EREÇÃO COM ‘VIAGRA VERDE’ DURA MAIS DO QUE COM A ‘PÍLULA AZUL’
Beatriz Salomão
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Márcio Luís é o farmacêutico da Universidade de Franca, no interior de São
Paulo, que coordenou as pesquisas com a molécula retirada da planta Piper cubeba |
A molécula responsável pela ereção
nas cobaias foi retirada da planta Piper cubeba, também conhecida como
pimenta-de-java. De acordo com o coordenador da pesquisa, o farmacêutico
Márcio Luís Andrade e Silva, o objetivo inicial do estudo, que começou
em 1998, era combater o parasita causador da Doença de Chagas.
Mas, no meio do processo, os
cientistas notaram que a molécula base — de onde sairiam as moléculas
para combater o Chagas — causaram ereção num camundongo.
Márcio Luís afirma ainda que testou
as conhecidas ‘pílulas azuis’ nas cobaias e notou que a substância
retirada da planta apresentou melhores resultados: “Nossa molécula é
mais eficaz que o Viagra, proporcionando um tempo de ereção maior”.
A meta é que, em quatro anos, um
novo fármaco feito com a pimenta esteja disponível no Brasil. Segundo o
pesquisador, já há negociação com uma empresa (o nome não pode ser
revelado), mas antes de chegar às prateleiras serão necessários outros
passos, incluindo testes clínicos em humanos. “Se depender dos últimos
resultados, teremos muitas coisas boas no futuro”, antecipa.
O especialista disse ter verificado,
após análise do corpo cavernoso dos animais (estrutura do interior do
pênis), que este enche-se mais de sangue com o ‘viagra verde’ do que com
o medicamento já existente. “Isso significa uma ereção mais completa.
Outro ponto relevante é o estímulo da ejaculação, o que não ocorre com o
Viagra”, explicou o cientista.
Ainda segundo o farmacêutico, em vez
de aumentar a frequência cardíaca — como ocorre com usuários do Viagra
—, a molécula natural reduz batimentos. Além disso, não foram
constatadas ocorrências de vermelhidão, ansiedade e hiperatividade,
também presentes no uso do remédio.
Descoberta inovadora
A molécula que combate a disfunção
erétil inibe a enzima fosfodiesteraze tipo 5, o que favorece a ereção,
mecanismo semelhante ao de drogas já existentes no mercado. Marcio Luís
lembra que a ação é reversível e que o pênis dos camundongos voltaram ao
estado normal na pesquisa. Em 2004, o efeito foi observado pela
primeira vez.
Cinco anos mais tarde, a equipe da
Unifran voltou a estudar o assunto e confirmou o efeito da molécula na
ereção. Este ano, diz o pesquisador, foi depositada a patente nos
Estados Unidos, Europa, Japão e no Brasil. “A descoberta foi considerada
de extrema inovação”.
A planta é nativa da Indonésia e
usada na culinária também na Índia. Mas o farmacêutico alerta que não
adianta ingeri-la esperando efeito ‘afrodisíaco’: o estudo foi feito com
uma molécula isolada.
Sobre a pesquisa relacionada à
Doença de Chagas, Márcio Luís conta que conseguiu desenvolver uma
molécula que trata a doença, sem ser tóxica. “Se tivéssemos o
medicamento pronto, poderíamos reduzir ou acabar com a doença. Aguardo
financiamento”.