segunda-feira, 21 de novembro de 2022

Prefeitura abre a 1ª afroteca na rede municipal de ensino; a 2ª em Santarém




A Prefeitura de Santarém (PA), gestão Nélio Aguiar (UB), em parceria com o projeto Kiriku, da Ufopa (Universidade Federal do Oeste do Pará), inaugurou no sábado (19), no Centro Municipal de Educação Infantil (Cemei) Paulo Freire, a Afroteca Amoras, uma biblioteca voltada ao estudo da cultura negra e afrodescendente para a educação infantil.

A afroteca recebeu do Kiriku todo o mobiliário com casinhas das bonecas, hacks para exposição de livros, jogos, instrumentos musicais como um berimbau infantil e diversos brinquedos, kit de percussão afro com 22 peças, uma coleção de nove jogos afrocentrados, além de DVDs e um acervo de 40 livros sobre literatura infantil antirracista.

O espaço vai acolher as crianças e incentivar a brincadeira e leitura na perspectiva afrocentrada em uma educação infantil antirracista, uma vez que o projeto Kiriku investiga as relações raciais na primeira infância.Homenageada: Quem foi Willivane Mello, a educadora que dá nome a 1ª afroteca do Pará.
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A solenidade de inauguração contou com a apresentação de uma roda de capoeira com o grupo Capoeira Brasil. A coordenadora do Cemei Paulo Freire, professora Geonilce Miranda, disse que a afroteca é fruto de observações de conversas entre as crianças.

“Foi a partir dessas conversas que surgiu a parceria com o professor Luis Fernando, da Ufopa, com oficinas, palestras, mas ele só era chamado em novembro. Hoje, entendemos que datas importantes como o Dia da Consciência Negra não devem ser lembradas apenas em novembro, mas ao longo de todo o ano. Por isso acredito que essa biblioteca veio pra somar, para complementar e fortalecer ainda mais o aprendizado das nossas crianças”, pontua a educadora.

Para o professor Luis Fernando França, coordenador do projeto Kiriku, é importante construir uma educação antirracista desde a infância. “Hoje é um dia histórico pra nós do projeto e para educação infantil de Santarém, porque estamos inaugurando a segunda afroteca no município de Santarém e a primeira em um centro de educação infantil, então para mim isso é fantástico”, comentou.
Teve capoeira na inauguração da afroteca na Cemei Paulo Freire

Ele ressaltou ainda que o Kiriku é um projeto de pesquisa e intervenção pedagógica. “Nós temos estudado como as relações se dão na primeira infância e a gente tem percebido que o racismo também está presente nas creches e a principal função do projeto, além de entender como o racismo está presente, é combatê-lo a partir de práticas afrocentradas e de promoção da igualdade racial”.

França destacou ainda que a afroteca é um instrumento desenvolvido a partir de livros, jogos, instrumentos musicais, brinquedos, no sentido de promover o antirracismo entre as crianças a partir do ler, do brincar, do jogar, do interagir e de construir posturas e pensamentos sentimentos igualitários de respeito a partir da infância.

“A gente precisa transformar esses locais num instrumento pedagógico para que as afrotecas não existam apenas como um espaço, mas como um fazer educativo”, destacou.

Novas afrotecas

“Vamos inaugurar ainda outras duas afrotecas nesse mês de novembro. São espaços importantes para trabalhar as relações étnico raciais a partir da educação infantil, não só com as crianças, mas também com nossos profissionais que estarão vivenciando, dentro da didática da afroteca, a questão da integração com a família, por meio dos materiais didáticos e do próprio espaço que já um ambiente em que você vivencia as etnias, tudo isso é muito importante”, destacou Vânia Barroso, técnica pedagógica da Semed (Secretaria Municipal de Educação).
Luís Fernando França, coordenador do projeto Kiriku

A professora Celina Lima, do Cemei Paulo Freire, explicou como surgiu a ideia do nome Amoras. “Na nossa leitura em forma de socialização a gente percebeu que as crianças tiveram muito interesse por conta da representatividade e a fruta em si é uma fruta que não faz parte do cotidiano deles, é uma fruta que remete a doçura, é uma fruta pequena, preta, que remete aos cabelinhos enrolados, e, numa pesquisa de campo o nome mais citado por elas foi justamente amora”.

Para Bruno Vasconcelos, membro do Movimento Negro Unificado, a afroteca é mais um reforço no combate às práticas antirracistas.

“Nesse sentido, o movimento ganha um reforço muito importante porque quando a gente trata o combate ao racismo desde as primeiras séries iniciais, desde o primeiro contato dessas crianças, a gente consegue alcançar não só essa primeira infância, esse primeiro contato social, essa construção desse cidadão, mas a gente consegue alcançar também a família, o enfrentamento ao racismo tem vários fronts e a gente precisa entender todos eles”.

A titular da Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência Social (Semtras) e primeira-dama de Santarém, Celsa Brito, participou da inauguração representando o prefeito Nélio Aguiar.

“O mês da Consciência Negra é dedicado para celebrarmos a história e a cultura afrodescendente. E é preciso debater e colocar em pauta este tema, portanto a afroteca vem somar e expandir esse universo, pois queremos que ela seja um local de referência neste estudo.”

Além do Cemei Paulo Freire outros dois cemeis também ganharão afrotecas ainda este mês. Antonia Correa, dia 25, e Raimunda Pereira de Sousa, dia 30, inauguram as bibliotecas também em parceria com o projeto Kiriku.

Além disso, também será realizado o minicurso “Por uma educação infantil antirracista: experiência de pesquisa e intervenção pedagógica afrocentrada do projeto Kiriku”, que ocorrerá no Theatro Municipal Victória, nos dias 13 e 14 de dezembro.
Bruno Vasconcelos, do Movimento Negro Unificado

AGÊNCIA SANTARÉM /BLOGDOCOLARES