Dra. Célia Gadotti Bedin, Juíza da Comarca de Santarém do Juizado da Vara de Violência Doméstica.
Somente com o fortalecimento de uma rede
de parceiros e um trabalho preventivo, é que a sociedade pode mudar o
quadro preocupante do aumento dos índices de violência contra mulher. A
consciência da importância da harmonia entre o casal deve ser trabalhada
também junto ao homem, – que na maioria das vezes são agressores -, e
não somente junto à mulher.
Estas são umas das premissas do trabalho
desenvolvido na Comarca de Santarém, pela Juíza Célia Gadotti Bedin,
responsável pela Vara de Violência Doméstica. A magistrada tem se
destacado em sua atuação não somente dentro do Fórum, mas também fora de
seu gabinete. Com apoio de um grupo de parceiros, a Juíza tem realizado
um importante trabalho junto à comunidade santarena.
Para ela, é bastante preocupante o
aumento de casos, onde a mulher sofre diversos tipos de violência.
Porém, muito mais alarmante é o fato desses números serem, infelizmente,
aquém da realidade, pois muitas vítimas não têm coragem de denunciar.
“O que a gente percebe é que há um
aumento, infelizmente, desses atos de violência doméstica e familiar
contra mulher. Para você ter uma ideia, somente na Vara de Violência
Doméstica de Santarém, nós temos em torno de 3 mil processos em
andamento. Por semana, nós temos 20 pedidos de medidas protetivas contra
a mulher. E esse número a gente acredita que seja pequeno, porque
muitas têm medo e não conseguem chegar até a Delegacia, até o Judiciário
para cobrar os seus direitos, com receio da represália do companheiro.
Então, realmente é um dado preocupante, mas que nós estamos tentando
fazer atos que venham prevenir esse tipo de atitude no relacionamento
dos casais. É importante ressaltarmos, que nós não podemos trabalhar
somente com as mulheres, as mulheres têm sim que ser trabalhadas, elas
são vítimas na maioria das vezes, mas o homem também tem que ser
trabalhado. Nós não podemos trabalhar somente com uma parte da relação, é
unilateral. Um relacionamento para que se tenha harmonia, é necessário
que as duas partes tenham essa consciência. Da importância da harmonia
dentro de casa. Por isso a grandeza de se trabalhar com o grupo de
homens. Esses homens também têm de ter resgatada a sua dignidade. Por
algum motivo esses homens estão agindo assim. O que a gente percebe, é
que os atos de violência doméstica e familiar contra a mulher, não é um
problema só judicial. É um problema mais profundo, social. É um problema
de relacionamento. Então, não adianta a Justiça somente determinar uma
medida protetiva, ou uma prisão preventiva, se isso não for trabalhado.
Essas pessoas retornarão, em um momento posterior, com o mesmo
problema”, explica a Doutora Célia Bedin.
Em 2017, dois acontecimentos ligados à
temática repercutiram em Santarém. O primeiro foi referente ao
julgamento e condenação do réu acusado de feminicídio contra sua
ex-companheira. O segundo foi o bárbaro crime, onde o filho matou a
própria mãe.
Segundo a Magistrada, esses casos
refletem o preocupante cenário enfrentado pela mulher. “Os homens cada
vez mais se sentem superiores à mulher pensando de uma forma errada;
acham que podem agredir e chegam ao ponto de matar uma mulher. O número
de feminicídio tem aumentado em todo País. Então, o que nós estamos
buscando é justamente prevenir para que homem e mulher consigam entender
melhor a relação em que eles estão envolvidos e consigam se afastar
desse grande número de agressões contra a mulher”, diz a Magistrada.
PALESTRAS: De modo
incansável, Dra. Célia Bedin tem contribuído de forma contundente em
relação à problemática. Com o objetivo de trabalhar a prevenção, ela
realiza palestras em eventos e escolas.
No último de 24 de março, ela proferiu
palestra na aula inaugural do 1º Curso de Motopatrulhamento, realizado
pelo Comando de Policiamento Regional I. Na palestra para os militares,
ela abordou o tema: ‘Interação entre o Judiciário e a Polícia Militar no
tocante à atuação preventiva em ocorrências envolvendo violência
doméstica’.
“Nesta palestra aos militares, nós
falamos a respeito da interação do Poder Judiciário com a Polícia
Militar, na prevenção dos crimes contra mulher. Essa interação é de suma
importância, porque os policiais é que fazem o primeiro atendimento à
mulher, e eles têm de estar preparados e conscientes da violência que a
vítima sofreu, dessa agressão que destrói vidas e famílias. Enfim, é de
suma importância que eles se capacitem e que entendam melhor o que é a
violência doméstica familiar contra mulher”, informou a Magistrada.
Dentro do planejamento do trabalho, Dra.
Célia Bedin também visita escolas do Município. “Nós desenvolvemos um
projeto que é levar palestras aos professores, aos alunos e aos pais de
alunos. Nessa palestra, deixamos claro os tipos de violências, as
consequências que o homem sofre quando ele pratica qualquer tipo de
violência contra a mulher. Eu sempre digo que não devemos apenas
proteger a mulher e punir o homem, temos que proteger os dois, sempre
trabalhando e conscientizando que a relação deles interfere em toda
família e na criação dos filhos e assim conseguiremos diminuir esse
número de agressões contra a mulher. As palestras nas escolas, são
justamente para levar a informação e conscientizar homem e mulher da
forma como eles devem se relacionar. Sabemos que o relacionamento entre
homem e mulher é algo complexo, mas temos que tentar fazer com que eles
entendam que o diálogo é sempre a melhor saída”, afirma a Juíza.
Por: Edmundo Baía Júnior
Fonte: RG 15/O Impacto