quarta-feira, 8 de abril de 2015

ESGOTO DA CARGIL CONTAMINA RIO TAPAJÓS ( E AGORA?)

Ambientalistas e moradores do Laguinho denunciam contaminação causada pelo esgoto


Construção de um esgoto nas obras de ampliação do terminal graneleiro deságua no rio Tapajós
Construção de um esgoto nas obras de ampliação do terminal graneleiro deságua no rio Tapajós
A construção de um esgoto nas obras de ampliação do terminal graneleiro da multinacional norte-americana Cargill Agrícola e que deságua no rio Tapajós tem tirado o sono de ambientalistas e de moradores do bairro do Laguinho, em Santarém, no Oeste do Pará. A contaminação, segundo ambientalistas, se agrava durante as chuvas que caem com freqüência na cidade, onde lama, dejetos e restos de material de construção são despejados diretamente no leito do rio Tapajós.
Quem visita o Bosque da Vera, próximo a quadra de esportes, se depara com o esgoto a céu aberto. A obra causa revolta em quem mora ou visita Santarém. Para os visitantes, o paisagismo da cidade também fica comprometido devido o problema de contaminação do rio Tapajós.
Segundo um arquiteto de Santarém, a orla da cidade possui todas as características naturais para ser bonita, enaltecendo a verdadeira “Pérola do Tapajós”. Mas, para ele, infelizmente, os gestores não conseguem manter nem a frente da cidade, o principal cartão postal, limpa, cheirosa e agradável, para que tanto os moradores quanto os visitantes possam curtir as tardes prazerosas e as noites serenas.
Quem caminha pela orla sempre se depara com muita sujeira, peixes podres, fezes das embarcações, buracos, mau cheiro e vegetação agressiva ao ambiente. O arquiteto denuncia que tudo isso foi o que restou de uma praia limpa e branquinha no passado, onde as famílias santarenas se banhavam, o que se consolida numa triste realidade.
Nos últimos seis anos, várias foram as perdas de área de lazer dos moradores do Laguinho e de outros bairros de Santarém, para a empresa portuária Cargill Agrícola.
Entre as perdas está o antigo Campo da Vera Paz, onde dezenas de atletas sugiram para brilhar em vários clubes de Santarém, do Pará e do Brasil. Além da prática esportiva, o Campo da Vera Paz também servia como espaço para a realização de eventos promovidos por moradores do Laguinho.
Uma pessoa ligada ao meio ambiente informou à nossa reportagem que a Secretaria Municipal de Meio Ambiente está fechando os olhos para esse crime ambiental praticado pela Cargill, pois, segundo essa pessoa, a multinacional teria sido a principal financiadora da recuperação do Centro Municipal de Informação e Educação Ambiental (CIAM), que funciona na antiga garagem da Prefeitura, na orla da cidade.
SÍTIO ARQUEOLÓGICO: Em agosto de 2009, a Companhia Docas do Pará (CDP) para garantir a escavação de um sítio arqueológico pela Universidade Federal do Pará (UFPA) usou força policial, para conter o protesto dos moradores que reivindicavam o não fechamento do Campo da Vera Paz, no bairro do Laguinho.
Na época, os moradores do Laguinho reclamaram que durante 30 anos, o Instituto de Pesquisas Arqueológicas Nacional (IPHAN) nunca se preocupou de zelar pela área arqueológica da Vera Paz, inclusive quando a CDP arrendou o primeiro lote à Cargill em 1999. Ali, segundo a arqueóloga Anna Roosevelt, havia relíquias indígenas. Porém, Os moradores afirmam que de forma estranha, o IPHAN exigiu cuidar das escavações.
Em 2010 os trabalhos da segunda etapa do projeto de salvamento do sítio arqueológico, localizado no antigo campo da Praia da Vera Paz reiniciou no dia 16 de janeiro e prosseguiu até o dia 5 de fevereiro. O principal objetivo foi buscar informações que pudessem esclarecer o modo de vida dos primeiros habitantes com suas formas de pensar, agir e sobreviver com os recursos oferecidos pela natureza. O trabalho ocorreu sob coordenação da professora Denise Schaan e contou com o auxílio de diversos profissionais em um trabalho minucioso na área do antigo Campo da Vera Paz, onde vestígios marcam a presença de habitantes por volta do século XIII.
Em maio de 2014, a empresa graneleira Cargill anunciou a ampliação do seu porto em Santarém. A iniciativa teve como meta ampliar as exportações de 2 milhões de toneladas por ano para 5 milhões de toneladas de grãos. Na época, a Cargill anunciou que iria gerar 700 empregos na cidade e que iria aumentar o progresso. Dos benefícios que a empresa alegou que traria para a sociedade, um seria o aumento de emprego e renda. Para isso, iria construir mais armazéns, ocupando toda a área da CDP, entre as quais o antigo campo da Vera Paz. Hoje, a população santarena desconfia dos investimentos da Cargill, na orla da cidade, principalmente em relação à questão ambiental, com os impactos causados pelas obras de ampliação do terminal graneileiro.