segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

OPINIÃO - Jornalista Lana Mota.


Além da ficção, Cidade Invisível faz críticas a crimes ambientais e valoriza lendas brasileiras

Série da Netflix lançada no último dia 5 de fevereiro, está entre as mais assistidas em vários países

Como falar da nova série da Netflix, “Cidade Invisível” e não falar de cultura? A série lançada no último dia 5 de fevereiro, está entre as mais assistidas em vários países e vem ganhando muitos amantes do folclore brasileiro e também do audiovisual. Uma super produção criada por Carlos Saldanha que tem em seu elenco atores talentosos que souberam incorporar seus personagens de maneira espetacular. 

A cultura é um patrimônio importante de um povo, pois resulta dos conhecimentos compartilhados entre as pessoas e seu espaço que é recriado e passado por gerações. É ela que define a resposta da fé, influenciando o modo de ser/estar no mundo, as relações da natureza e a sociedade. Seu conceito é um dos principais nas ciências humanas e sociais. Para a Antropologia, ciência que tem ela como objeto de estudo, caracteriza-a como todas as realizações imateriais e aspectos espirituais de um povo. 

Cuca, saci-pererê, porco do mato, iara, curupira e o boto são as entidades mais conhecidas em nossas culturas através das lendas contadas por nossos antepassados, fazem parte da infância de muitas pessoas e aguçam a imaginação das crianças de acordo com a região do país. Alguns desses personagens são mais conhecidos por causa do sítio do pica-pau amarelo de Monteiro Lobato como a Cuca e o Saci, mas o que chama atenção também é a morte de um boto, espécie natural de água doce, representado pelo personagem “Manaus”, que é um homem charmoso, com roupas entreabertas que visita as festas e encanta a cabocla, engravidando-a futuramente e logo depois retornando ao seu estado normal de animal. 

É interessante perceber que assim como esta história do boto, todas as outras se entrelaçam com um roteiro que posso dizer, impecável, escrito com o máximo de cuidado com os personagens e a veracidade das lendas que são representadas por entidades na série. Tudo bem sincronizado e adaptado à nossa realidade. O autor foi muito feliz, quando além de representar o folclore brasileiro, levantou outros temas que precisam ser enfatizados como a depressão pós-parto e o desmatamento na Amazônia.  

Ser representada por um produto que obedece a uma linguagem objetiva, clara e concisa, possibilitou que muitos paraenses tivessem suas manifestações culturais e sociais valorizadas, que é o caso do Sairé, realizado no interior da Amazônia, com sincronismo de tradições e a disputa dos botos cor de Rosa e Tucuxi, além de ser um grande potencial turístico para o norte e para o Brasil.   

É importante salientarmos que as cenas gravadas no Rio de Janeiro, remetem ao nosso cartão postal e ao centro do cinema brasileiro, deixando bem claro no decorrer dos episódios que se tratava de um mamífero natural do norte e o mistério de ter sido encontrado por Eric, o policial ambiental e protagonista do seriado, na praia carioca. A ganância pelo dinheiro, grilagem e outras cenas que demonstram a crueldade do homem com a natureza reflete em outra lenda que é a do curupira, umas das peças fundamentais que podem conscientizar através da ficção problemas latifundiários em florestas, egoísmo pelo poder e destruição do meio ambiente. 


Lana Mota
Assessora de Imprensa