PARÁ - JATENE VAI REDUZIR NÚMERO DE SECRETARIAS DE GOVERNO - VEJA ENTREVISTA EXCLUSIVA
Governador reeleito anuncia novos projetos para aumentar arrecadação e criação de centros regionais
Com uma
agenda ainda cheia de entrevistas e compromissos administrativos, o
governador reeleito Simão Jatene (PSDB) ainda não conseguiu descansar
após os quase três meses de maratona eleitoral. Mesmo assim, mostra que,
aos 65 anos, e com três mandatos de governador no currículo, ainda tem
muito fôlego para planejar o Estado, mas também para se entusiasmar com
as lições que vieram das urnas no último dia 26.
Em entrevista exclusiva concedida
aos repórteres do jornal O LIBERAL Irna Cavalcante, Evandro Flexa Jr. e
Keila Ferreira, ele faz uma avaliação sobre o pleito, sobre o mandato e
anuncia novos projetos para aumentar a arrecadação própria do Estado,
como a criação de uma taxa sobre o uso dos recursos hídricos do Pará. Na
área administrativa, a criação de centros regionais, a princípio em
Marabá e Santarém, são prioridades. Mas também haverá mudanças na
administração central, especialmente na estrutura das secretarias, que
deverão ficar em número menor. A ideia é garantir a satisfação da
população pelos resultados alcançados. A palavra de ordem é
profissionalizar a gestão.
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Foto: Igor Mota ( O Liberal) |
O primeiro político a conquistar o
terceiro mandato de governador do Pará reassumiu o compromisso de
concluir as obras que estão em andamento nas mais diversas áreas. Na
área da saúde, por exemplo, o tucano destaca como ponto prioritário o
avanço na política de implantação dos hospitais regionais. Na área da
segurança, pretende ampliar o número de policiais em atividade, e
premiar as boas práticas no serviço público, a chamada meritocracia.
Na área da educação, ele destaca
como ponto prioritário a implantação do Pacto pela Educação, projeto
liderado pelo Governo do Estado, que conta com a integração de
diferentes setores e níveis de governo, da comunidade escolar, da
sociedade civil organizada, da iniciativa privada e de organismos
internacionais. De acordo com informações apresentadas no Plano de
Governo, o Pará está aplicando RS 700 milhões no programa, que conta com
260 escolas em reforma e reconstrução e mais 50 novas escolas,
representando 400 novas salas de aula sendo construídas.
Um projeto que Simão Jatene aponta
como de fundamental importância, dessa vez na área de infraestrutura, é a
Plataforma Logística do Guamá, que deve mudar a forma como os produtos
entram e saem da região e até mesmo desafogando o tráfego em Belém. Os
empreendimentos ao longo da Arthur Bernardes serão trazidos para a
plataforma. Desse modo, o que viria de Manaus para o nordeste do Pará
iria direto para a plataforma logística e para a BR-316, desafogando
Belém.
Na área da mobilidade urbana, um dos
maiores objetivos é avançar nas obras da avenida João Paulo II, que o
governador considera uma das obras mais importantes para Belém, por
evitar a degradação dos lagos Água Preta e Bolonha, que abastecem
Belém de água.
O governador também destaca a
implantação do BRT, cujos projetos executivos estão sendo finalizados.
As obras devem começar logo, pois há recursos garantidos pelo
financiamento da Jica (Agência de Cooperação Internacional do Japão). A
novidade é que agora o BRT Belém deve ser integrado ao BRT
Metropolitano, que virá de Marituba. Leia a entrevista.
Esta eleição foi muito acirrada, com muitos ataques. Qual a leitura que ficou?
Esta eleição foi extremamente
pedagógica, deixou tantos recados, tantas lições, e aí eu tenho a
humildade de dizer, o importante é que deixou lições tanto para quem
venceu, como para quem perdeu. Para mim, por isso, ela é diferenciada no
sentido pedagógico. E deixou lições para a sociedade como um todo. Eu
acho que a coincidência da propriedade dos veículos de comunicação com
aqueles que fizeram da política sua profissão, esta eleição mostrou que
não é uma coisa boa. Não é saudável nem aqui no Pará e nem em nenhum
outro lugar do mundo. Isso, por si só, já é uma violência, uma coisa
agressiva, a chance disso descambar para o que descambou aqui no Estado
realmente era muito grande. De que vale o horário eleitoral, se você tem
um candidato que faz dos seus veículos de comunicação instrumento para
estar no ar 24 horas por dia, o dia todo?
