
Psicóloga Klaudia Yared fala porque a doença será a mais incapacitante do mundo
Na semana em que se comemorou o Dia do
Psicólogo, nossa reportagem conversou com a psicóloga Klaudia Yared
Sadala, sobre a depressão. A doença às vezes é incompreendida até mesmo
pelos familiares dos pacientes, e continua sendo tabu e alvo de
preconceito da sociedade. No entanto, com a evolução das pesquisas, o
diagnóstico tem sido mais preciso, e consequentemente o tratamento com
terapias diversas e medicamentoso tem alcançado resultados positivos.
Se por um lado se avançou no tratamento,
por outro a realidade é triste e cruel. Sem o devido acompanhamento por
especialistas, como o psicólogo, os portadores da depressão aumentam as
estatísticas de casos de suicídios.
“Sobre a depressão, a gente tem
identificado estatísticas muito alarmantes, e é a própria Organização
Mundial de Saúde que cita que até 2020, a perspectiva é que a gente
tenha aproximadamente um número tão grande de pessoas acometidas por
depressão, que ela pode vir a ser uma das doenças ou a doença mais
incapacitante no mundo. Aqui no Brasil a estatística nos mostra que
temos aproximadamente 11 milhões de pessoas sofrendo de depressão, que é
um transtorno de humor. O manual de diagnóstico de psiquiatria a
identifica e qualifica como um transtorno de humor, e ela, assim como
outras doenças, dentro deste componente da psiquiatria, tem alguns
níveis. Temos a depressão leve, moderada e a depressão maior, que é
quando esses sintomas já estão muito presentes e passam também a
incapacitar as pessoas para o trabalho, para o estudo e para relações
sociais. Alguns sintomas importantes para ficarmos atentos a essas
questões, a gente costuma dizer que a depressão é uma doença silenciosa
porque ela vai chegando perto e às vezes nós não percebemos esses
pequenos sinais. Então, alguns pequenos sinais que ela começa a trazer,
alterações no sono, na vigília, alterações de peso, e uma dificuldade em
realizar tarefas que antes eram muito simples. Outros sintomas, são a
desmotivação, a sensação de incapacidade, o sentimento muitas vezes de
desesperança. Você às vezes não identifica que existam possibilidades
para sair de alguma situação de conflito, seja conjugal, familiar,
dificuldades no trabalho, dificuldade na faculdade. Então, você tem uma
sensação de que não tem mais forças para estar agindo diante daquele
problema e daquela dificuldade. Tem um outro sentimento importante na
depressão, que é a sensação de vazio, a existência da tristeza
permanente, o choro fácil, ou seja, você se emociona frequentemente com
coisas que antes para você não lhe despertava tanta sensibilidade. Algo
importante também até para a gente não achar que tudo o que for tristeza
é depressão: Sentir tristeza, sentir dificuldade em resolver algum
problema, se isso for esporádico, não deve ser encarado como depressão,
como uma doença ou como algo que você já esteja ali desenvolvendo. Mas é
uma atenção, se você está frequentemente triste, frequentemente
sentindo vontade de chorar, se isolando das suas relações sociais, onde
você antes frequentava com facilidade ambientes de lazer, locais da
nossa região como as praias, frequentava outras atividades de trabalho
com muita facilidade e hoje isso já te traz muita dificuldade, então,
você precisa ter atenção. Esses sintomas, como eu coloquei
anteriormente, iniciam de maneira um pouco silenciosa, mas eles vão
começando a prejudicar a rotina. Eles vão te impossibilitando de
realizar atividades de trabalho, coisas que você anteriormente resolvia
com facilidade, e hoje você sente muita dificuldade em resolver”,
explica a psicóloga.
SEM DISTINÇÃO: A
depressão afeta pessoas de todas as classes sociais, sem distinção. Para
os especialistas, nem as condições tidas como desejáveis por muitas
pessoas, como riqueza, juventude e beleza, são capazes de evitar o
acometimento da doença.
“A depressão não tem uma especificidade
no sentido de alguém que tem um grande nível intelectual ou, então,
alguém que tem grande padrão de vida financeira, não vai ter depressão.
Ela acomete crianças, adolescentes, adultos e idosos de todas as classes
sociais, de todos os locais do mundo. São experiências vividas,
experiências difíceis, algo que aquela pessoa não consegue mais ter
recursos emocionais para gerenciar e às vezes são acúmulos de situações
que você não vai resolvendo, que você vai só fingindo que está tudo
certo e em determinado momento isso vem para você resolver de alguma
forma. Tem coisas, com o luto, ou seja, pessoas que entram em depressão
por luto, perda de pessoas queridas, cônjuge, filhos, pais, às vezes tem
pessoas que perderam várias parentes em um único ano; trata-se de um
peso muito grande para que você desenvolva um processo depressivo
também”, diz KlaudiaYared.
