Em mensagem, Temer diz que é preciso um governo de 'salvação nacional' e alerta que haverá sacrifícios
Em mensagem de quase 15 minutos enviada
por engano a parlamentares do PMDB, o vice-presidente da República,
Michel Temer, disse que “aconteça o que acontecer” é preciso construir
um governo de “salvação nacional” e alertou que haverá “sacrifícios”
para retomar o crescimento. O áudio do vice antecipa o discurso que
seria feito à Câmara caso a Casa autorizasse a abertura de processo de
impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, o que está previsto para
ocorrer apenas no próximo fim de semana.
“Aconteça o que acontecer no futuro, é
preciso um governo de salvação nacional e, portanto, de União nacional. É
preciso que se reúna todos os partidos políticos e todos os partidos
políticos estejam dispostos à colaboração para tirar o País da crise”,
afirmou Temer no áudio ao qual o Estado teve acesso.
Temer diz no áudio que “sem essa unidade nacional, penso que será difícil tirar o País da crise em que nos encontramos”.
O atual vice-presidente da República
diz, como “substituto constitucional da presidente da República”, que o
País terá que se submeter a sacrifícios. “Vamos ter muitos sacrifícios
pela frente. Sem sacrifícios não conseguiremos avançar para retomar o
crescimento e o desenvolvimento que pautaram a atividade do nosso País
nos últimos tempos antes desta última gestão”, afirmou.
Temer diz no áudio que, assumindo a
Presidência, manterá programas sociais como Bolsa Família, Pronatec e
Fies. “Sei que dizem de vez em quando que, se outrem assumir, vamos
acabar com Bolsa Família, vamos acabar com Pronatec, vamos acabar com
Fies. Isso é falso. É mentiroso e fruto dessa política mais rasteira que
tomou conta do País. Portanto, neste particular, quero dizer que nós
deveremos manter estes programas e até, se possível, revalorizá-los e
ampliá-los”, afirmou.
O vice diz, no entanto, que o Bolsa
Família será um programa de transição em seu eventual governo. “Há de
ser um estágio do Estado brasileiro. Daqui a alguns anos, a
empregabilidade tenha atingido um tal nível que não haja necessidade de
Bolsa Família. Mas, enquanto persistir a necessidade, manteremos”,
afirmou.
O vice-presidente diz também que terá a
retomada dos empregos. “Para que haja emprego, é preciso que haja uma
conjugação dos empregadores com os trabalhadores. Você só tem emprego se
a indústria, o comércio, as atividades de serviço todas estiverem
caminhando bem. A partir daí que você tem emprego e pode retomar o
emprego”, afirmou.
Ele defendeu ainda as parcerias
público-privadas para que o Estado fique responsável exclusivo apenas de
algumas áreas específicas. “Vamos incentivar enormemente as parcerias
público-privadas à medida que isso pode trazer emprego ao País. Temos
absoluta convicção de que hoje, mais do que nunca, o Estado não pode
tudo fazer. O Estado depende da atuação dos setores produtivos do País.
Empregadores de um lado, trabalhadores de outro lado. Estes setores
produtivos é que, aliançados, vão fazer a prosperidade do Estado
brasileiro. Estado brasileiro tem que cuidar de segurança, saúde,
educação, enfim, de alguns temas fundamentais que não podem sair da
órbita pública. Mas, no mais, tem que ser entregue à iniciativa
privada”, afirmou.
Leia a íntegra da mensagem de Temer:
“Quero neste momento me dirigir ao
povo brasileiro para dizer algumas das matérias que penso que devam ser
por mim agora enfrentadas. Faço naturalmente com muita cautela porque,
na verdade, sabem todos, há mais de um mês eu me recolhi precisamente
para não aparentar que eu estaria cometendo algum ato, praticando algum
gesto com vistas a ocupar o lugar da senhora presidente da República.
Recolhi-me o quanto pude. Mas,
evidentemente, neste período fui procurado por muitos aflitos com a
situação do nosso País. Agora, quando a Câmara dos deputados decide por
uma votação significativa declarar a autorização para a instauração de
processo de impedimento contra a senhora presidente, muitos me
procuraram para que eu desse ao menos uma palavra preliminar à nação
brasileira, o que faço com muita modéstia, com muita cautela, com muita
moderação, mas também em face da minha condição de vice-presidente e,
naturalmente, substituto constitucional da senhora presidente da
República.
Desde logo, quero afirmar que temos
um longo processo pela frente, passando pelo Senado Federal. Todas as
minhas palavras levarão em conta apenas a decisão da Câmara dos
Deputados. Portanto, também minhas palavras são provisórias, já que
temos que aguardar e respeitar a decisão soberana que o Senado Federal
proferirá a respeito deste tema. Seja quando à admissibilidade da
autorização, seja quanto, ao final, o julgamento propriamente dito.