Então o senhor acha que faltou uma maior fiscalização da Justiça Eleitoral?
Eu não quero mais nem pensar, eu só
estou fazendo referência das coisas para trás para que a gente não
repita mais estes erros. Esta eleição vem também nos dizer o seguinte: o
vale-tudo por si só não garante vencer eleição. E isso, para mim, tem
consequências muito sérias. Cria, pelo menos, a expectativa, a
possibilidade, das pessoas que não aceitam o vale-tudo terem a esperança
de realizar o seu desejo de participar da vida política. E por que não
entra? Porque tem que expor a família, que não tem absolutamente nada
ver com nada, passa a ser objeto de uma deslavada e mentirosa campanha.
Então na hora em que o vale-tudo é derrotado, não é só a derrota da
família A, não é a derrota de candidato, é a derrota de uma prática que
certamente abre espaço para que outras pessoas de bem se disponham a
participar do jogo eleitoral.
Qual foi, na sua avaliação, o pior momento da campanha?
Vamos ser francos, eles foram
truculentos mesmo. E como eu acho que a campanha é antessala do governo,
isso aumentou a minha gana para tentar vencer, porque eu imaginava que
um grupo que é capaz de fazer o que fez na campanha, é capaz de fazer no
Governo. E vou dar um exemplo: aquela história de cortar a degravação
[de Izabella Jatene, filha dele, na qual ela pedia a relação das maiores
empresas para financiar o Pro-Paz ao secretário adjunto da fazenda Nilo
Noronha], não tenho como qualificar um negócio desses, foi uma vilania.
Mas a oposição conseguiu aprovar a
abertura de uma CPI na Assembleia Legislativa para investigar este
caso. Como pretende lidar com isso?
Ao que eu sei, de conversas que
ouvi, é de que como as coisas são tão evidentes, eu tenho muitas dúvidas
que se tentem sustentar esta história desta CPI. Foi uma coisa tão
grotesca. O que a CPI deveria apurar é como é que é que alguém acessa
uma fita que deveria ser de propriedade, de uso, de interesse especifico
da área da segurança? Em relação aos dados que foram solicitados na
gravação, ora, existe, inclusive, portaria da Secretaria da Fazenda que
autoriza a divulgação desta relação.
No primeiro turno, o candidato
Helder Barbalho saiu na frente com uma diferença de 50 mil votos, e
neste interstício para o segundo turno, os apoios migraram todos para
ele. Nas redes sociais, muitos já davam a vitória dele como certa e
estavam fatiando os cargos de um novo Governo. Em que momento o senhor
percebeu que o jogo ainda não estava perdido e que era possível virar
esta diferença?
Esta é outra grande lição
fantástica. O povo do Pará disse o seguinte: eu posso ter votado no
senhor no primeiro turno, mas o senhor não é dono do meu voto. E isso é
muito bonito. Porque, de certa forma, é um passo importante diante de
uma coisa muito velha, onde você tinha um candidato que era dono dos
currais e dos votos das pessoas. A sociedade está mudando e é bom que
assim o seja. Se tu vais para lá numa atitude que violenta, vá você, mas
não pensa que tu levas meu voto. Acho que isso a sociedade disse em
alto e bom tom.
O que as urnas da Região
Metropolitana demonstraram talvez não tenha sido o mesmo que as urnas da
região oeste e sul do Estado. Qual a leitura que o senhor fez deste
cenário? E como pretende reverter estes índices?
Este foi mais um tiro no pé do lado
de lá de tentar reavivar a questão da divisão. Se prestar atenção,
nitidamente, foi isto que ocorreu no primeiro turno. Tentaram reeditar a
questão do plebiscito e esta foi uma atitude absolutamente
irresponsável a que, de novo, a população respondeu com sabedoria. No
Brasil, devem ter de 20 a 30 projetos de divisão de Estado e não apenas
no Pará. E se isto é fato, só uma insuficiência ou deficiência de
caráter pode levar alguém a querer usar isso para tirar proveito
eleitoreiro, porque se isso tem este caráter nacional, certamente, deve
ter alguma coisa genuína, legítima, por parte da população. Sempre digo
que nos fizeram de cobaia naquele plebiscito. Nada mais razoável que a
União fizesse um estudo nacional desta questão federativa e territorial e
não colocar a população em confronto, uma coisa fratricida, uma briga
entre irmãos.
