POLÍTICO, PASTOR E EMPRESÁRIO USAM SERVIÇOS DE ‘LARANJA’ NO PANAMÁ
A movimentação de recursos financeiros entre empresários,
pastores protestantes e políticos brasileiros, em território panamenho, passou
a ser notícia no país após a divulgação, na terça-feira,... 2013-12-05
O prefeito do Rio, Eduardo Paes, teria participação em uma
empresa offshore, no Panamá
A movimentação de recursos financeiros entre empresários,
pastores protestantes e políticos brasileiros, em território panamenho, passou
a ser notícia no país após a divulgação, na terça-feira, em um dos noticiosos
de maior audiência na TV brasileira, da transação que resultou na venda do
Hotel St. Peter, em Brasília, a um grupo econômico abrigado pelas leis do
Panamá, que garantem o sigilo da operação comercial.
Este é o hotel onde, uma vez aprovado por um tribunal de
Justiça, o ex-ministro José Dirceu cumprirá pena em regime semi aberto. Além do
prefeito do Rio, Eduardo Paes, e sua família, a Editora Abril, que edita a
revista semanal de ultradireita Veja, também teriam usado os serviços do
suposto ‘laranja’ José Eugenio Silva Ritter, na Cidade do Panamá.
“Embora não tenha conseguido estabelecer uma conexão direta
entre Dirceu e a empresa no Panamá, uma vez que o contrato do St. Peter
envolvia o empresário Paulo Abreu e o suposto laranja, o Jornal Nacional (JN,
da Rede Globo) deixou no ar a insinuação de que o St. Peter talvez pertencesse
ao próprio ex-ministro. Ou seja: Dirceu estaria sendo contratado por ele
próprio, o que seria um argumento a mais para que a Vara de Execuções Penais do
Distrito Federal negasse a ele o direito ao regime de prisão semiaberto – ao
qual, diga-se de passagem, foi condenado”, afirma o site de notícias Brasil
247.
A mesma página, na internet, também revelou, nesta
quinta-feira, “que Jose Eugenio Silva Ritter atuou em outras transações
importantes no Brasil. Uma delas, a compra de três operações da TVA vendidas
pelo grupo Abril, que edita a revista Veja – a mesma cujo colunista mais
notório, Reinaldo Azevedo, vinha usando o caso panamenho para pressionar juízes
a negar a oferta de emprego a Dirceu”.
Ainda segundo o 247, “Jose Eugenio Silva Ritter já foi dono
de duas empresas offshore que hoje pertencem à família do prefeito do Rio de
Janeiro, Eduardo Paes. As empresas se chamam Conval Corporation e Vittenau
Corporation. A primeira foi constituída em 12 de junho de 2008 e a segunda uma
semana depois, em 19 de junho daquele ano – o mesmo em que Eduardo Paes se elegeu
pela primeira vez para governar a cidade. Hoje elas pertencem a Valmar Souza
Paes, pai do prefeito, Consuelo da Costa Paes, a mãe, e Letícia da Costa Paes,
a irmã caçula”.
“Cada uma delas tem um capital social de US$ 4 millhões, ou
seja, US$ 8 milhões, que, hoje, equivaleriam a cerca de R$ 20 milhões. Ambas
foram constituídas pelo escritório Morgan y Morgan, um dos mais atuantes no
Panamá, que, ao que tudo indica, tem farta clientela no Brasil. Informações
trazidas ao 247 revelam que Jose Eugenio Silva Ritter é ou foi “dono” de mais
de 1,5 mil empresas – a maioria delas no país”.
Grupo Abril e TVA
Conforme apurou o site, “o grupo Abril vendeu as operações
da TVA em São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba – três das principais praças
comerciais do Brasil – para a Truston International Inc. Quem está por trás dos
negócio, no entanto, é o Bispo RR Soares. Em agosto deste ano, a Anatel
autorizou a venda de três operadoras de TVA para o cunhado de Edir Macedo, e
que criou a Igreja Internacional da Graça de Deus, em 1980, depois de se
desentender com seu mentor”.
“O pedido de anuência prévia para a venda desses canais foi
aditado em 2012, porque os atores iniciais da compra – Raul Rothschild de Abreu
e Cintia Rothschild de Abreu Alvarenga – também seriam quotistas de emissoras
de radiodifusão e a nova lei proibiu a propriedade cruzada entre radiodifusores
e operadores de telecom”, afirma o site.