Portanto, quero, neste momento, prestar uma homenagem ao Poder
Legislativo, tanto à Câmara dos Deputados, que já debateu amplamente
este assunto, quanto ao Senado Federal, que irá debater. E, desde logo,
quero comunicar aos amigos e colegas, homens públicos, senadores da
melhor cepa, sabedoria, que aguardarei respeitosamente a decisão do
Senado Federal. Não quero avançar o sinal. Até imaginaria que eu poderia
falar depois da decisão do Senado, mas sabem todos os que me ouvem que,
quando houver a decisão definitiva, a decisão do Senado, preciso estar
preparado para enfrentar os graves problemas que hoje afligem o nosso
País.
Desde logo quero dizer aos que me
ouvem, repetir, na verdade, o que tenho pregado ao longo do tempo. Os
senhores sabem, os brasileiros sabem que, há mais de oito, dez meses,
tenho feito pronunciamentos referentes à pacificação do País, à
unificação do País porque é chocante, para não dizer tristíssimo,
verificar os brasileiros controvertendo-se entre si, disputando ideias e
espaços, até aí tudo bem. Mas, quando parte para uma coisa quase
física, isso não pode acontecer no nosso País.
A grande missão, a partir deste
momento, é a da pacificação do País, da reunificação do País. Estou
repetindo o que venho dizendo há muito tempo como responsável por uma
parcela da vida pública nacional. Devo dizer também, isto fica para
aconteça o que acontecer no futuro, que é preciso um governo de salvação
nacional e, portanto, de União nacional. É preciso que se reúna todos
os partidos políticos e todos os partidos políticos estejam dispostos à
colaboração para tirar o País da crise. Sem essa unidade nacional, penso
que será difícil tirar o País da crise em que nos encontramos. Para
tanto, é preciso diálogo. O fundamental agora é diálogo. Em segundo
lugar, a compreensão. Em terceiro lugar, para não enganar ninguém, a
ideia de que vamos ter muitos sacrifícios pela frente. Sem sacrifícios
não conseguiremos avançar para retomar o crescimento e o desenvolvimento
que pautaram a atividade do nosso País nos últimos tempos antes desta
última gestão.
É preciso retomar o crescimento e eu
não quero que isto fique em palavras vazias. Tenho muita convicção,
como muitos me dizem que a mudança pode gerar esperança e que, gerando
esperança, isso pode gerar investimentos não só investimentos nacionais,
mas investimentos estrangeiros. Precisamos restabelecer a crença no
Estado brasileiro, nas potencialidades do Estado brasileiro. Devo dizer
aos que me ouvem que fiz muitas viagens internacionais no primeiro
mandato e verifiquei o quanto os outros países que têm muito dinheiro em
suas mãos querem fazer aplicando no Brasil. Querem acreditar no Brasil.
O que aconteceu nos últimos tempos
foi um descrédito no nosso País e o descrédito é o que leva à ausência
do crescimento, à ausência do desenvolvimento, que faz retomar a
inflação. De um lado, portanto, temos absoluta convicção de que é
preciso prestigiar a iniciativa privada, é preciso que os empresários do
setor industrial, do setor de serviços, do setor agrícola, do setor do
agronegócio, dos vários setores da nacionalidade se entusiasmem
novamente com estes investimentos.
Ao dizer isso, estou pensando apenas
naqueles que possam investir? Não. Diferentemente, estou pensando em
manter as conquistas sociais dos últimos tempos. Por exemplo, o emprego é
uma coisa fundamental para todos os brasileiros. Para que haja emprego,
é preciso que haja uma conjugação dos empregadores com os
trabalhadores. Você só tem emprego se a indústria, o comércio, as
atividades de serviço todas estiverem caminhando bem. A partir daí que
você tem emprego e pode retomar o emprego.
De outro lado, devo dizer também
que, de fora parte um projeto pela empregabilidade plena, é preciso
manter certas matérias sociais porque nós todos sabemos que o Brasil
ainda é um País pobre. Portanto, e eu sei que dizem de vez em quando
que, se outrem assumir, vamos acabar com Bolsa Família, vamos acabar com
Pronatec, vamos acabar com Fies. Isso é falso. É mentiroso e fruto
dessa política mais rasteira que tomou conta do País. Portanto, neste
particular, quero dizer que nós deveremos manter estes programas e até,
se possível, revaloriza-los e ampliá-los até que, isto eu quero deixar
claro, o Bolsa Família, por exemplo, há de ser um estágio do Estado
brasileiro. Daqui a alguns anos, a empregabilidade tenha atingido um tal
nível que não haja necessidade de Bolsa Família. Mas, enquanto
persistir a necessidade, manteremos.
