sexta-feira, 3 de abril de 2009

POLÍCIA ENXUGANDO GELO


Por: José Wilson Malheiros / jwmalheiros@hotmail.com

Já se tornou lugar comum afirmarmos que hoje em dia os bandidos estão soltos nas ruas e nós, cidadãos que procuramos viver decentemente, estamos em casa, trancafiados em grades, cadeados, alarmes eletrônicos etc.
Não podemos mais deixar nossos carros na rua que logo vem a chantagem dos flanelinhas, que não tomam conta de nada, mas, no mínimo riscam nossos carros se não cedermos à chantagem para pagar o pedágio exigido por eles.
Bons tempos aqueles, na década de 1960, quando eu trabalhei no Banco do Brasil, em Santarém.
Era a época das famosas e disputadas "viagens de numerário". Quando estava "sobrando" dinheiro nos cofres do Banco, era obrigatório levarmos o excedente para Belém.
Viajávamos para passar geralmente dois dias, carregando o dinheiro e carregados de pedidos de compras na capital.
O numerário era acondicionado em grandes sacos de lona e vinha no bagageiro do avião da linha (VASP, VARIG, PTA).
Quando chegávamos no aeroporto de Belém pegávamos um prosaico taxi (!!!). Geralmente o tamanho das sacas não cabia no bagageiro e a metade vinha de fora, mesmo, desfilando pelas ruas, na maior sem cerimônia.
Nós nos sentíamos seguros. Levávamos apenas um revólver 32, que era guardado nas malas, descarregado.
Imaginem o percurso do Aeroporto até o Banco do Brasil da Presidente Vargas, na capital paraense.
Pois é, vínhamos tranquilos, conversando com o taxista e ninguém nos molestava.
Imaginem, agora, se fizermos a mesma coisa neste ano de 2009.
Não conseguiríamos nem sair do avião, na pista de pouso. Certamente seríamos assassinados e os facínoras teriam sumido com o dinheiro.
Lembro-me, agora, de citar citar a obra do escritor francês Albert Camus, intitulada "A Peste". Vemos ali a descrição de um vilarejo, que é assolado por uma epidemia de determinada doença incurável para a época. Descreve em pormenores o pânico causado pelas mortes ocorridas, desde crianças até os mais velhos daquela localidade. Porém, aos poucos os moradores foram tornando-se imunes ao pânico, isto é, não mais se impressionavam com a quantidade enorme de óbitos.
A desgraça, a violência tornaram-se rotina, e hora em dia, no mundo todo, viraram sobremesa, que sorvemos com a televisão ligada depois do almoço para assistir o circo de horrores. Tornou-se "normal"... ninguém mais parece se importar. Não nos comovemos mais.
Não dá para deixar um policial na porta de cada casa. A polícia, por mais que se esforce, parece estar enxugando gelo. Quanto mais trabalha, mais aumenta a marginalidade.
No fundo, sabemos que a violência, não é somente caso de polícia. É um caso crônico de falta de investimentos convenientes no social, no educacional, no esclarecimento sobre o perigo das drogas, entre outros fatores.
Em grande parte a violência que assola nossas cidades não é apenas filha da miséria, já que, no caso dos entorpecentes, grã-finos endinheirados e apodrecidos pelo vício são uma das grandes colunas que sustentam esse caldeirão fervente que se espalha pela nação.