Mas o senhor acredita que não tem uma legitimidade nestes anseios separatistas?
Tem uma coisa mais séria do que
isso. A insuficiência e deficiência do estado nacional para as
populações mais carentes é uma marca lamentável que precisa ser
superada. Então eu não estou dizendo que não é legítimo, pelo contrário,
o que quero dizer é que falta estado brasileiro - e ai falo da União,
Estados e Municípios - na baixada de Belém, como falta na periferia de
Santarém. Agora, é irresponsável quem tenta dizer que esta falta
decorre da população desta região contra esta. Isto é uma doidice,
tanto que vejam qual foi a última ideia maluca? Era dizer não, retira o
pessoal daqui para que não tenham direito de opinar. É o mesmo que estão
querendo criar no país com esta história de pobre contra rico, de
Nordeste contra Sul.
O senhor é o primeiro governador que vai para o terceiro mandato. Qual a diferença do Jatene de 2002 para o de 2014?
Eu não perdi meus sonhos, isso
certamente é fato. Mas também é fato a compreensão de que é mais difícil
realizá-los do que eu tinha imaginado lá atrás. Existe uma coisa real e
concreta que é uma clara deficiência de recursos, e quem disser o
contrário disso, não leve a sério. Então não tem saída? Tem sim, a
história se constrói assim mesmo e aí vem o que eu chamo de mecanismos
de elevação das receitas. E quais caminhos temos para isso? O primeiro
sempre é melhorar a eficiência da máquina. Já o segundo é lutar por
maior compensação por toda contribuição que o Estado, historicamente,
deu, dá e continuará dando para o desenvolvimento nacional. Neste
segundo ramo, coisas foram feitas e novas serão feitas.
Quais?
A taxa mineral foi, sem dúvida, a
medida mais corajosa e mais moderna que o Estado teve nos últimos anos.
Nós estamos estudando, e isso já me deu alguns socos na campanha, mas
agora vamos fazer uma sobre o uso dos recursos hídricos dos nossos rios.
Como funcionaria?
Já está formatado, tem um projeto
fechado, mas que precisa ser muito bem calçado. Tem dois outros projetos
que também são legais e, quando falo em compensação, refiro-me também a
questão da implantação dos grandes projetos. Como é feita a implantação
do grandes projetos neste Estado? Historicamente, você tem um projeto
de engenharia - vamos usar uma hidrelétrica para facilitar o raciocínio -
que é feito sem qualquer preocupação social ou ambiental. Mas, isso tem
um impacto, então tem que fazer o EIA/Rima, porém, quando vai vestir o
EIA/Rima no projeto original, a roupa não cabe porque naquela etapa não
havia preocupação, então, a manga fica curta, a perna cumprida, vai
ficar parece um queijo suíço. O passo seguinte é fazer a relação de
condicionantes, que normalmente tem financiamento garantido, mas é uma
grande interrogação, até porque, aqui, você coloca tudo o que falta. Só
que é uma coisa tão desesperadora por parte da sociedade, que quando se
vê, coloca tudo ali dentro. Brinco que se botarem nome de mãe, eles
assinam porque o que eles querem é a licença.
Neste caso, então, qual seria a proposta do Pará?
Nós, historicamente, reclamávamos
muito que temos construído poucas alternativas de propostas e confesso
que isso tem me consumido um bocado de tempo. A minha ideia é a
seguinte: depois que o projeto está pronto, vai pagar tributo para
União, para os Estados e para os municípios. Então, porque a gente, em
cima dessa estimativa que vai acontecer depois de dois ou três anos do
projeto rodando, não cria um Fundo de recebíveis? Este Fundo seria
caucionado por estes tributos e o BNDES financiaria um programa de
crescimento e desenvolvimento regional.
Mas isto seria uma solução a ser
tomada em nível federal. O senhor acredita que teria articulação
suficiente para passar um projeto desses em Brasília?