Lanço uma mensagem àqueles que têm o
capital e àqueles que querem uma mensagem do trabalho e lanço uma
mensagem para aqueles que sequer trabalho ainda conseguiram. Claro que
vamos incentivar enormemente as parcerias público-privadas à medida que
isso pode trazer emprego ao País. Temos absoluta convicção de que hoje,
mais do que nunca, o Estado não pode tudo fazer. O Estado depende da
atuação dos setores produtivos do País. Empregadores de um lado,
trabalhadores de outro lado. Estes setores produtivos é que, aliançados,
vão fazer a prosperidade do Estado brasileiro. Estado brasileiro tem
que cuidar de segurança, saúde, educação, enfim, de alguns temas
fundamentais que não podem sair da órbita pública. Mas, no mais, tem que
ser entregue à iniciativa privada. Iniciativa privada no sentido da
conjugação da ação entre empregadores e trabalhadores. Neste particular,
pretendemos fazer várias reformas que incentivem a harmonia entre esses
dois setores da produção brasileira.
Tudo isso que estou a dizer
significará, devo registrar, sacrifícios iniciais para o povo
brasileiro, em primeiro lugar. Em segundo lugar, não quero gerar nenhuma
expectativa falsa. Não pensemos que, se houver uma mudança no governo,
em três, quatro meses estará tudo resolvido. Em três, quatro meses,
poderá começar a ser encaminhado para resolvermos a matéria ao longo do
tempo. Se houver este governo de transição, ou, se não houver, fica essa
sugestão que estou fazendo para o governo que vier a manter-se, ficam
essas sugestões que, reitero, não são sugestões por mim formuladas ou
formatadas neste momento, mas que foram feitas ao longo do tempo.
Há reformas que são fundamentais
para o País. Nós todos sabemos. Agora, toda e qualquer reforma não
alterará os direitos já formatados, já adquiridos pelos cidadãos. Mas
temos que preparar o País do futuro. Muitas matérias até estão em
tramitação no Congresso Nacional e nós queremos ter uma base
parlamentar muito sólida que nos permita conversar com a classe
política, mas conversar também com a sociedade. Os senhores sabem, os
que assistiram às minhas palestras nos últimos tempos, que eu faço uma
distinção e uma conjugação de governo, governança e governabilidade para
dizer que o governo são os órgãos constituídos, não tem a menor dúvida,
Executivo, Legislativo, Judiciário. A governança vem pelo apoio
político que o governo consegue dos partidos políticos e do Congresso
Nacional. Mas é preciso mais do que isso. É preciso a governabilidade. A
governabilidade exige que haja uma aprovação popular do próprio
governo. Portanto, a classe política unida com o povo levará ao
crescimento do País e, portanto, ao apoio ao governo. É com esses três
fatores que vamos lidar.
É claro que não vou falar aqui sobre
reformas que são fundamentais porque isso será fruto de um
desdobramento ao longo do tempo. Como não pensar numa reforma política?
Como não pensar numa reforma tributária? E, evidentemente, a reforma
tributária envolve um outro tema, que é a revisão do pacto federativo.
Toda vez que você pensa numa reforma tributária, você está pensando na
distribuição de competências e de recursos para as entidades
federativas.
É preciso, mais do que nunca, que as
entidades federativas tenham uma autonomia verdadeira. Ou seja, que nós
tenhamos uma Federação real e não uma Federação artificial com o tem
acontecido nos últimos tempos. Sei, por exemplo, no tópico da
Federação, da grande dificuldade dos Estados e municípios nos dias
atuais. Há estudos referentes à eventual anistia ou perdão de uma parte
das dívidas e até da revisão dos juros que são pagos pelas unidades
federadas. Vamos levar isso adiante. Vamos estudar isso com muita
detença e vamos levar isso adiante porque a força da União deriva também
da força dos Estados e da força dos municípios. A força dessas
entidades federativas depende da boa vontade e do apoio da classe
política e do povo brasileiro.
Há matérias controvertidas como
aquela referente à legislação trabalhista e à legislação previdenciária
que nós vamos fazer com um grande diálogo nacional onde nenhum setor
será esquecido, nem dos trabalhadores, nem dos empresários, nem do povo
brasileiro. Toda e qualquer modificação que vier a ser feita será para
garantir o futuro mesmo daqueles que já recebem salário, que recebem
aposentadoria. É neste termo que nós vamos trabalhar.
Ou seja, o diálogo de um lado e a
conjugação de esforços do outro lado serão os alicerces, digamos assim,
do nosso trabalho. É esta a manifestação que eu queria deixar ao povo
brasileiro.”
Fonte: Jornal Jurid