segunda-feira, 28 de setembro de 2015

SEXO X OURO

No garimpo sexo era trocado por ouro

No garimpo sexo era trocado por ouro (Foto: Wagner Almeida)
Danielle estava livre do “Clube Dragon” e do namorado violento, Quando resolveu se prostituir em uma boate num garimpo, ainda tinha medo. Tinha ouvido várias histórias. Era o final do ano de 2004 e o risco de passar novamente por situação degradantes era grande. No entanto, a esperança de conseguir dinheiro trocando sexo por gramas de ouro era a sua única oportunidade para poder voltar para o Brasil.“Fui para o garimpo com medo, mas pensei muito na minha família. Eu precisava de dinheiro. Precisava conseguir muito dinheiro para voltar para o Brasil. Eu não aguentava mais aquela vida”.
TRÊS GRAMAS
Danielle conheceu a mulher que era a dona do cabaré no garimpo em um hotel. Conseguiu pagar a própria passagem de avião. Encontrou um local completamente diferente. Foram travessias de rios, caminhadas em matas, na lama, e caminhos tortuosos até chegar no “Bar da Zenólia”. “Eu fiquei lá durante 15 dias. De lá, eu estava decidida a voltar. O pagamento era só no ouro. Cada programa custava três gramas de ouro”, detalha.
Durante o curto período em que permanecia na segunda casa de prostituição, Danielle conheceu um brasileiro, paraense, natural do município de Santarém. Decidida a voltar para Belém, ela teve a ajuda do companheiro. “Ele me deu duzentos gramas de ouro, mas ainda tive que voltar a Nickerie, para pegar os meus documentos, que ainda estavam com meu ex”.Com a ajuda do novo companheiro paraense, ela conseguiu voltar para a família. Alguns dos seus sonhos começaram a se realizar gradativamente. Na primeira volta para o Brasil, em 2005, ficou um mês aqui. Depois retornou ao Suriname, já mantendo o novo relacionamento. “Entre idas e vindas, em 2008, eu voltei de vez. O nosso relacionamento começou a dar errado. Eu estava longe da minha família, me sentia muito sozinha. Começaram as brigas. Queria melhorar minha vida. Tinha cansado da mata, daquela rotina”.
Depois de tomar a decisão de voltar definitivamente, durante o período em que viveu no Suriname ao lado do brasileiro, no garimpo, Danielle conseguiu ajudar bastante a sua mãe. Comprou a sua casa própria e reestruturou sua família consideravelmente. Tragicamente, porém, há cerca de três anos, o ex-companheiro dela morreu durante uma explosão dentro do garimpo. 
NOVAS LUTAS
Hoje Danielle Lima trabalha como recepcionista. Apesar de ter retornado em 2008 definitivamente ao Brasil, admite que até hoje sofre com o preconceito das pessoas. Quando voltou para casa, sentiu vergonha, Não contou à sua mãe de criação tudo o que havia passado no Suriname. A lembrança da sua mãe de criação faz brotar lágrimas nos olhos. Ela faleceu há dois anos. “Eu trouxe vários ursos de pelúcia de lá, mas os joguei fora. Quando eu abraçava um urso lembrava muito da minha filha. Era como se eu estivesse abraçada com a minha família. Sentia muita falta dos meus filhos enquanto estava lá. Foi muito difícil ficar longe de tudo e da minha mãe”.Para Danielle, compartilhar histórias com as outras mulheres, ligadas à Sociedade de Defesa dos Direitos Sexuais na Amazônia (Sodireitos) foi renovador.
A oportunidade veio após um convite de uma colega que já participava do grupo e soube de sua história. “Nunca contei para ninguém o que aconteceu comigo. Só quando descobri a Sodireitos e conheci outras histórias de outras meninas. Mas mesmo assim nunca contei todos os detalhes como estou contando para vocês”, sorri. Danielle revela um fato duro da realidade do tráfico de mulheres. Só depois de participar das palestras descobriu realmente que havia sido vítima de tráfico humano. “Os aliciadores procuram justamente as mulheres frágeis, em dificuldades, que têm família, filhos. É muito importante ter informação para que ninguém mais passe por isso”. 
(Fabrício Nunes/Diário do Pará)