segunda-feira, 24 de março de 2014

CASO CERPASA

Caso Cerpasa – Inquérito entra em conclusão no STJ

Governador Simão Jatene e ex-secretário Sérgio Leão estão envolvidos no escândalo

Simão Jatene e Sérgio Leão
Simão Jatene e Sérgio Leão
O julgamento do Caso Cerpasa, que se arrasta desde 2004 por gabinetes de diferentes tribunais no Pará e em Brasília, entra em uma nova fase. O Inquérito 465 está agora em fase de conclusão no Superior Tribunal de Justiça. Para quem não se lembra, a investigação foi aberta pelo Ministério Público e apura envolvimento do atual governador do Pará, o tucano Simão Jatene, e do ex-secretário Sérgio Leão no crime de receptação de repasses irregulares de R$ 16,5 milhões, em valores da época, que não foram contabilizados pela Cervejaria Paraense S.A, a Cerpasa.
Sérgio Leão acabou sendo beneficiado pela morosidade da justiça brasileira. Indicado por seu amigo, Simão Jatene, Leão assumiu uma vaga de conselheiro no Tribunal de Contas dos Municípios (TCM-PA), mesmo sendo investigado em um processo criminal.
No dia 12 deste mês, a vice-procuradora geral da República, Ela Wiecko, indicada relatora junto à Procuradoria Geral da República (PGR) do Inquérito, encaminhou seu parecer ao STJ. O parecer está sendo analisado pela Corte Especial daquele tribunal. O relator do caso é o ministro Napoleão Nunes Maia Filho, que deve apresentar seu relato à Corte Especial nos próximos dias.
SEGREDO DE JUSTIÇA
É impossível ter conhecimento do conteúdo do processo, já que ele tramita em segredo de justiça, ou seja, está fora da Lei da Transparência, impedindo que a população paraense tenha conhecimento das decisões tomadas desde 2004, quando o caso entrou no Tribunal de Justiça do Pará. Foi o Ministério Público quem apresentou a denúncia na época.
A denúncia do MP foi baseada em fatos concretos, ocorridos dentro das dependências da Cervejaria Paraense S/A. Naquele ano, o Ministério do Trabalho realizou uma averiguação na sede da empresa para apurar denúncias de irregularidades trabalhistas na fábrica.
O fato aconteceu na manhã do dia 12 de agosto de 2002, em plena campanha eleitoral na qual Jatene participava como candidato ao governo do Estado, indicado por seu partido, o PSDB.
Fiscais do Ministério Público do Trabalho, acompanhados de um procurador e dois delegados da Polícia Federal, entraram na sede da cervejaria e flagraram uma funcionária do departamento de pessoal da empresa com R$ 300 mil em notas miúdas e separando o valor em diversos envelopes previamente identificados. O dinheiro seria usado para pagamento dos funcionários que trabalhavam irregularmente na empresa.
A Polícia federal fez então a apreensão de mais de uma tonelada de documentos e quatro computadores. O que se descobriu depois, ao se fazer a análise dos documentos e computadores apreendidos, foram relatórios explícitos da troca de favores entre a empresa e o então pré-candidato ao governo Simão Jatene.
As provas, como afirmou o Ministério Público do Pará na época, eram claras. Os documentos continham datas e valores revelados minuciosamente com a identificação detalhada: “Ajuda à campanha do Simão Jatene p/governo, reunião feita com Dr. Sérgio Leão, Dr. Jorge, Sr. Seibel, a partir de 30/08/02 (toda sexta-feira), R$ 500.000, totalizando seis parcelas no final (sic).”
Seibel era Konrad Karl Seibel, alemão, fundador e dono da cervejaria, que já faleceu. Sérgio Leão, o poderoso assessor e fiel escudeiro de Jatene – uma espécie de José Dirceu na época –, estrategicamente presidia a comissão estadual que avaliava a política de incentivos naquele ano.