por Caetano Scannavino Filho (*)
Lamentamos profundamente a decisão da organização holandesa Terre Des
Hommes (TDH) – proprietária do navio-hospital Abaré – pela saída
abrupta da embarcação de nossa região, conforme comunicado oficial
encaminhado no ultimo dia 2/fev à Secretaria Municipal de Saúde (SEMSA)
de Santarém. Esta medida trará consequências graves à saúde dos 15 mil
ribeirinhos de comunidades carentes e remotas do Tapajós, que ficarão
desassistidos já que não existe no curto-prazo um barco substituto.Há de se reconhecer o importante apoio do TDH, através de uma cooperação iniciada em 2001 com PSA, determinante para alavancar o desafio que vimos empreendendo desde 1987 para construção de um modelo de saúde básica adaptado ao contexto amazônico, resoluto, participativo e passível de integração com as politicas publicas.
Com o inicio em 2006 das operações do Abaré, em parceria com as Prefeituras de Santarém, Belterra e Aveiro, deu-se o passo que faltava neste sentido. A partir de rodadas regulares de atendimento e educação preventiva, foram alcançados resultados significativos na melhoria da saúde comunitária.
A iniciativa bem sucedida se tornou politica publica nacional em 2010 com o lançamento pelo Ministério da Saúde (MS) da Portaria 2.191 – Saúde da Família Fluvial – que regulamenta e prevê recursos federais aos municípios de toda Amazonia e Pantanal interessados na replicação da experiência por meio de barcos-hospitais – motivo de orgulho aos envolvidos pois o que foi semeado no Tapajós estará beneficiando milhares de comunidades de outras regiões.
No entanto, não podemos ficar omissos em relação a forma pouco respeitosa com que os atuais responsáveis pelo Projeto Abaré junto ao TDH procederam as tratativas com as Instituições de nosso país, sem a flexibilidade necessária para se buscar alternativas seja para permanência definitiva da embarcação no Tapajós (como prometido no inicio da cooperação) ou ao menos até que se conseguisse um barco substituto e operante, o que demonstra falta de compromisso com a saúde dos ribeirinhos (o mais importante), com o que se construiu ao longo dos anos e com o ônus causado aos atores envolvidos antes parceiros – Governo Federal, Prefeituras, Conselhos, PSA e representações comunitárias.