terça-feira, 10 de março de 2020

Amazônia e desenvolvimento

Por Everaldo Martins Neto
Há alguns anos era consenso a necessidade de proteger a floresta. Agora, parece que é cada vez maior o número de “defensores” do desmatamento. Não há dúvidas que estes defensores foram introduzidos ao argumento de que regulamentações ambientais – e manter a floresta em pé no geral – de alguma forma atrapalham o desenvolvimento econômico da região e do país. Meu objetivo com este texto é contrapor esta abordagem.
Esta discussão se intensificou bastante nas últimas décadas, quando ficou evidente que boa parte do desenvolvimento econômico que vários países do mundo sustentaram, foi às custas da destruição quase que total da biodiversidade e recursos naturais do planeta. O debate é difícil, mas nós, como sociedade, já encontramos algumas respostas.
Não vou argumentar que é possível um crescimento econômico mantendo a floresta em pé. Açaí gira mais a economia do que soja. Creio que seja possível, mas deixo para outra oportunidade. Ao invés disso, pretendo focar em uma abordagem a longo prazo.
Primeiro, é verdade que, a curto prazo, a economia não vai crescer protegendo o meio ambiente. É muito mais barato desmatar do que regular. Também é verdade que muitas indústrias dependem do desmatamento – lê-se: empregos. Porém, existe um ponto cego nessa análise, que é bastante comum de se ouvir em debates na minha área, de Relações Internacionais: os atuais padrões de medida de crescimento econômico não são mais suficientes para medir a prosperidade de um país ou de um povo.
Isto vem da economia clássica: se a renda de uma nação aumenta, aumenta também a sua riqueza. Ou seja, todos ficamos com mais poder de compra. Durante a Revolução Industrial, quando países de economia de mercado triunfaram, essa lógica ficou bastante famosa. Em 2020, porém, ela está extremamente equivocada. Essencialmente, padrões de medida como a bolsa de valores e PIB medem uma “economia” de concentração de renda que a maioria esmagadora da população não detém. Além disso, não leva em consideração variáveis como bem estar e claro, o meio ambiente.
Acontece que, como sabemos, nossos recursos não são infinitos. Quando acabarem – como estão acabando em vários lugares do mundo – vamos sofrer consequências duríssimas: migrações em massa, guerras, poluição desenfreada e muito provavelmente a criação de gangues e milícias que tentarão ter o monopólio sobre a distribuição dos recursos que sobrarem – mais uma vez, como acontece em várias partes do mundo.
Mas nós temos a Amazônia e o Tapajós. Ainda há tempo, mas não muito. Precisamos, como cidadãos, aprender e estudar o que os cientistas estão dizendo sobre a atual situação da floresta. A biodiversidade vale mais para nós do que carne e soja. É preciso, imediatamente, cobrar das autoridades que desenvolvam planos para encontrar um meio termo entre este desenvolvimento a qualquer custo e a proteção dos nossos riquíssimos recursos naturais.

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