Por: JC
Quando perguntam para um torcedor dos
camisas-feias qual é o seu maior rival a resposta é uma só: Flamengo. Se
for um tricolor a resposta será igual a do vascaíno e se o pesquisador
tiver a sorte de encontrar algum botafoguense vai ouvir a mesma coisa. O
que apenas comprova o fato de que o Flamengo, além de ser o maior e o
mais famoso, é o Bicho Papão Geral do Rio. Além de temido, imitado e
invejado, o Mengão é o protagonista dos pesadelos de toda a arco-íris.
Hoje nossa hegemonia é tão gritante que
há quem diga que no Rio o único rival do Flamengo é o próprio Flamengo,
mas eu discordo dessa tese. Primeiro porque a configuração da ordem de
grandezas cariocas nem sempre mostrou esse domínio completo e absoluto
do Flamengo dos tempos atuais. Por isso entendo nossas diferenças com os
coirmãos como rivalidades legítimas cujas raízes são muito mais
profundas que a mera disputa esportiva.
Todo mundo sabe que a rivalidade que o
Flamengo cultiva com o Fluminense é muito anterior à fundação dos dois
clubes. Ela reflete um aspecto da luta pelo poder nas elites
brasileiras, na qual o Flamengo representou as classes dirigentes
nacionais contra o poderio econômico dos Guinle e da inglesada.
Com o Vasco a rivalidade cresceu se
apoiando em duas colunas: a velha luta de classes, com o bacalhau
representando o poder emergente do dinheiro novo, e um na época ainda
justificado ultranacionalismo tupiniquim que encontrou no clube da
colônia portuguesa o inimigo natural.
Como se percebe, as rivalidades entre o
Flamengo e Flor e Flamengo e Vice se inseriam nas grandes questões
nacionais. Representavam esportivamente posicionamentos políticos e
ideológicos antagônicos. Já a rivalidade do Flamengo com o Botafogo tem
suas origens em uma disputa mais ao nível do chão. Não tem política no
meio, parece mais uma arruaça entre turmas de bairros vizinhos. O
Flamengo se tornou rival dos sem-ônibus exclusivamente por causa da
mulherada.
Naquela época do jovem Brasil República
não era fácil pegar mulher. Muito menos no seio da aparentemente
ultraconservadora classe média carioca. Foi quando então começou a
vigorar a lei não escrita promulgada pelas proto-maria-gasolina que
moravam no Catete, Laranjeiras, Flamengo, Botafogo e arredores: só davam
pra quem tinha barco.
Alguns rapazes abastados, moradores de
Botafogo, arrumaram um barco e começaram a dar suas remadas, só de onda,
pela praia. Em pouco tempo começaram a passar o rodo naquela
jurisdição. O que provocou ira, indignação e a imediata criação do
Flamengo por nossa esplêndida rapaziada.
O Flamengo cresceu, seus torcedores
pegaram mais mulheres do que os torcedores rivais e geraram a maior
torcida do Brasil. E assim caminhou a humanidade. Como podemos
constatar, não pode haver rivalidade mais justificada do que essa que
cultivamos com o Botafogo. Malgrado sua atual irrelevância esportiva,
nossos motivos para suplanta-los são dos mais nobres. De certa forma
devemos a eles a nossa própria existência.
A consciência das origens históricas da
nossa centenária rivalidade apenas deixa mais saborosa cada vitória
sobre nosso rival ancestral. Resultado que já está mais do que na hora
de acontecer no clássico. Tá legal que os caras não nos vencem no
Brasileiro há 300 anos, mas eu preciso forçar a memória para lembrar da
nossa última vitória sobre eles. Quando fecho os olhos só me lembro de
duzentos mil empates.
Tá na hora do Mengão acabar com essa
palhaçada e liberar a estrada pra passagem do Foguinho rumo ao Jockey
Club de Asunción. Eles já tão dando muita mancada, estão doidinhos pra
jogar a toalha e será muito legal pra ordem geral das coisas se o
Flamengo cortar de uma vez por todas com os delírios psicotrópicos de
quem imprudentemente vem colocando o Foguinho na disputa da Libertadores
2014. Parem de iludir os pobres, Libertadores é pra quem tem tradição.
Futebol é momento e, com todo respeito a
quem pensa diferente, o momento é do Flamengo. Em franco crescimento,
com a moral cada vez mais reforçada e plena consciência de até onde pode
chegar, o Flamengo neutralizou qualquer favoritismo que o adversário
pudesse ter. Agora tá tudo na nossa mão. Torcida, Manto, Maraca. De que
mais o Flamengo precisa pra vencer?
Mengão Sempre