Quem teria a ousadia de investir uma fortuna milionária em Santarém, no coração da Amazônia?

Em 1950, Arnaldo Paoliello, recém-formado em arquitetura pela Mackenzie em São Paulo, saía da faculdade carregando consigo o diploma que o prepararia para desenhar uma das mais belas obras modernas de sua vida. Durante duas décadas, segurou firme em seu lápis, papel e borracha, dedicando altas horas da madrugada a rabiscos que se transformariam em curvas, linhas e medições geniais. Suas criações ainda ecoam na memória dos mais antigos, apesar de esquecidas por alguns de nós. Mas tenho a história para relembrá-los. Vamos lá!

Na década de 60 para 70, nas primeiras horas da manhã em seu escritório, Arnaldo recebeu um telefonema que mudaria sua vida. Era o presidente da antiga Varig, poderosa companhia 100% brasileira de aviação na época. Agora, era a vez de Arnaldo fazer parte do projeto “Integração Amazônica”. Um desafio do governo e da elite local para modernizar o Norte do país. A missão do arquiteto era criar um projeto arquitetônico para a Companhia Tropical de Hotéis, subsidiária da Varig. Foi no período da ditadura militar que a Amazônia recebeu seus primeiros incentivos para o turismo, transformando a região próspera, exuberante e rica.

A construção envolveu principalmente operários de Brasília e do Tapajós, com trabalhos artísticos de artesãos locais em sua esplêndida decoração, que perdura até os dias de hoje. Com o governo brasileiro facilitando investimentos privados por meio de incentivos fiscais, as empresas não apenas cresciam, mas também geravam empregos. O então Presidente da República, Médici, exigiu que o presidente da Varig incluísse no projeto uma suíte presidencial e 30 quartos para membros de sua equipe. Mãos à obra! Dia e noite, sob chuva e sol, os homens se dedicaram a concluir um “Resort na selva tropical”. Queriam a edificação luxuosa pronta o mais rápido possível para apresentá-la ao mundo, mostrando a visibilidade da Amazônia e que era possível construir e preservar sem maltratar a natureza e sua biodiversidade.

Faltavam poucos dias para a noite de festa social quando Arnaldo percebeu que havia desenhado uma verdadeira obra-prima entre as duas metrópoles, Manaus e Belém, que não deixava a desejar para nenhum outro hotel de grande porte na Europa. Às vezes, ao adentrarmos e olharmos um simples corredor, uma sala curvada, uma piscina rodeada por uma mini floresta, pensamos que é apenas mais um entre vários onde iremos dormir! Nada disso. Quando tocamos e sentimos a vida que aquele lugar nos traz, percebemos que é diferente, o verdadeiro valor sentimental da criação do homem ou da mulher está em sua sensibilidade. Talvez, quando Arnaldo soube que os dois presidentes não foram para a festa de inauguração, tenha ficado triste. Mas temos a certeza de que deixou um símbolo de missão cumprida em Santarém, na Pérola do Tapajós.

Era 31 de julho de 1973, o sol raiava e os pássaros bem-te-vi, em vez de cantarolarem, anunciavam a hora em que as autoridades teriam que cortar a faixa de inauguração da chegada do Tropical Hotel, de estilo curvado, com vistas e varandas de frente para o incrível rio Tapajós. Na festa estavam presentes ministros, moradores e todos os convidados para subirem a rampa e contemplarem a beleza arquitetada por Arnaldo Paoliello. Não sabemos os valores que foram gastos no Tropical, hoje com o nome de Barrudada Hotel, mas podemos dizer que foram alguns milhões de cruzeiros, antes do real.

POR - PAULO BARRUDADA

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