sexta-feira, 9 de junho de 2017

Denúncia – Empresas transformam igarapé do Irurá em esgoto



Em dias de chuva o leito do igarapé do Irurá é invadido por lixo e lama

Considerado por biólogos o principal manancial da zona urbana de Santarém, o Igarapé do Irurá vive dias difíceis. Quem se dirige ao local constata o avançado nível de assoreamento do leito, contaminação das águas e retirada da mata ciliar por funcionários de grandes empresas e proprietários de imóveis.

Moradores tradicionais reclamam que após a instalação das empresas Transporte Bertolini Ltda (TBL) e uma madeireira, às margens do igarapé, o problema de degradação avançou. Em dias de chuva, segundo os moradores, o manancial se transforma em um gigantesco esgoto, por conta de lixo e lama tomarem conta do local, transformando o leito em água barrenta, onde antes era cristalina.

Peixes e plantas nativas das margens do manancial, de acordo com os moradores, entraram em processo de extinção. Moradores do bairro Cambuquira contam que há cerca de 15 anos as águas do Irurá eram cristalinas, onde além de servir para a prática da pesca de peixes de algumas espécies, como traíra, mandií e jatuarana, também era usada para beber, lavar roupas e tomar banho.

Hoje, os comunitários lamentam a contaminação do manancial e cobram soluções por parte das omissas secretarias municipal e estadual de Meio Ambiente, do Ibama, da Comissão de Meio Ambiente da Câmara Municipal de Santarém e do órgão gestor do Município.

Entre os problemas apontados por famílias do bairro Cambuquira estão grandes valas construídas pela empresa Bertolini que levam diretamente ao leito do Irurá, lixo e lama. Já a madeireira é acusada de poluir o igarapé com resíduos de madeira. Os moradores desconfiam, ainda, que o cloro da piscina do Sest/Senat esteja sendo jorrado diretamente no Irurá.

Já os moradores do bairro Santarenzinho denunciam que aterro e lixo de várias ruas do bairro estão sendo levados pela enxurrada para dentro do manancial. Hoje, o trecho localizado próximo à ponte da Toca da Raposa se encontra em avançado estado de soterramento. Lama, areia e muito entulho podem ser constatados no local.

Para a população, os verdadeiros crimes ambientais vêm acontecendo de forma natural e bem à vista das autoridades de Santarém. Um exemplo deste problema fica na Toca da Raposa, na Grande Área do Santarenzinho, onde dezenas de residências foram construídas às margens do Irurá, contribuindo para a poluição do recurso hídrico.

O Irurá fica localizado às margens da rodovia Santarém-Cuiabá (BR-163), onde banha diversos bairros de Santarém, entre eles, Cambuquira, Matinha, Santarenzinho e Esperança, desaguando no Lago do Papucu, no Mapiri. Por conta de atingir diretamente grande parte da população de Santarém, um dos problemas debatidos por ambientalistas é a questão da poluição das águas.

Segundo eles, o lençol freático também poderá ser contaminado, caso a degradação do leito do Irurá continue.

Os biólogos alertam que se isso acontecer, muitas famílias de Santarém sofrerão as consequências, por conta da principal unidade de capitação de água da Companhia de Saneamento do Pará (Cosanpa), se localizar às margens do Irurá, no bairro da Esperança.

RECUPERAÇÃO DO IGARAPÉ DO URUMARI: A Prefeitura de Santarém, por meio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma), e Fundo de Integração da Amazônia (Fiam), da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), assinaram um contrato para início dos estudos que vão apontar os problemas ambientais e as ações a serem tomadas para recuperação do Igarapé do Urumari.

Diego Ramos, que há 10 anos atua no movimento social Comitê em Defesa do Urumari, afirma que o estudo é uma grande conquista para as questões ambientais, não só da população que mora ao longo do Igarapé, como da cidade inteira. “É um marco histórico. Estamos nessa luta em defesa do igarapé, enfrentamos muitas dificuldades, já fizemos muitas atividades para a sensibilização dos moradores, mas agora contamos com a participação das universidades, do poder público, e isso vai fortalecer ainda mais na preservação dos recursos naturais do Urumari”, destacou Diego Ramos.

O professor e doutor em Engenharia Química da Ufopa Lucenildo Moura, explicou que a pesquisa se estenderá durante 36 meses realizando um levantamento socioambiental. “Vamos fazer um levantamento da área, fazer um trabalho de diagnóstico, análises laboratoriais, pesquisas de campo, a fim de identificar áreas ocupadas, verificar como estão as matas impactadas e bioindicadores que, dentro das suas linhas de pesquisas, vão poder identificar as ações para o governo atuar”, informou o pesquisador.

Por: Jefferson Miranda