximo do senador Jader Barbalho e do empresário Álvaro Jucá,
irmão do senador Romero Jucá, dono de uma empresa que tem contratos na
Petrobras”, explica matéria publicada na edição 827 da revista “Época”.
O
político paraense e o lobista são relacionados nessa reportagem a um personagem
conhecido por “Beto”, que, segundo a Polícia Federal, poderia ser o doleiro
Alberto Yousseff, também preso pela operação Lava Jato sob a acusação de ser o
responsável pelo pagamento aos políticos e as empresas com o dinheiro desviado
da refinaria Abreu e Lima, ou Humberto Mesquita, genro de Paulo Roberto Costa,
ex-diretor de abastecimento da Petrobras e principal operador do esquema de
corrupção.
“Paulo Roberto Costa detém muitos dos segredos da República
– aqueles que nascem da união entre o interesse de empresários em ganhar
dinheiro público e do interesse de políticos em cedê-lo, mediante aquela taxa
conhecida vulgarmente como propina. E se Paulo Roberto fosse descuidado e
guardasse provas desses segredos? E se, uma vez descobertas pela PF, elas
viessem a público? Pois Paulo Roberto guardou. Tentava destruí-las quando a
Polícia Federal chegou a sua casa.
Mas não conseguiu se livrar de todas a
tempo”, analisou a revista, ressaltando ainda que Paulo Roberto garantia aos
lobistas Fernando Baiano e Jorge Luz, ligados ao PT e ao PMDB de Jader
Barbalho, cujos nomes aparecem nos papéis apreendidos, as oportunidades de
negócio com as grandes fornecedoras da Petrobras – e, suspeita a PF, garantiam
também possíveis repasses aos políticos desses partidos.
Em delação premiada, em mês passado, o ex-diretor Paulo
Roberto Costa chegou a citar o envolvimento de alguns políticos no esquema de
corrupção, como o ex-deputado federal pelo PP, Pedro Correa, condenado no “Mensalão”,
e do ex-deputado federal Cândido Vacarezza, do PT. Nessas acusações ele inseriu
novamente o lobista aliado de Jader Barbalho no esquema de corrupção. Segundo
ele, “Jorge Luz, disse que Vaccarezza iria receber R$ 400 mil referentes a um
contrato fechado entre a empresa Sargent Marine e a Petrobras”.