IBAMA dá show na TV. Show de incompetência, é claro!
Enquanto isso, o tráfico de animais corre solto na cara do IBAMA
A série sobre o tráfico de animais
silvestres, que vem sendo exibida durante essa semana no telejornal Bom
Dia Brasil, da TV Globo, apesar de me parecer bem intencionada, mostra
apenas como o jornalismo, de um modo geral, ainda é raso e inconsistente
ao abordar os temas ambientais.
Uma das matérias começa explorando de
forma bastante teatral – inclusive com o uso de câmera presa ao corpo de
um fiscal – uma incursão da fiscalização do IBAMA num sítio onde,
pretensamente, flagrariam um traficante de animais silvestres em ação.
As imagens mostram o fiscal do órgão
ambiental correndo desesperadamente numa estradinha de terra, pistola em
punho e paramentado no melhor estilo rambo, como se estivesse num campo
de batalha localizado entre as fronteiras da Síria e do Iraque. Corre o
fiscal prá lá, corre o fiscal pra cá, adentra numa casinha humilde e
faz a sua formidável descoberta: não havia ninguém ali a não ser algumas
sofridas aves presas em gaiolas. O fiscal então se limita a quebrar as
tais gaiolas e a soltar os passarinhos, numa ruminante estratégia de
destruir as provas de um possível crime. Sensacional! A Polícia Federal
deveria aprender como se faz. E agora as Polícias Militares também já
sabem: se entrarem numa casa e encontrarem um veículo que seja suspeito
de ser fruto de roubo, não há outra coisa a fazer: faz fogueira com ele.
Até aqui a reportagem do jornalista
Carlos de Lannoy mostra apenas o óbvio: a fiscalização do IBAMA é muito
boa para intimidar gente pobre da Caatinga. Disso todo mundo sabe. O que
talvez muita gente não sabia, e que a matéria ajudou a esclarecer, é
que o IBAMA não tem inteligência o suficiente nem para prender um pobre
lavrador em fragrante delito. E falo de inteligência operacional, de
estudo, de planejamento. Ou seja, armam o circo, preparam o show e
esquecem de se certificar por onde andaria o ator principal, que no caso
é o humilde lavrador suspeito de tráfico de animais. Podiam pelo menos
ter estudado um pouco mais os hábitos do “perigoso” meliante, para saber
a hora que ele se encontraria em casa. Ficaria mais bonitinho na
telinha da TV.
Enquanto isso, o tráfico de animais
corre solto na cara do IBAMA. Ou melhor, corre nas telas dos
computadores. Se o órgão quisesse de fato mostrar competência, ao invés
de espetáculo insosso, bastaria seus “rangers” navegarem na internet
para localizar milhares e milhares de anúncios de venda ilegal da fauna
brasileira. Economizariam muito em roupas camufladas e passagens aéreas
para o sertão.
A matéria continua na mesmice de sempre.
Passarinho na gaiola aqui, passarinho na gaiola acolá e mais meia dúzia
de gente pobre tentando se defender dos microfones impositivos e da
postura intimidadora do IBAMA. Uma típica ação de Estado degolando
alguns miseráveis, para mostrar poder e dar um pouco de satisfação a uma
sociedade que banca uma estrutura governamental falida e desacreditada.
Nada, absolutamente nada de novo. Nenhum
questionamento ou abordagem mais profunda sobre o tema. A reportagem
limitou-se a velha fórmula estereotipada “pobre=bandido”.
Já se aproximando do final, a matéria
mostra uma juíza de Direito que possui uma cobra como um animal de
estimação. A magistrada apresenta os documentos que mostram que o animal
é de origem legal, que foi adquirido num criadouro autorizado e que
possui as devidas Notas Fiscais. Um belo exemplo da juíza.
Exemplo esse que foi transformado em
desinformação jornalística pela apresentadora Ana Paula Araújo ao
afirmar, em tom de reprovação e de quase deboche, que a juíza estava
dando um mau exemplo “ao retirar a serpente da natureza e aprisioná-la“.
Pelo visto a apresentadora não estava prestando a mínima atenção na
reportagem que estava sendo exibida ou então ela não sabe diferenciar
legalidade da ilegalidade. Tomara que a juíza não decida processá-la
para que ela aprenda um pouco mais a respeito dos meandros jurídicos.
Na matéria exibida hoje (CLIQUE AQUI)
mais do mesmo outra vez: o fiscal continua ostentando o seu poderoso
uniforme de combate na mãe de todas as batalhas: apreender meia dúzia de
gaiolas em portas de botequins. E o espetáculo continua: mas dessa vez o
IBAMA mostra sua poderosa arma secreta: um talão de multa que dispara
milhares e milhares de Reais. Mais uma balela para enganar o respeitável
público. O IBAMA provavelmente é o órgão federal que mais aplica multas
que nunca serão arrecadas. Se o cidadão multado não pagar a multa, o
máximo que pode acontecer é ter seu nome inscrito no CADIN e ficar
impedido de fazer convênios com o Poder Público. Creio que o dono do
botequim ou a dona que casa multados na matéria não tenham a mínima
pretensão de se tornarem fornecedores do governo federal.
Essas duas matérias da série que está
sendo apresentada pelo Bom Dia Brasil já são o suficiente para
constatarmos o gravíssimo estado de degradação das políticas ambientais
brasileiras. O IBAMA, nos últimos anos, tornou-se um símbolo do que há
de pior na administração pública: um reduto de burocratas inúteis.
A ministra do Meio Ambiente, Izabella
Teixeira, herdou uma estrutura que foi destruída pela ex-ministra Marina
Silva com a criação do Instituto Chico Mendes (ICMBIO) e do Serviço
Florestal Brasileiro (SFB). Mas parece que a Srª Teixeira está cada vez
mais empenhada em aprimorar a obra da Srª Silva.
E nesse meio de campo, infelizmente, a
fauna silvestre brasileira continua entregue à própria sorte, tendo o
seu destino jogado nas mãos daqueles que, ao invés de agirem com
seriedade e competência, preferem ficar bancando o Sylvester Stallone na
telinha da TV.
Fonte: RG 15/O Impacto e Dener Giovanini