
A fragmentada campanha presidencial será prorrogada por mais
20 dias com Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT). Pouco depois
das 19h, com a primeira parcial da corrida ao Palácio do Planalto, a
radiografia dos votos do capitão reformado no país mostrava que, por
pouco menos de quatro pontos percentuais, a eleição iria para o segundo
turno, uma incógnita para os eleitores de todos os partidos ao longo do
dia. A polarização deixou pelo caminho Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin
(PSDB), João Amoêdo (Novo), Cabo Daciolo (Patriotas), Henrique
Meirelles (MDB), Marina Silva (Rede), Alvaro Dias (Podemos) e Guilherme
Boulos (Psol).
Os números de Bolsonaro — quase 50 milhões de votos — o colocam
como favorito na disputa, mas a campanha de segundo turno apresenta
novos desafios, zerando o jogo em relação às alianças, ao tempo de
televisão e aos debates, em paralelo às redes sociais. Às 21h30 de
ontem, Ciro Gomes (13 milhões de votos) afirmou: “Minha história é a
favor da democracia e contra o fascismo. Ele (Bolsonaro) não, com
certeza”. A referência era um aceno a Haddad, que ontem recebeu cerca de
30 milhões de votos. O presidenciável do PSL deve ganhar o apoio da
sigla de Amoêdo, que teve 2,6 milhões de votos.
A largada de Bolsonaro o leva, agora, à campanha mais tradicional. O
primeiro lance é a contratação de um marqueteiro oficial e o aumento da
equipe para uma eventual formação de ministério. Ele fez ontem um
pronunciamento no Facebook ao lado de Paulo Guedes, que será o titular
da Fazenda caso a chapa do PSL seja a vencedora. Ele também atacou as
urnas eletrônicas, como já havia feito anteriormente. Disse que só não
foi eleito presidente ontem por falhas nos aparelhos, sem especificar
quais.
“Não podemos nos recolher. Vamos juntos ao TSE (Tribunal Superior
Eleitoral) exigir soluções para isso que aconteceu. Foi muita coisa.
Tenho certeza que, se esse problema não tivesse ocorrido, se tivesse
confiança no sistema eletrônico, já teríamos o nome do novo presidente. O
que está em jogo é a liberdade”, disse o deputado federal do PSL
fluminense. Ele alertou para o fato de que, embora esteja em vantagem
numérica, a disputa está longe de ser garantida. “Não vai ser fácil esse
segundo turno. Eles têm bilhões para gastar”, alertou. E fez um aceno
especial aos nordestinos, que deram vitória a Haddad no primeiro turno.
“O que eu quero para o Nordeste é que uma região que, através do seu
povo humilde, conservador e trabalhador, fique livre da mentira, fique
longe da coação que sempre existe por parte do PT.”
Ponto fraco
Para o cientista político Leonardo Barreto, da consultoria Factual,
Bolsonaro corre o risco de perder votos caso insista na falta de
confiabilidade das urnas eletrônicas. “O eleitor pode vê-lo como mau
perdedor”. Na avaliação de Antônio Augusto de Queiroz, diretor de
Planejamento do Departamento Intersindical de Análise Parlamentar
(Diap), embora a vantagem do candidato do PSL seja muito grande em
relação ao petista, novos fatores vão entrar nessa nova fase eleitoral.
“A campanha foi muito baseada na emoção, em questões de costumes.
Bolsonaro não apresentou propostas até agora. No segundo turno, se
continuar assim, pode até mesmo perder a preferência de pessoas que
votaram nele”, afirmou. Em pronunciamento após a definição do segundo
turno, Haddad disse que o segundo turno será “oportunidade de ouro”.
“Vamos discutir frente a frente, sem medo de ser feliz”, disse,
acompanhado de palmas e manifestações de apoiadores. O ex-prefeito de
São Paulo fez agradecimentos à família, aos eleitores e ao padrinho
político, Luiz Inácio Lula da Silva.
Os dois candidatos estarão de olho também nas pessoas que não foram
votar, ou que votaram em branco ou nulo. As abstenções somaram 20,32%
do eleitorado em todo o país, um total de 29,6 milhões de votos. É algo
próximo do que teve Haddad. Os eleitores que foram às urnas, mas
decidiram invalidar a opção para presidente são 10,3 milhões (7,2
milhões de nulos e 3,1 milhões em branco), respectivamente 6,14% e
2,65%.
O mapa da votação revela que Bolsonaro ganhou em praticamente todos
os estados do Centro-Oeste — ele conquistou 58,37% dos eleitores no
Distrito Federal —, Sudeste e Sul, incluindo aí os três maiores colégios
eleitorais: São Paulo, Minas e Rio de Janeiro. Hadadd ficou com a parte
Norte e Nordeste, onde a Bahia está no quarto lugar no número de
eleitores. A diferença levou a referências preconceituosas e de ódio
contra habitantes das duas regiões, postados em redes sociais.
