terça-feira, 31 de agosto de 2010

Por: Nelson Vinencci

Estórias e histórias da Amazônia

Nelson Vinencci é cantor e compositor da Amazônia e escreve no Blog do Espalha Brasa -  Email – nelsonvinencci@hotmail.com
CURUMIM DA AMAZÔNIA – Parte I
Era noite de setembro na Amazônia, luar claro sobre a canoa remada contra a correnteza do rio Trombetas, verão no Pará, terra de mata céu e água, meu tio Brás apertava uma pinga entre eu e meu primo Joca e o remo afincando n’água na direção da margem do rio, êta tempo de cardume e batição de peixe nos lagos de Oriximiná.
No Aimim de terra firme, pasto forte, macaxeira amanteigada, café ralo na chocolateira e conversa de caboclo feito assombração, pavulage de namorador, as caboclas puras como as águas límpidas do rio da minha molecagem, só me espiavam...
Tudo verde no fervilhar das paragens amazônicas, carro de mão, enxada, terçado amolado na pedra e nós felizes sem saber o que era esse negócio de talão de luz pra pagar... Rs!
Altas horas, um vento assobinhador por entre as folhagens do cutitiribazeiro, subia eu no pé de fruta-pão e apanhava as frutinhas pra minha tia Neca cozinhar de manhã, meu tio as quatro da manhã, saltava da rede rente a cumeeira da casa e chegava de pé no chão de barro da simples choupana cheia de sonhos e de vida.
Amazônia é suor de lavar o peito, meu tio no rumo da roça eu e Joca na ilharga da casa arrumávamos as tralhas para a pescaria primeira, o sol já varava pelo girau da tia Neca que colocava no fogo duas toras de pau d’arco, lenha de aguentar fogo. 
Armava a canoa, Joca na pilotagem e eu no remo de proa no rumo do rio Amazonas: “vamos buscar uns tucunaré”, dizia meu primo e a peia cantava nas águas barrentas ligeiras do rio mar.