Marco Aurélio, com o olhar reto do positivismo, reafirma o óbvio: "Greve de PM é crime".
O movimento por reajustes salariais tem sido marcado por conflitos entre grevistas e o Exército e pelo aumento da criminalidade da capital do estado, Salvador.
"A greve é um tema social. Mas, neste caso, ela é inconstitucional, é ilegal. Se viesse uma lei legitimando o direito de greve de militares, ela fatalmente cairia no STF, seria julgada inconstitucional", disse Mello. O artigo 142 da Constituição estabelece que ao militar são proibidas a sindicalização e a greve.
Em 2009, ao julgar uma ação que questionou a greve de policiais civis em São Paulo, o Supremo afirmou que os servidores públicos têm direito à greve. Mas o tribunal afirmou que esse direito não vale para serviços públicos realizados por grupos armados, como os policiais civis e os policiais militares.
Como bem disse o ministro, a greve é tema social, portanto permeável às
injunções e ponderações próprias da política e, por conta disso, os
governos estaduais não topam confrontar policiais em greve. Costumam
mandar baixar o porrete em categorias menos aptas ao desforço (como
professores, por exemplo). Com a tropa armada e amotinada quem haverá de
dar voz de prisão aos grevistas? Quem será o responsável pelos
cadáveres a serem contabilizados?
Muitas vezes a visão jurídica estanque do positivismo precisa ser
reforçada pelo olhar mais lasso da política. A greve de policiais é um
absurdo? Claro que é!
Mas, é um absurdo também que policiais civis e militares arrisquem a vida diariamente em troca de um soldo indigno.
Infelizmente, caros e caras, Segurança Pública neste país é ótimo
assunto para campanhas eleitorais e para animar programas
sensacionalistas da TV. Ou seja, junto com a Educação formam o binômio
mais desrespeitado da paróquia.
A inépcia das autoridades estaduais e federais no trato da questão
salarial permitiu que a situação chegasse a este nível. Que encarem as
consequências de suas ações e omissões. Melhorem o salário da tropa,
punam os excessos e restituam a ordem rompida.
É relativamente fácil exigir o cumprimento da Lei. Difícil é enxergar
através delas as contradições que movem uma sociedade que exige do
soldado um tratamento digno da Suíça e lhes paga um salário, digamos
assim, "namíbio".
