Os últimos números do resultado da prova do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) no Brasil são um desastre. Um desastre que já faz parte da rotina do Ministério da Educação toda vez em que são contabilizadas as perdas e os danos de um sistema incompreensível de ensino, no qual o cidadão vai à escola e pode sair com um de diploma de “analfabeto funcional”. Ou seja, o aluno compreende, mas não entende. A Unesco define esse tipo de analfabetismo como a incapacidade dos que sabem ler e escrever mas não têm habilidade para interpretar e usar na sua vida aquilo que aprenderam.
A estratégia usada pelo poder público para divulgar o resultado pífio apontado pelo Ideb foi a de que teríamos superado as médias estabelecidas . No Brasil, a meta projetada para o ensino médio foi de 3,9. Os estudantes conseguiram 4,1, bem distante da média dos países desenvolvidos que é de 6 pontos. Então, comemoram-se as médias vermelhas abaixo de 5 pontos na escala de 1 a 10. É melhor do que nada, dizem os estrategistas do governo.
Quando a rota do Ideb alcança o Pará, mais notícias ruins. Somos um dos estados com os piores resultados na educação pública e privada. A escola Rego Barros continua sendo a nossa melhor vitrine: conseguiu destaque nacional com a média de 5,6. A média dos alunos paraenses nas séries finais do ensino fundamental foi de 3,1. No ensino médio 2,8. É o caos. Ninguém mais acredita em nada. De nada adianta o orgulho de ter a maior mina de ferro do mundo, as maiores fontes de riquezas naturais, as mais belas praias etc. e tal. Vamos continuar a mandar para o exterior as nossas riquezas, porque somos incapazes de transformar o material bruto em chips ou instrumentos do mundo moderno que valem mais. E, se no feijão com arroz já estamos ruins, imagine como estamos em setores indispensáveis da tecnologia, química, física, eletrônica, robótica e outras mais. Não dá para competir. Nós temos o que se chama de educação do faz de conta. Ainda estamos na era da lousa, do quadro negro, e ainda usamos o giz (causador de doenças aos professores). Vivemos ainda o tempo do “decoreba”de coisas inúteis e sem sentido para nossas crianças e jovens, só porque “vão cair na prova”. Enquanto isso, nos países desenvolvidos que não têm um grama de minério de ferro, nem florestas, nem abundância em água doce, professores e alunos utilizam a tecnologia táctil e conseguem uma informação em segundos. Nossos filhos, entretanto, ainda atravessam noites para conseguir fazer o dever de casa.
O Brasil precisa acabar com esse ciclo inútil e investir em educação comprometida com a vida contemporânea. Vi outro dia uma reportagem sobre seleção de empregados pelo Sine, o Sistema Nacional de Empregos, que há menos de duas décadas, em cada três ou quatro entrevistados, um estava capacitado para a vaga. Hoje são necessárias mais de cinquenta entrevistas para se achar um profissional qualificado. No Brasil, quase todo o investimento vai para o setor das ciências humanas e o governo se esquece das ciências exatas. Tem que haver, pelo menos, um equilíbrio. E o governo patrocina isso ao subsidiar faculdades que oferecem cursos e diplomas que não vão contribuir com futuro dos nossos jovens. Para que tanto diploma? Não é melhor investir em qualidade?
O atestado ou aviso de que as coisas estão mal são as greves nas quais os professores têm reiterado a lastimável situação educacional. Os resultados da Ordem dos Advogados do Brasil também são uma prova disso. Aqui no Pará, dos 2,4 mil bacharéis submetidos ao exame, apenas 306 conseguiram aprovação. Ou seja, menos de 13%. No País, a situação não foi tão diferente: a OAB aprovou apenas 15% de um total de 109.649 inscritos. Se a moda pega e os conselhos de engenharia, medicina, farmácia, economia e todos os outros resolvem aplicar o teste de aptidão profissional, o país entra num colapso total.
(*) Senador pelo PMDB do Pará e presidente do diretório estadual.
Artigo publicado no Diário do Pará, em 19 de agosto de 2012