E continua: “Esses primeiros compradores transferiram,
então, os direitos de cessão sobre as outorgas de TVA para duas pessoas
físicas, Lara Severino Vargas de Abreu e Igor de Abreu Demétrio Zarra, que
ficam com 70% da empresa e a holding Compor Communication, que detém 30%
restantes. A Compor é a mesma companhia que foi apontada, em rede nacional, na
noite da terça-feira 3, no Jornal Nacional, como contratante do auxiliar José
Eugenio Silva Ritter. Cidadão panamenho, ele seria o ‘laranja’ que se tornou
proprietário do hotel St. Peter”.
Perseguição política
Na análise do jornalista Luiz Carlos Azenha, editor do site
Viomundo, em artigo intitulado A lógica torta da Globo no caso de José Dirceu,
“dezenas de milhares de presos brasileiros, que cumprem pena em regime
semi-aberto, trabalham. Não é nenhum privilégio: está previsto na legislação.
Assim como está prevista a remissão de pena, ou seja, a redução da pena em
função dos dias trabalhados. Não há nada de excepcional nisso”.
“Pergunta básica sobre um preso hipotético: José da Silva é
responsável pelas ações daquele que o emprega? Se a empresa que acolheu José da
Silva for condenada por tráfico de drogas, se sonegar Imposto de Renda ou se
for de propriedade de um laranja, José da Silva deve pagar também por isso?”,
questiona.
“Resposta óbvia: não”.
E afirma: “Qualquer tentativa em sentido contrário significa
punir por associação”.
Azenha reproduz a declaração de um dos advogados de Dirceu:
“A constituição societária do hotel St. Peter não diz
respeito a meu cliente. Por que 400 pessoas podem trabalhar no hotel e o
ex-ministro não? Esse hotel é antigo em Brasília, tradicional, mas para alguns
parece que foi inaugurado ontem. Juntamos toda a documentação necessária para
que meu cliente possa trabalhar e espero a decisão da Justiça’. O que o Jornal
Nacional está tentando fazer é ‘punir’ um hotel que ofereceu um emprego a José
Dirceu. É punir o preso por práticas supostamente ilícitas do hotel, o que é um
absurdo jurídico”, afirmou.
Ainda segundo o jornalista, “ou isso, ou a Globo está
tentando lançar no ar uma ilação: José Dirceu seria o dono oculto do hotel que
pretende empregá-lo, através de um laranja num refúgio fiscal, o Panamá. Mas,
aí, eu também posso fazer uma ilação: José Dirceu comprou parte da Abril, com o
objetivo de calar Victor Civita. Sim, porque como revelou um sítio, a mesma
empresa do ‘laranja’ envolvido com o hotel Saint Peter — que ofereceu emprego a
José Dirceu — comprou parte da TVA, da Abril”.
“Já pensaram nisso? José Dirceu compra a Veja para torná-la
uma publicação esquerdista!”, acrescenta.
E Azenha emenda: “Por falar em ironia, o blogueiro Mello
desafiou a Globo a ir fundo não apenas no Panamá, mas também nas ilhas Virgens
Britânicas, onde uma certa Globo Overseas comprou os direitos de transmissão
das copas de 2002 e 2006 usando uma empresa de fachada. A palavra não é minha,
é da Receita Federal. O que a Globo está tentando fazer no caso de Dirceu
equivale ao Mello pedir que William Bonner seja punido por eventual sonegação
fiscal dos empregadores dele, os irmãos Marinho!”.
“Hoje, a Globo mobilizou três pessoas para fazer valer sua
tese de que o escândalo diz respeito ao preso José Dirceu: Álvaro Dias e
“ministros” do Supremo Tribunal Federal. Nem Gilmar Mendes, nem Marco Aurélio
Mello, ouvidos, foram assim tão enfáticos. Mello, aliás, lembrou que não falava
como juiz do caso. Por motivos óbvios: a decisão de permitir ou não que José
Dirceu trabalhe não tem relação alguma com o fato de o hotel pertencer a um
laranja ou a marcianos”.
Na opinião do cronista político, “o que a Globo quer é
vingança. É evitar que José Dirceu tenha os mesmos direitos de dezenas de
milhares de outros presos que cumprem pena em regime semi-aberto. Direito ao
trabalho. À ressocialização. A Globo não quer que a lei seja cumprida. Ou quer
que ela seja cumprida seletivamente. É isso o que se esconde por trás do
‘jornalismo’ do Ali Kamel.