quinta-feira, 29 de junho de 2017

Renan deixa liderança do PMDB, critica “postura covarde” de Temer e diz que Cunha governa


Jefferson Rudy/Agência Senado
Renan voltou a dizer que Cunha influencia governo de Temer

Um dos principais líderes do PMDB nos últimos anos, o senador Renan Calheiro (PMDB-AL) acaba de anunciar sua saída da liderança do PMDB no Senado (leia abaixo a íntegra do pronunciamento). Reiterando as firmes críticas que tem feito, nos últimos meses, à gestão de Michel Temer na Presidência da República, Renan disse que o governo do colega de partido se transformou em um ambiente de chantagens, “perseguindo parlamentares que não rezam a cartilha governamental”. E foi além: disse que o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) comanda o país com Temer, mesmo preso e condenado por envolvimento na Operação Lava Jato.
Temer governa o país com presidiário de Curitiba, diz Renan em plenário; veja o vídeo
“Como mudar o pensamento de um governo comandado por Eduardo Cunha, que, mesmo na prisão, seguia influenciando e – os fatos demonstram – até recebendo dinheiro? Até recebendo dinheiro!”, fustigou Renan, referindo-se à acusação de que Temer atuou para comprar o silêncio de Cunha, segundo denúncia em curso no Supremo Tribunal Federal com base na delação premiada do Grupo JBS. O ex-deputado do PMDB foi um dos principais aliados de Temer até ser preso, em outubro passado. Cunha foi condenado a 15 anos e quatro meses de prisão, na primeira das ações a que responde na Justiça.
“Estou me libertando de uma âncora pesada e injusta. Não trairei os trabalhadores e os aposentados, encalçados por uma agenda única, que transfere a carga para os mais pobres porque para isso não fui eleito”, reclamou o senador, aproveitando para reforçar os protestos contra as reformas trabalhista e previdenciária, duas das principais apostas de Temer para tentar superar a mais grave crise de sua gestão.
“Não tenho a menor vocação para marionete. O governo não tem credibilidade para conduzir essas reformas exageradas, desproporcionais, que antes de resolver o problema agravam a questão social”, acrescentou, passando a se referir ao próprio Temer e sua “postura covarde”. “Sinceramente, não detesto Michel Temer. Não é verdade o que dizem, longe disso. Longe disso. Não tolero é a sua postura covarde diante do desmonte da consolidação do trabalho. A situação econômica e política do país é gravíssima. Todos os dias vemos o aprofundamento do caos”, vociferou.
Tendência
Renan se antecipou a uma possível mudança de decisão da bancada de seu partido, optando por destituí-lo. Ontem (terça, 27), o Senado presenciou mais uma rodada de troca de farpas contra e pró-Temer entre os peemedebistas Renan e o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), um dos principais fiadores da gestão Temer. Após ameaçar usar a posição de líder do partido para trocar membros da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que vota hoje (28) a reforma trabalhista, Jucá citou acordo feito durante reunião da bancada. Renan, contudo, não alterou nenhum membro do colegiado.
Na sessão plenária de ontem (terça, 27), o senador alagoano não poupou críticas ao governo, como tem feito a meses, e o acusou de ser “influenciado por um presidiário de Curitiba”, referência clara ao ex-deputado Eduardo Cunha. Era a tréplica do alagoano, que rebatia a manifestação de Romero Jucá.

Jonas Pereira/Agência Senado
Ontem (terça, 27), duelo verbal entre Renan e Jucá (ao microfone) sinalizou que a mudança no comando da bancada era irreversível
 O líder do governo no Senado fez a defesa das reformas do governo após Renan usar seu tempo de fala para criticar a reforma trabalhista, pedindo que o presidente da Casa, Eunício Oliveira (PMDB-CE), tomasse alguma providência em relação à reforma, ou o Senado teria de ver “essa gente fingindo que está governando o país”. Afirmou ainda que Temer, primeiro presidente formalmente denunciado por crime comum no exercício do mandato, não tem legitimidade para governar o país. Depois que Renan ameaçou fazer trocas de membro da CCJ, que vota hoje (quarta, 28) relatório da reforma trabalhista de autoria do próprio Jucá, o líder do governo não deixou a ameaça por menos. “Estranho essa posição de ele dizer que vai mudar os membros [CCJ], porque nós fizemos uma reunião de bancada e, por 17 a 5, definimos que apoiaríamos a reforma e que as coisas ficariam como estão. Se vossa excelência muda de posição, isso nos dá a condição de mudar também [o comando partidário], porque nós fizemos um pacto, demos a palavra. E a minha palavra vale! Quando eu dou, eu cumpro. Pode chover canivete”, declarou Jucá.