A eleição mostrou que professor de
politico é o eleitor. Se nós conseguirmos mobilizar a população deste
Estado em torno disso aqui, eu duvido se todo mundo não iria se virar
para dar seu jeito? Só tem vantagem. O dinheiro que vai ser arrecadado
lá na frente pela União, não volta para cá, porque cai na vala comum da
União. Neste caso não, se ele decorreu do uso do recurso do Estado,
então, ele estaria financiando obras no Estado. A mesma coisa com o
próprio Estado e com o município que, ao invés, de receber isso
atomizado e ter um passivo enorme para correr atrás, poderia ser
antecipado antes da implantação do próprio projeto de engenharia. Para
as empresas, o ambiente que será criado acaba com esta história de fecha
canteiro, abre canteiro.
Como pretende conduzir a relação com o Governo Federal neste segundo mandato?
Eu espero que seja uma relação
respeitosa como eu sempre tive com muitos prefeitos, independente de
partido. E como eu tenho tido na Assembleia Legislativa. Mas, ainda
assim, muita coisa não avançou no Pará, sobretudo, quando a gente fala
de projetos importantes para o desenvolvimento do Estado, como o
derrocamento do pedral do Lourenço e de outras tantas obras
importantes.
Qual seria a solução?
Eu acho que é uma questão da
República, do Governo Federal, de não conseguir perceber a Amazônia,
especialmente o Pará, com o olhar correto. E esta para mim é a grande
questão. Ou nós, enquanto sociedade local, nos organizamos para fazer
com que nos vejam de forma diferente ou realmente vamos continuar
marcando passo. Até porque se formos esperar de determinadas lideranças
políticas, realmente não vai vir.
Mas quais medidas concretas seriam estas?
Algumas eu já dei como exemplo, como
a questão do fundo de recebíveis; a nossa área ambiental vai estar mais
estruturada, todos os mecanismos que nós tivermos disponíveis para
contribuir para o diálogo, nós vamos usar. Eu não quero criar problema
para ela não, mas acabou esta história de descer goela abaixo. A
sociedade precisa se apropriar das coisas. Na hora em que a sociedade se
der conta de que o cara ficar mandando ofício, é um mise en scène, mas
que na verdade, não sobe, não discute, não vai para cima, não articula,
não faz valer. Quando começarem a ver isso no Senado, que é a casa da
Federação, eu não tenho dúvida de que aí os caras vão pensar duas vezes e
vão ter que começar a subir e botar a cara na tribuna para defender os
interesses do Estado. E não ficar, simplesmente, nomeia fulano, exonera
beltrano. É, por isso que mais do que nunca nós precisamos ter
mecanismos para a sociedade estar cada vez mais informada das coisas.
O senhor pretende investir em mecanismos de transparência dentro do próprio Governo?
Claro, porque eu acho que esta coisa
do exemplo vai ser fundamental. E, vamos ser francos, isso me ajudou
muito nestas eleições. Pense um negócio, eu não sei quantas pessoas
teriam sobrevivido há dois anos de pancadaria. Sem dúvida, a história de
vida da gente sustentou muito isso, me deu o ânimo de continuar
adiante.
O senhor falou desta relação em
que o senhor passou dois anos sofrendo ataques do PMDB. E durante o seu
mandato, tomou uma medida considerada audaciosa que foi romper com o
PMDB, quando muitos falavam que no Pará não era possível governar sem
ter ele do lado. Seu governo ficou melhor de administrar sem o PMDB?
A primeira coisa que diziam é de
que eram o fiel de balança, que se não tivesse do lado, na Assembleia
não aprovaria nenhum projeto. E nós não tivemos um projeto rejeitado.
Aprovamos todos. Também falavam que para onde for, ganha a eleição e a
população disse não. Eu acho isso uma coisa muito boa. Não acho que seja
um problema do partido A, B ou C, tanto que dialogo com vários
integrantes do PMDB. Eu tenho muito medo quando se generaliza as coisas,
agora, com esta direção, com este apropriar, o partido acabou virando
uma extensão da família. Quem foi que o partido elegeu na Câmara
Federal? Será que é uma coisa partidária ou é uma coisa familiar? Eu
acho que esta foi uma outra lição, a sociedade democrática não existe
sem partidos, mas um partido não pode ser propriedade de família. E eu
tenho certeza que dentro do PMDB deve ter muita gente que deve ter isso
muito mal resolvido.