Nas redes
Dados da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da FGV
(Dapp/FGV) mostram que Bolsonaro teve 2,6 milhões de menções no Twitter,
o dobro do registrado por Ciro e quase 10 vezes mais das referências ao
petista Haddad. O pico do capitão reformado ocorreu às 18h, uma hora
antes da abertura das urnas. Naquele momento, com os números de alguns
estados abertos, analistas chegaram a levantar a possibilidade de
vitória do capitão no primeiro turno, por causa de votações expressivas
de candidatos a governos estaduais que receberam apoio do presidenciável
do PSL.
A força de Bolsonaro pôde ser medida também na eleição para a
Câmara dos Deputados. O PSL saiu de um eleito, em 2014, para 51 ontem.
Enquanto isso, o PT elegeu 13 políticos a menos, ficando com 57. O MDB
perdeu a metade, restando 33. Os tucanos viram sumir 24 cadeiras. Além
do PSL, quem também cresceu foi o DEM, ficando com cinco vagas a mais se
comparado com a performance de quatro anos atrás.
No Brasil
Jair Bolsonaro
46,03%
Fernando Haddad
29,28%
Ciro Gomes
12,47%
ACRE
Jair Bolsonaro 62,27%
Fernando Haddad 18,55%
Geraldo Alckmin 7,81%
ALAGOAS
Fernando Haddad 44,77%
Jair Bolsonaro 34,39%
Ciro Gomes 10,12%
AMAPÁ
Jair Bolsonaro 40,74%
Fernando Haddad 32,77%
Ciro Gomes 12,34%
AMAZONAS
Jair Bolsonaro 43,53%
Fernando Haddad 40,24%
Ciro Gomes 7,5%
BAHIA
Fernando Haddad 60,12%
Jair Bolsonaro 23,51%
Ciro Gomes 9,46%
CEARÁ
Ciro Gomes 40,96%
Fernando Haddad 33,11%
Jair Bolsonaro 21,75%
DISTRITO FEDERAL
Jair Bolsonaro 58,37%
Ciro Gomes 16,6%
Fernando Haddad 11,87%
ESPÍRITO SANTO
Jair Bolsonaro 54,76%
Fernando Haddad 24,2%
Ciro Gomes 9,54%
GOIÁS
Jair Bolsonaro 57,24%
Fernando Haddad 21,86%
Ciro Gomes 8,6%
MARANHÃO
Fernando Haddad 61,09%
Jair Bolsonaro 24,4%
Ciro Gomes 8,42%
MATO GROSSO
Jair Bolsonaro 60,04%
Fernando Haddad 24,76%
Ciro Gomes 5,59%
MATO GROSSO DO SUL
Jair Bolsonaro 55,06%
Fernando Haddad 23,87%
Ciro Gomes 8,04%
MINAS GERAIS
Jair Bolsonaro 48,31%
Fernando Haddad 27,65%
Ciro Gomes 11,64%
PARÁ
Fernando Haddad 41,36%
Jair Bolsonaro 36,22%
Ciro Gomes 10,03%
PARAÍBA
Fernando Haddad 45,46%
Jair Bolsonaro 31,3%
Ciro Gomes 16,75%
PARANÁ
Jair Bolsonaro 56,89%
Fernando Haddad 19,7%
Ciro Gomes 8,31%
PERNAMBUCO
Fernando Haddad 48,86%
Jair Bolsonaro 30,58%
Ciro Gomes 13,56%
PIAUÍ
Fernando Haddad 63,38%
Jair Bolsonaro 18,78%
Ciro Gomes 11,43%
RIO DE JANEIRO
Jair Bolsonaro 59,79%
Ciro Gomes 15,22%
Fernando Haddad 14,69%
RIO GRANDE DO NORTE
Fernando Haddad 41,19%
Jair Bolsonaro 30,21%
Ciro Gomes 22,31%
RIO GRANDE DO SUL
Jair Bolsonaro 52,63%
Fernando Haddad 22,81%
Ciro Gomes 11,37%
RONDÔNIA
Jair Bolsonaro 62,24%
Fernando Haddad 20,36%
Ciro Gomes 6,03%
RORAIMA
Jair Bolsonaro 62,92%
Fernando Haddad 17,93%
Geraldo Alckmin 6,92%
SANTA CATARINA
Jair Bolsonaro 65,82%
Fernando Haddad 15,13%
Ciro Gomes 6,68%
SÃO PAULO
Jair Bolsonaro 53,02%
Fernando Haddad 16,39%
Ciro Gomes 11,35%
SERGIPE
Fernando Haddad 50,09%
Jair Bolsonaro 27,21%
Ciro Gomes 13,02%
TOCANTINS
Jair Bolsonaro 44,64%
Fernando Haddad 41,12%
Ciro Gomes 7,17%