quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Voto útil

Votar, em si, já não é lá muito animador pra muita gente. A primeira sensação que vem é a de desgosto com a política, com a politicagem, depois a decepção com os políticos. Sem falar no cheiro de naftalina. Além disso tudo, discussões cansativas, tempo de deslocamento, fila e ainda perder o encontro com os amigos. E todo esse “custo” por causa de um único voto – que, no entender individual, não vai ser relevante (entre os outros 147 milhões) a ponto de afetar o resultado geral das eleições.
Será que é bem assim?
Vejamos a racionalidade por trás do voto: a motivação individual para votar é justamente o benefício que se espera do voto. O efeito que o eleitor acredita que seu voto terá para melhorar a política. Essa motivação contudo é ponderada pela probabilidade de um único voto alterar o resultado. Desconte ainda os “custos” para votar (de tempo, de oportunidade…). O resultado é pequeno, certo?
Por isso o voto individual parece insignificante. O retorno esperado para o eleitor, praticamente zero. E o custo, alto.
Mas o eleitor não quer jogar fora seu voto. É a sua vez de participar. E ele quer que isso faça alguma diferença. E votar em algum candidato que não seja um dos que estão, de fato, no páreo soa como jogar o voto fora. Eles sentem que seu voto fará mais sentido, será mais útil, se votarem em um dos candidatos favoritos em vez de votar no de sua preferência, para evitar o resultado que considera ruim.
Daí surge o que chamamos em Escolha Pública de voto estratégico, voto útil, como tendência de comportamento do eleitor médio. À medida que as pesquisas vão apontando favoritos, os votos dos outros candidatos vão migrando para os favoritos que os eleitores entendem ser a opção menos ruim. À medida que os favoritismos vão se consolidando, os votos dos não preferidos vão sendo estrategicamente reposicionados.

Os dados apontam que os eleitores de Geraldo Alckmin e Ciro Gomes têm maior tendência de mudarem para um voto estratégico, com 36% e 35% de chance, respectivamente.
Os eleitores de Jair Bolsonaro e de Fernando Haddad são, nessa ordem, mais fiéis.
O problema do voto é que, se for considerado isoladamente, reduziria a campanha a uma corrida para angariar mais votos rapidamente, logo no início. E esvaziaria o debate de ideias e projetos ao longo da campanha.
O voto não deveria ser uma atração gravitacional para a maior massa. O eleitor deveria ser chamado à consciência de que manter manter seu voto autêntico traz um melhor equilíbrio ao jogo e aumenta o foco nas propostas. Essa seria a escolha racional.
Mas essa não é uma escolha racional. Nunca foi.
E você, leitor, manterá seu voto autêntico?