Qual a análise que o Governo faz
desta relação com a Assembleia? O número de deputados declarados como
oposição caiu de 17 para 11. Além disso, este ano, houve um percentual
de renovação de 56%, o senhor acha que isso pode lhe favorecer de alguma
forma?
Eu nunca mandei para Assembleia um projeto que não fosse do interesse do Estado e é claro que isso facilita muito as coisas.
Uma das propostas apresentadas no
seu programa de governo foi a implantação de dois centros regionais
administrativos. Como vai funcionar? Acredita que isto pode resolver, ou
pelo menos apaziguar, o sentimento separatista que ficou após as
eleições? E que autonomia terão estes centros?
Este será o nosso grande desafio e é
aquilo que estamos queimando pestana. O que tenho defendido claramente é
de que a gente tem que profissionalizar cada vez mais a gestão. Os
dividendos políticos vêm pelos resultados das ações e não pela
participação, pela presença. Esta é uma coisa que deve ser perseguida e
foi outra lição boa que tiramos desta eleição
Mas como pretende operacionalizar?
Devemos começar com dois centros,
que deve ser Marabá e Santarém. Mas vão ser mais, porque eu acho que
temos diferenças regionais importantes. Além disso, a gente deve mexer
um pouco na própria estrutura mais global do Estado.
O senhor pretende enxugar as secretarias?
Sim, eu pretendo fazer isso até o
final do ano. Eu quero ver o que dá para fazer agora para começar já
tendo, ainda que algumas coisas não estejam formalmente aprovadas, mas
já caminhando nesta direção da profissionalização.
Pretende fazer mudanças no secretariado?
Certamente.
Onde e qual o tom que pretende dar nesta reforma do secretariado?
Eu acho que, sobretudo,
profissionalizar mais e deixar que a questão do resultado político venha
como dividendo das ações realizadas. E vou dar como exemplo disso a
questão da direção das escolas, que agora é feita por eleição direta.
Nestes dois meses que faltam queria ver se a gente tira um programa
intenso de capacitação de servidor, de avaliação, para as pessoas
entenderam um pouco mais sobre que é esta história do Estado.
Governador, quais pontos o senhor acha que mais avançou e que menos avançou nestes seus quase quatro anos de gestão?
Avançamos muito na expansão dos
serviços de saúde. Posso te dar exemplos, saímos de 200 mil casos de
malária por ano, para oito mil. Me criei no interior, e sei o sofrimento
que causa esta doença, então para mim foi muito importante. Hoje
também estamos fazendo transplante renal em Redenção, oncologia em
Santarém, e por isso acho que essa foi uma área em que avançamos muito.
No caso da segurança, equipamos esta área e muito, os policiais por
exemplo, não podiam ficar dentro dos carros, que não eram refrigerados,
hoje todos são refrigerados.
Os policiais tinham uma queixa
permanente com relação ao rancho, diziam que não chegava, e criamos o
auxílio alimentação. Resolvemos também o auxílio fardamento, avançamos
com a lei do risco de vida, e atualizamos o limite de contingente.
Avançamos na área de infraestrutura, com estradas. Na questão mais
geral, no caso dos servidores, sempre demos aumento, acima da inflação
ao longo de todo o mandato, mas na organização, não avançamos. Não
avançamos na educação como eu gostaria, por isso estamos trabalhando
mais fortemente no Pacto pela Educação. Só que entre a elaboração e
assinatura levamos mais tempo do que eu esperava ser necessário.
Assinamos somente final do ano passado.
No caso da educação, o que o senhor pretende fazer para melhorar, já que foi algo que, na sua avaliação, ficou a desejar?
A partir do Pacto (pela Educação).
Este é um projeto belíssimo, que as pessoas não sabem bem o que é isso.
Sempre que se discute educação, comumente se resume a duas coisas:
reforma de escola e salário de professor. Na questão salarial avançamos,
e estamos entre os sete melhores do Brasil, embora tenha sido
necessário um enorme esforço no orçamento. Fomos para a reforma da
escola, e agora podemos entrar em outras áreas, como a formação
continuada. Também avançamos no sistema de avaliação, que hoje é
diferenciado. O Ideb avalia de dois em dois ano, e o nosso será anual,
com corte mais curto, para dar tempo de mudar o que não vir dando certo.
