Resíduos que antes eram desperdiçados passaram a ser aproveitados em benefício da comunidade
Um projeto de sustentabilidade
idealizado por um hospital público no interior do Amazônia tem mudado a
maneira da destinação do lixo orgânico gerado pela unidade. Em vez de
continuar mandando quatro toneladas mensais desse tipo de resíduo para o
aterro sanitário municipal, o Hospital Regional do Baixo Amazonas
(HRBA), localizado em Santarém, Oeste do Pará, transforma o material em
adubo e cultiva horta na própria área externa da instituição. Com isso, a
unidade contribui com o meio ambiente, reduz gastos com a compra de
alimentos e proporciona uma alimentação mais saudável para usuários,
acompanhantes e colaboradores.
O projeto “Compostagem e Horta Orgânica”
foi lançado em outubro de 2015. A compostagem é a primeira etapa do
projeto e envolve um processo biológico que permite transformar matéria
orgânica em um composto rico em substâncias e nutrientes para o uso em
jardins e hortas. Os resíduos que antes eram desperdiçados passaram a
ser aproveitados em benefício da comunidade do hospital. O projeto conta
com a parceria da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural
(Emater-PA), da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) e a
Universidade Luterana do Brasil (Ulbra).
O secretário de Meio Ambiente de
Santarém, Podalyro Neto, revela que a fração orgânica é um dos grandes
problemas enfrentados pelo município. A geração de lixo orgânico
representa mais de 60% do total de resíduos domésticos de Santarém.
“Esse projeto serve como espelho e estímulo, porque ver que uma
instituição está gerando o seu próprio alimento de maneira saudável a
partir do seu resíduo orgânico serve de exemplo e pode ser adotado em
outros lugares”, elogia Neto.
Processo de compostagem
Três toneladas de resíduos já foram
transformadas em adubo para alimentar a horta. A previsão é de que em
outubro, 30% do lixo orgânico sejam reaproveitados. “Para um futuro, a
médio prazo, planejamos atingir 50% da quantidade de resíduos, o que já
vai ser muito”, diz o agrônomo da Emater-PA, Pedro de Souza, responsável
pela execução do projeto. Ele explica que três tipos de processos de
compostagem são usados no Hospital Regional de Santarém.
O método endure é um composto que
utiliza materiais que não dão mau cheiro, como resíduos vegetais, aparas
de grama, mato capinado e folhas de árvores. Borra de café também pode
ser utilizada. O endure pode ficar pronto entre 21 e 45 dias. Ele é
revirado periodicamente, de cada sete a dez dias.
Outro processo de compostagem a céu
aberto é o bangalore. São feitos montes na superfície em que o composto é
revirado menos do que no método anterior. Neste processo, já podem ser
usados resíduos que emitem mau cheiro, como vegetais apodrecidos e
restos de comida. No entanto, é bom evitar carnes. O composto leva entre
60 e 90 dias para ficar pronto.
O terceiro método é recomendado para
usar os restos de carnes ou qualquer outro material que possa emitir
maior cheiro. Este método é chamado de trincheira. É cavado um buraco no
chão onde são colocadas camadas alternadas desse material com mato
capinado e folhas. Depois, isso é coberto com terra. A vantagem da
trincheira é que pode usar materiais que têm mais perigo de
contaminação, como resíduos de comida, mas não atrai vetores como ratos,
baratas e urubus. Ele não emite cheiro. No entanto, o processo é mais
lento. São necessários de 90 a 120 dias para poder ser utilizado.
Para aproveitar esse tempo em que o
composto leva para ficar pronto, o técnico encontrou uma solução.
“Quando fazemos trincheiras, normalmente plantamos em cima, o que tem
dado muito certo aqui. Todos os quiabos daqui estão no método
trincheira. Nós também tiramos a macaxeira bem grande por conta desse
método. Podemos plantar na semana seguinte em que iniciamos o processo
de compostagem sem nenhum problema, porque, apesar da temperatura
aumentar no buraco, vai levar tempo para a raiz mais funda alcançar”,
explica Souza.
O projeto também abre espaço para os
estudantes dos cursos de agronomia e gestão ambiental. “Esse projeto
veio colaborar para aperfeiçoarmos o nosso curso, a nossa área. Isso tem
contribuído muito para o nosso aprendizado. Já aprendemos a como fazer a
compostagem e sobre o plantio de algumas espécies”, conta a estudante
de Agronomia, Liliane dos Santos, de 22 anos.
Horta
Após iniciar o processo de compostagem, a
unidade realizou campanha para arrecadação de sementes e mudas para
começar o plantio da horta, em março de 2016. Depois, começaram a ser
cultivadas matrizes de batata doce, caruru e macaxeira, além de ervas,
como capim santo, erva doce e hortelã. O hospital tem uma área de 130
mil m².
Em agosto, cerca de 150 kg de frutas,
verduras e legumes foram colhidos, o que já representa 15% do total de
produtos hortifrúti consumidos pela unidade em um mês. A projeção é de
que em até três anos o hospital consiga produzir 90% de todo esse
material consumido pela unidade.
