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sábado, 7 de fevereiro de 2009

Leia com atenção...


O castelo da vergonha
Revista ÉPOCA

Na semana passada, o Congresso Nacional fez o país andar para trás em tamanha velocidade que, em poucos dias, conseguiu transformar um castelo inspirado na arquitetura das monarquias absolutistas do século XVIII no símbolo mais recente da atrasada política de Brasília. Localizado na Zona da Mata mineira, ele é propriedade do deputado Edmar Moreira (DEM-MG). Edmar enriqueceu com empresas privadas de segurança e fez carreira no Congresso com a oferta de proteção a políticos sob investigação. Seu Castelo Monalisa é um retrato em aço, concreto e 36 banheiras de hidromassagem das mazelas que envergonham um país que, desde a Constituição de 1988, tenta e não consegue modernizar seus costumes políticos.Com 36 suítes, adega para 8 mil garrafas, piscinas com cascata e diversos elevadores, o castelo está à venda por R$ 25 milhões. Seu valor foi reduzido para R$ 3 milhões na declaração do membro da família que se apresenta como proprietário formal do imóvel. Por causa de calotes trabalhistas e acusações de apropriação indébita de recursos destinados ao INSS, Edmar é alvo de uma ação que poderá determinar o bloqueio de seus bens. Na semana em que José Sarney (PMDB-AP) e Michel Temer (PMDB-SP) tornaram-se ambos, respectivamente, presidente do Senado Federal e da Câmara dos Deputados pela terceira vez, Edmar foi eleito corregedor da Câmara como um candidato avulso, sem o patrocínio de seu partido, o DEM.A escolha de seu nome para a função de xerife da Câmara parece estranha por causa de seu currículo, mas é fácil explicar – pelas piores razões possíveis. Há quatro anos, quando explodiu o escândalo do mensalão, Edmar foi um militante ativo da impunidade e trabalhou pela inocência de todos os envolvidos. Recebeu a recompensa agora. Foi apoiado pelas bancadas de partidos governistas, em especial a do PT, num processo silencioso e que deveria ter-se encerrado de forma quase clandestina, para evitar dissabores.Depois que as torres pontiagudas do Monalisa se transformaram em assunto nacional, o DEM passou a cobrar a renúncia de Edmar à Corregedoria. Pode ser uma providência útil, seria bom que fosse bem sucedida, mas ela vem com um pouco de atraso. A primeira reportagem sobre o castelo de Edmar foi publicada em 1992. De lá para cá, passaram-se 17 anos, ou quatro mandatos parlamentares, sem que ninguém tivesse a curiosidade de investigar um pouco aquela arquitetura estranha.Com seu aspecto de obra fora do tempo e tantas atrações exóticas, o Monalisa combina perfeitamente com aquilo que se viu em Brasília na semana passada. As eleições para o comando do Poder Legislativo trouxeram de volta dois personagens do século passado. Michel Temer (PMDB-SP) já presidira a Câmara entre 1997 e 2000, por dois mandatos consecutivos. O ex-presidente José Sarney chefiou o Senado pela primeira vez em 1995 e voltou ao cargo em 2003. Nas duas ocasiões, fingiu encerrar uma longeva carreira política. Na caminhada para o atraso, deputados e senadores usaram outra vez as ferramentas que fazem do Legislativo a mais desprestigiada instituição republicana, segundo todas as pesquisas de opinião: a troca de favores mesquinhos, a negociação de interesses escusos e as armas da traição, sempre de costas para a opinião pública.Além de Edmar e seu castelo, a abertura dos trabalhos de 2009 mostrou a musculatura de dois ex-presidentes do Senado, Renan Calheiros e Jader Barbalho, ambos forçados a renunciar ao cargo para escapar de processos de cassação. Renan e Jader foram os artífices e principais conselheiros de Sarney na campanha. Eles aconselharam-no a disputar o cargo, como forma de se proteger contra adversários da política e problemas com a Justiça. No pior momento de uma carreira política de quase 60 anos, Sarney entrou no jogo.Ele espalhou em Brasília ser vítima de perseguição do ministro da Justiça, Tarso Genro. O PMDB pediu a demissão de Tarso, mas Lula não se comoveu. A presidência do Senado se transformou numa boia para um político em apuros, como foi anteriormente para Jader e Renan. Com base em sua própria experiência, Jader e Renan desenvolveram a teoria do “barril de lama”, uma estratégia de sobrevivência política baseada na compra de cúmplices. Ela é simples, para quem tiver estômago para entender. Um colega de Jader e Renan na cúpula do PMDB descreve o método assim: “Quando o sujeito está atolado de denúncias e não consegue sair, o negócio é trazer cada vez mais gente para dentro do barril. Aí, ele fica mais seguro porque, se a coisa explodir, todo mundo vai sair enlameado”. Ao final da campanha em que Sarney derrotou o candidato do PT, senador Tião Viana (AC), por 49 votos a 32, a lama no barril não parava de crescer. Eis alguns dos episódios:Na eleição do Senado, o apoio do DEM a Sarney foi negociado em novembro e custou uma vaga no Tribunal de Contas da União (TCU) para o ex-ministro e ex-senador José Jorge. Sob o comando de Renan, a bancada do PMDB traiu o candidato do partido, Leomar Quintanilha (TO). Pelo menos sete senadores do partido votaram em José Jorge. O DEM pagou com 14 votos para a eleição de Sarney.Para garantir o voto do senador José Maranhão (PMDB-PB), Renan prometeu a ele que vai apressar – só ele sabe de que maneira – o processo de cassação do governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima (PSDB), no Tribunal Superior Eleitoral. Maranhão ameaçava votar contra Sarney porque não foi contemplado com um cargo na mesa diretora do Senado, posição que dá privilégios. Ele aceitou a oferta. Se Cunha Lima for cassado, Maranhão herdará o governo da Paraíba.Três senadores do PR – César Borges (BA), Magno Malta (ES) e João Ribeiro (TO) – votaram em Sarney. Em troca, o diretor-geral do Senado, Agaciel Maia, providenciará carros novos para substituir os Fiat Marea ano 2000 que eles usam.Para conseguir os sete votos do PTB, Sarney e Renan prometeram entregar o comando da Comissão de Relações Exteriores ao senador Fernando Collor de Mello (AL). Cassado por corrupção, Collor receberá solenemente todos os chefes de Estado e de governo estrangeiros que visitarem o Brasil. Ele chegou ao Planalto, em 1989, acusando Sarney de ter sido o mais corrupto de todos os presidentes.