segunda-feira, 20 de abril de 2009

1968, O ANO QUE NÃO ACABOU!


José Wilson Malheiros / jwmalheiros@hotmail.com
(Jornal "O Impacto")
Estou fazendo faxina nos meus arquivos. A gente começa a guardar coisas e mais coisas que com o tempo algumas podem se tornar inúteis.
A maioria dos papéis velhos são como o rancor. Enquanto estão novos pensamos que serve, guardamos na gaveta, nos escaninhos do coração. Quando o tempo passa, vemos que o papel guardado com tanta avidez não passa de lixo, de inutilidade. Temos que limpar as estantes, os baús da alma.
Remexendo a papelada encontrei alguns exemplares do "O Jornal de Santarém", que heroicamente era editado pelo Sr. Arbelo Guimarães.
Cheguei a me espantar quando vi que eu já escrevia naquele jornal desde 1965!
Portanto, descobri que tenho 44 aninhos de militância na imprensa. Digo isto orgulhoso, sim. Não aquele sentimento egoísta que faz o ser humano pensar que é melhor do que seu semelhante, mas aquela sensação de que já construímos alguma coisa.
A cidade de Santarém na época em que esse jornal circulava todo sábado ainda era menor do que é hoje.
Apesar de ser feito com linotipos, aquele tipo de impressão em que você coloca letrinha por letrinha, até formar a palavra inteira.
Conheci bem esse tipo de impressora no próprio Jornal de Santarém e no Colégio Santa Clara. Fazem parte da história.
No exemplar de número 1.358, de 14 de setembro de 1968 (lembram-se do que aconteceu em 1968, em nossa terra? Recordam os senhores do AI-5? Lembram-se do livro do jornalista Zuenir Ventura "1968, o ano que não terminou"), época em que a cidade andava bastante explosiva com a política e eu no verdor da juventude, escrevi o que agora resumo:
"CARTA ABERTA AO EMIR BEMERGUY
Parabéns pelo seu excelente artigo, publicado no dia 6. O senhor sabe e todos nós temos conhecimento que a situação política da cidade não é das melhores. É realmente constrangedora. Procura-se por todas as maneiras ofuscar o brilho da Pérola do Tapajós.
No momento preciso, sua voz foi erguida em defesa da sociedade, para que, no futuro, apesar dos pesares, não passe este momento à história como um momento carecedor de homens o senhor e outros mais que têm o denodo de levantar a voz em defesa de nossa terra.
Por analogia, poderíamos afirmar que Santarém está cheia de capoeiristas, soezes, vez por outra, em atrapalhar-lhe os passos.
Os lutadores de capoeira praticam esse esporte por mero diletantismo. Os NOSSOS capoeiristas abrigam em si um instinto MATRICIDA (embora nem todos sejam oriundos da terra), pois, em benefício próprio procuram à guisa de vampiros, sugar a energia vital da terra-mãe: O progresso.
Reconhecida capacidade moral e intelectual deveria ser o mínimo requisito exigido de um homem para chegar à edilidade. Sem isso, expõe-se a vir a ser um parasita, isto é, desprovido de auto-senso de discernimento, incapaz, portanto, de servir à coletividade, não refletindo, em hipótese alguma o pensamento do povo do qual teria que ser um lídimo representante.
Como foi ressaltado em seu artigo, necessário se faz procurar com uma lanterna, como o filósofo grego, um homem capaz em nossa cidade, mesmo entre os homens públicos.
Ainda que suplantados numericamente pelos de má estirpe, existem entre nossos políticos elementos probos e à altura de um bom desempenho de sua missão.
Contudo, a preponderância daqueles permite que venha à tona a licenciosidade, não mais às secretas, mas à vista de todos, numa humilhante afronta à população passiva e num visível desafio aos homens de bem desta terra.
Fique sabendo, Emir, que não está clamando no deserto, fazendo jus a um lugar no rol dos homens de bem, citado em seu artigo, mercê de sua atuação como o porta-voz daqueles que desejam uma "triunfal consagração de um porvir maravilhoso" para nossa cidade."