Em 16 de novembro do ano passado, foi postado no sítio Youtube.com um vídeo em
que atores da Rede Globo de Televisão proclamam palavras de ordem
contra a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, em Altamira
(PA). Com argumentos rasos, quando não inexistentes (tais como: “Você já foi à Amazônia?”
– pergunta do ator Marcos Palmeira), o vídeo teve o mérito de deflagrar
um intenso debate sobre o projeto. A produção foi do chamado Movimento
Gota D’Água, em sociedade com o Movimento Xingu Vivo Para Sempre, uma
aglomeração de ONGs ambientalistas, como o Instituto Socioambiental
(ISA), Comissão Pastoral da Terra (CPT), Conselho Indigenista
Missionário (CIMI) e outras 250 ONGs nacionais e estrangeiras.
Ao
longo de cinco minutos, os artistas globais se superam em fazer
afirmativas falaciosas, tais como: Belo Monte só produzirá um terço de
sua capacidade; “custará 30 bilhões de reais”; “inundará 640 km² de mata virgem”; “energia hidrelétrica não é energia limpa”; entre outras sandices.
Os
artistas chegam ao extremo de sugerir, inclusive, que a construção da
usina serviria apenas para fins fúteis, como assistir novelas (das quais
são protagonistas) ou permitir aos cidadãos do Norte do País o consumo
de artigos tecnológicos de luxo – desconsiderando totalmente o direito
de todos os cidadãos a ter acesso aos bens proporcionados pela
modernidade. Além disso, o vídeo registra “pérolas”, como o trecho em que a atriz Letícia Sabatella afirma que energia gerada em uma floresta não seria “limpa”, somente se fosse gerada em um deserto.
Na
verdade, não admira que os preocupados e engajados funcionários das
Organizações Globo tenham manifestado tal iniciativa. Afinal, seus
patrões são notórios engajados na agenda ambientalista internacional,
como é o caso do vice-presidente José Roberto Marinho, que já foi
presidente do WWF-Brasil e atualmente integra o conselho consultivo da
ONG, ao lado da igualmente global atriz Camila Pitanga.
Entretanto,
o vídeo teve o mérito de dar destaque para o debate sobre Belo Monte.
Um reflexo disto é o vídeo de resposta feito por estudantes de economia e
engenharia civil da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), sob a
coordenação do Prof. Dr. Sebastião de Amorim, que resultou no movimento “Tempestade em Copo D’Água”,
que procura rebater as mentiras dos globais, além de esclarecer os
pontos polêmicos do projeto. Para tanto, disponibilizaram um oportuno
texto em seu sítio, onde demolem cada um dos “argumentos” do “Gota D’Água”
– inclusive, lembrando que nenhum artista global protestou quando o
Banco Central perdoou R$ 18,6 bilhões em dívidas de bancos falidos de
forma questionável, no âmbito do Proer, valor aproximado ao do custo
estimado de Belo Monte.
Outro fato digno de nota, pelo ineditismo, foi a coluna Eco Verde, do jornal O Globo de
1º. de dezembro, na qual o colunista Agostinho Vieira, um notório
simpatizante das causas ambientalistas, deu espaço a alguns
especialistas para discutir as afirmativas do “Gota D’Água”. Considerando que alguns dos convidados são, também, conhecidos engajados na agenda “verde”, as respostas surpreenderam.
O
especialista em planejamento energético da COPPE-UFRJ, Roberto
Schaeffer, integrante do Painel Intergovernamental sobre Mudanças
Climáticas (IPCC), desmentiu a afirmação de que a usina só produziria um
terço de sua capacidade, ressaltando que “nenhuma hidrelétrica do
mundo usa 100% da sua capacidade. Belo Monte tem 41% de sua capacidade,
menor que a média brasileira, que gira em torno de 52%, mas é maior que
as americanas e as europeias”. Em relação à sugestão de que o país poderia viver de fontes renováveis, Schaeffer foi categórico: “No caso da energia solar é impossível, por que é caríssima”.
O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, falou sobre a área de inundação da usina: “A
área inundada será de exatos 503 km². Mas, 228 km² são do próprio leito
do rio. A maior parte do que sobra já foi destruída por madeireiros e
pela pecuária. Além disso, no entorno do rio serão replantados 280 km²
de Área de Preservação Permanente. No Brasil, a média de capacidade
instalada por área inundada é de 0,49 km² por MW. Em Belo Monte, teremos
0,04 km² por MW. Sem dúvida, o saldo é muito positivo.”
Já
o doutor em Técnicas Econômicas e professor da COPPE-UFRJ, Emílio La
Rovere, rebateu a afirmativa de que Belo Monte vai custar “30 bilhões de reais”, alegando que “qualquer
obra de infraestrutura no mundo é feita como dinheiro público ou com
financiamento público. O que importa é o custo da energia que, neste
caso, é muito barata, apenas R$ 78,00 o MWh. E os investidores, públicos
e privados, vão ter retorno”.
Sobre se a energia hidrelétrica é mesmo limpa, o pesquisador afirmou: “Toda
a energia tem os seus impactos, mas os da hidrelétrica são muito
menores que os de uma termoelétrica, por exemplo. Na Europa, já tem
ambientalistas protestando contra os efeitos das usinas eólicas”. E em relação à suposta “remoção de índios e ribeirinhos”, alegada no vídeo dos atores globais, La Rovere foi direto: “Nenhum
índio será removido e a vazão mínima do rio vai ser mantida. Altamira
não é exatamente um paraíso na Terra. É uma região pobre. Pela primeira
vez, em 35 anos, vejo o governo aproveitar uma grande obra para fazer
política social. É uma chance única de desenvolvimento da região”.