SUICÍDIO LATENTE: A
perda da vontade de viver e conflitos relacionados com a falta de
resolutividade de problemas podem fazer com que o paciente chegue ao ato
extremo de tirar a própria vida
“Temos índices alarmantes de suicídios
no Brasil e no mundo. O suicídio tornou-se hoje a oitava causa de morte
no nosso País e os índices de algumas regiões são bem alarmantes, não só
no Brasil como também no mundo. Já virou um caso de saúde pública,
assim como a depressão. A depressão é uma doença que não é obrigatória
você notificar, mas o suicídio sim, então, a gente tem muito mais acesso
ao número de suicídios ou tentativa de suicídios do que exatamente o
número de casos de pessoas que convivem com a depressão. Porém, os
suicídios demonstram a quantidade de pessoas que podem estar sofrendo
com essa doença. Muitas pessoas não chegam ao tratamento por conta do
tabu e do preconceito, por acharem que o que elas sentem não é realmente
um processo de adoecimento. Acham que o que elas sentem é uma coisa que
vai passar, uma bobagem. Às vezes recebem críticas da família dizendo
que é preguiça, que uma hora vai passar, que ela precisa arranjar um
trabalho, que ela precisa mudar seu pensamento. Isso não é verdade. A
depressão incapacita, a ponto de você realmente não conseguir realizar
atividades e isso não é justificado como uma preguiça ou uma falta de
vontade espontânea”, expõe Yared.
TRATAMENTO: Uma vez
realizado o diagnóstico, no que se refere ao sistema de saúde pública,
existe uma rede responsável por realizar estes atendimentos.
“Temos as Unidades Básicas de Saúde
espalhadas em todos os bairros de Santarém. Temos o CRAS que possui
outros equipamentos, que embora sejam de assistência social, mas há
psicólogos que podem estar ajudando a pessoa a compreender o que ela
sente. Na Unidade Básica de Saúde contamos com os enfermeiros, e quando
eles detectam que existem sinais importantes, geralmente encaminham para
o CAPS II, que é o Centro de Atenção Piscossocial, trata-se de um
centro especializado em psiquiatra onde nós temos uma equipe
multidisciplinar que irá atender esse paciente. Quando alguém está em
processo de adoecimento, também precisa de apoio familiar, ou seja, a
família precisa vir junto para receber essas orientações. No CAPS temos
uma avaliação mais especializada com médicos psiquiatras e outros
profissionais da saúde mental, como enfermeiros, nutricionistas,
psicólogos, terapeutas ocupacionais, assistente social. Poucos casos de
depressão levam à internação, o tratamento é feito em frequentar um
centro de saúde como o CAPS e você vai e volta para casa recebendo
orientações. Se precisar de medicações, você pode a fazer uso na sua
casa, poucos casos são levados à internação. Mesmo quando o paciente tem
muitos comprometimentos a nível fisiológico, alteração do sono, baixo
peso, dificuldade como alimentação, o mesmo já chega no nível muito
grave onde ele realmente não consegue prover a sua própria alimentação e
não tem ninguém que possa estar também provendo e dando esse apoio a
ele. Com relação aos sintomas da depressão entre os adolescentes,
costumamos pensar que é alguém que está deprimido, alguém que está só
choroso ou só melancólico, e não é. A depressão nos adolescentes também
acontece com irritabilidade, intolerância, aquele adolescente que deseja
ficar mais isolado e um outro fenômeno extremamente importante, não só
no Brasil, mas mundialmente, é automutilação. A depressão gera muitos
casos na adolescência de automutilação. Aqui no CAPS temos um número
considerável de meninos de 14 a 22 anos, adolescentes e jovens que
cometem automutilação, ou seja, eles realizam cortes no seu próprio
corpo, às vezes no braço, às vezes na perna e em outras partes do corpo
como uma forma de aliviar a dor que eles sentem em função do processo
depressivo. Então, isso não é para chamar atenção, não é bobagem ou
brincadeira, é algo para se ter muito cuidado, muita cautela e sempre
que os pais identificarem essas questões, principalmente da
automutilação, devem procurar com urgência um profissional especializado
em saúde mental. Para qualquer informação ou ajuda o CAPS está
localizado na Travessa Dom Amando, entre a Borges Leal e Marechal
Rondon”, finaliza a psicóloga Klaudia Yared Sadala.
Por: Allan Patrick
Fonte: RG 15/O Impacto