Para a coordenadora do projeto, Ádrea
Moreira, é fundamental trabalhar com foco na sustentabilidade. “Nada
melhor do que pensarmos na sustentabilidade, aproveitando esse resíduo
para fazer o adubo e utilizá-lo na nossa horta. Assim, vamos produzir
alimentos para termos variedade e qualidade, tanto para nossos pacientes
quanto para colaboradores”, explica.
Premiação nacional
O projeto “Compostagem e Horta Orgânica”
foi um dos 15 melhores trabalhos apresentados durante o 9º Seminário
Hospitais Saudáveis (SHS), realizado nos dias 14 e 15/9, no Hospital
Sírio-Libanês, em São Paulo. Mais de 110 projetos de todo o Brasil
concorreram. Com o projeto, o hospital recebeu o prêmio “Amigo do Meio
Ambiente” 2016. “O prêmio é o reconhecimento de toda a dedicação e
comprometimento de nossa equipe com a questão da sustentabilidade, o que
é fundamental nos dias de hoje. Essa preocupação com o planeta deve ser
a mesma que temos em zelar pelo ser humano, em zelar pela nossa casa. E
aqui no Hospital Regional isso faz parte do nosso dia a dia”, diz o
diretor Geral, Hebert Moreschi.
HOSPITAL REGIONAL DE SANTARÉM TORNA-SE SIGNATÁRIO DO PACTO GLOBAL DA ONU
O Hospital Regional do Baixo Amazonas
(HRBA), em Santarém (PA), ingressou, neste mês, no seleto grupo de
instituições que aderiram ao Pacto Global da Organização das Nações
Unidas (ONU). Para integrar a lista, o HRBA assinou o compromisso de
cumprir os dez princípios universais e teve a documentação necessária
analisada pela ONU. A unidade é a segunda do Pará a se tornar signatária
do Pacto Global da ONU, o primeiro foi o Hospital Público Estadual
Galileu, que também é administrado pela Pró-Saúde Associação Beneficente
de Assistência Social e Hospitalar, sob contrato de gestão com a
Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa).
O objetivo do Pacto Global é mobilizar a
comunidade empresarial internacional para a adoção de valores
fundamentais e internacionalmente aceitos nas áreas de direitos humanos,
relações de trabalho, meio ambiente e combate à corrupção, refletidos
em dez princípios.
O diretor Geral do HRBA, Hebert
Moreschi, conta que o Pacto Global é um resgate dos valores éticos das
relações mundiais. “O Hospital Regional está engajado nessa iniciativa,
declarando ao mundo o nosso comprometimento. É com esta visão que, além
de prestar assistência de alta e média complexidades, possamos ser um
agente transformador, promovendo a mudança na percepção das relações
entre as pessoas e difundindo isso na sociedade em que estamos
inseridos”.
Para o diretor da Pró-Saúde no Estado do
Pará, Paulo Czrnhak, é necessário que os hospitais atuem de forma
humanizada, respeitando os direitos humanos e os princípios de
sustentabilidades. ‘Na nossa gestão, buscamos efetivar a garantia dos
direitos dos cidadãos, da sociedade, e assim, prestar um serviço
eficiente que contribui para o desenvolvimento. Ser signatário do Pacto
Global da ONU é ter a certeza de que estamos no caminho certo, e sob os
olhares da comunidade internacional, que passa a avaliar todo o agir da
unidade”, explicou o diretor.
Relatório GRI
O HRBA está elaborando um relatório em
que vai reportar todo o desempenho da unidade na área ambiental, social e
assistencial do ano de 2015, de forma transparente, em que as pessoas
vão ter acesso às informações. A unidade buscar incorporar os protocolos
reconhecidos a partir da certificação internacional, concedida pela
Global Reporting Initiative (GRI), entidade sem-fins lucrativos sediada
em Amsterdã, Holanda. A GRI é um núcleo oficial de colaboração do
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.
O relatório, após ser finalizado, será
enviado para Holanda, onde passará pela verificação da entidade. Se as
informações estiverem de acordo com os protocolos exigidos, o hospital
receberá o selo GRI. No Brasil, apenas três hospitais possuem este selo.
No mundo, são oito unidades. “É uma forma de o hospital dar respostas
para a sociedade, não da parte só assistencial, o que é o foco, de fato,
mas, também, entender esse processo da operação do macroprocesso na
cadeia de valor desse hospital. As pessoas começam a dar valor porque
entendem como que é feita a gestão aqui”, explica o consultor da
Pró-Saúde, Rodrigo Henriques, que auxilia na construção do relatório
GRI.
Hospital
O HRBA é uma unidade de saúde pública e
gratuita pertencente ao Governo do Pará e gerenciado pela Pró-Saúde
Associação Beneficente de Assistência Social e Hospitalar, sob contrato
de gestão com a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa). O
hospital atende casos de média e alta complexidades e presta serviço
100% pelo Sistema Único de Saúde (SUS), sendo referência no Norte do
Brasil quando o assunto é tratamento de câncer. A unidade atende a uma
população estimada em mais de 1,1 milhão de pessoas residentes em 20
municípios do oeste do Pará.
Fonte: RG 15/O Impacto e Joab Ferreira