Queremos avaliar alunos e professor, não para penalizar ou crucificar,
mas porque preciso saber onde devo reforçar. Também vamos buscar a
introdução de novas tecnologias, como o Faceduque. Os alunos poderão
tirar dúvidas com os professores através da rede social. A ferramenta é
a cara deles.
O País tem passado por um momento
de fragilidade em termos econômicos, e o cenário que se apresenta não é
algo muito otimista, afinal, tivemos vários reajustes de gasolina, e,
sobretudo, de energia elétrica. Que tipo de medidas o senhor acha que
devem ser tomadas para acalmar o mercado e os brasileiros?
Vamos ter um ano muito duro no
Brasil. Por isso me preocupa como terminou a eleição nacional. Nós já
estamos tendo problemas com transferências. Elas têm sempre diminuído, e
temos sinais de queda pela frente. Não sabemos qual a extensão do que o
governo federal vai fazer. Como a Federação é muito frágil, os Estados
ficam a mercê da política econômica nacional. Os impactos sobre os
Estados podem ser amenizados por políticas estaduais. Como no Brasil
isso é muito ruim e a Federação muito frágil, temos dificuldade. Tivemos
um dos maiores crescimento do País, sobretudo no emprego, mas é uma
onde que vem chegando, e acho que será um ano de aperto. Mexeram no
Fundo Soberano.
Em 2008, em virtude da crise, a
então governadora Ana Júlia teve que adotar medidas de contenção para
cortar os gastos do governo. É esse o atual cenário? Já acendeu a luz
vermelha nas contas do governo por essas constantes reduções nos fundos
de transferências?
Se pelo menos as transferências foram cumpridas, fechamos. Senão, vamos ter que adotar algumas medidas.
Durante a campanha o senhor foi
acusado de pulverizar a sua preferência pelos candidatos ao Senado. De
ter dividido em vários para não negar apoio. Como está a sua relação com
os candidatos apoiados pelo senhor?
oIsso é um desvio na legislação
brasileira, pois ela permite o candidato avulso ao Senado. Qualquer
partido poderia lançar e com as mesmas consequências com relação a tempo
e outras coisas. Agora, enfrentamos uma disputa desigual, e por isso
era importante ter tempo para mostrar o trabalho. Porque se cresceu no
segundo turno? Não foi apenas as alianças que foram para o outro lado. É
que no segundo turno não há como se esconder.
O senhor acha que os debates lhe favoreceram?
Os debates tiveram uma importância
grande. Os dois, mas, sobretudo, o último, fez a diferença, pois ficou
claro o que se apresentou. A agenda mínima foi muito batida, e vamos
chegar muito perto de cumpri-la. Tínhamos uma previsão de investir R$
4,5 bilhões, e mesmo com todas as confusões, chegaremos muito próximo
disso. Agora, tivemos que fazer fortes mudanças internamente, como por
exemplo, não havia previsão de implantar dois hospitais em Belém. Se não
tivéssemos implantado, tinha explodido a saúde. Implantamos o Hospital
Jean Bitar, que teve como sentido dar suporte ao Hospital Ophyr Loyola, e
o Hospital Galileu, que passou a auxiliar o Metropolitano. Houve uma
crescente no volume de acidentes envolvendo traumatologia. Havia uma
fila de quase 700 pessoas com pinos, e que precisam ser retirados no
tempo certo, e que se não for feito, pode acarretar problemas
gravíssimos.
O Metropolitano estava sem tempo
para tirar o pinos, dado o aumento no número de casos. Agora essas
pessoas estão indo para o Galileu. Se não for analisado isso, vão dizer
que não cumpri a agenda mínima. Mas este é um dentre vários outros
exemplos, como o caso do Abelardo Santos, que ia apenas passar por uma
reforma. O mesmo aconteceu com o terminal hidroviário, que tinha um
planejamento, mas que foi adotado outro, muito mais adequado. Temos que
aplicar uma dose de planejamento, que é muito importante, e uma dose de
criatividade, senão fica impossível avançar. E acho que a população
entendeu isso.
Por: O Liberal