Marina decide apoiar Aécio em troca de compromisso real por fim da reeleição
Candidata do PSB pede alterações no programa de governo de tucano antes de oficializar adesão.
A candidata derrotada Marina Silva (PSB)
decidiu apoiar o tucano Aécio Neves no 2.º turno mediante o compromisso
de apoiar causas defendidas pela terceira colocada na disputa
presidencial, incluindo uma reforma política que ponha fim à reeleição.
Conforme informou a colunista Sonia Racy
no portal estadão.com.br, o que está em discussão é se isto ocorrerá
com o PSB ou se será uma manifestação da Rede Sustentabilidade, partido
que Marina não conseguiu criar em 2013 e se abrigou no partido que foi
presidido por Eduardo Campos.
A decisão deve sair antes do endosso
formal ao tucano de Renata Campos, viúva do ex-governador de Pernambuco,
morto em agosto. Renata deve formalizar o apoio a Aécio por um motivo
simples: se não o fizer ou se acenar com a possibilidade de apoiar a
petista Dilma Rousseff, iria contra o discurso do marido de que a
presidente representava a velha política.
Marina não quer condicionar sua decisão a
cargos, o que ela define como “velha política”. O caminho é pedir um
compromisso formal de pontos do programa de governo anunciado pelo PSB
em agosto, como o fim da reeleição e uma proposta de reforma tributária.
Aécio já disse publicamente ser a favor de ambas as propostas.
Fora isso, a candidata derrotada do PSB
também tem interesse em ver o tucano se comprometer com a manutenção das
conquistas socioeconômicas dos governos Fernando Henrique Cardoso e
Luiz Inácio Lula da Silva, a inclusão na agenda de cuidados com a
sustentabilidade e a garantia de aumento de produção do agronegócio sem
riscos à floresta amazônica.
Em 2010, a ex-ministra, que como agora
ficou em terceiro lugar, fez uma lista de dez itens de seu programa de
governo e a enviou tanto a José Serra e quanto a Dilma, que passaram
para o segundo turno. O tucano não respondeu. A petista assinou o termo,
indicando aceitar o proposto, mas não chegou a cumprir isso – Marina
tampouco a apoiou e optou pela neutralidade. No domingo, em discurso
após reconhecer a derrota, a ex-ministra deu a entender que não ficaria
neutra novamente e que os brasileiros demonstraram um “sentimento de
mudança”.
A tendência nos partidos que formaram a
aliança de Marina é apoiar Aécio. Já se manifestaram nesse sentido o
presidente do PPS, Roberto Freire, que convocou reunião do partido para
hoje, quando será definida a posição oficial da legenda. Também disse
que apoia Aécio o presidente do PSL, Luciano Bivar. Os dirigentes do
PHS, PPL e PRP também tendem a dizer que ficarão ao lado do tucano.
Partidos. No PSB, foi
marcada para esta terça-feira, 7, uma reunião da Executiva para se
buscar um consenso sobre o 2.º turno. A Rede também discutem o assunto
amanhã. Na quinta-feira, os partidos da coligação vão se reunir para
divulgar a posição final. Mas ontem lideranças do PSB começaram a
indicar preferência por Aécio ou já declararam voto no tucano.
Mesmo o presidente nacional do PSB,
Roberto Amaral, aliado de longa data e ex-ministro de Luiz Inácio Lula
da Silva, sinalizou nesta segunda-feira que não se oporia ao apoio do
partido ao candidato do PSDB, se essa for a decisão da cúpula
partidária. “O fundamental é estar envolvido em um processo de
progresso, de crescimento. Às vezes um reacionário serve de avanço.”
Questionado se ele, que é fundador do
PSB e se classifica como “homem de esquerda”, se sentiria confortável
com uma aliança com o PSDB, Amaral respondeu com pragmatismo: “As
alianças são táticas e, se não prejudicarem o projeto do meu partido,
são válidas”.
O vice-presidente do PSB e parceiro de
chapa de Marina, Beto Albuquerque, disse que apoiará Aécio e que “quem
joga sujo na eleição” não terá o seu apoio.
Em Pernambuco, o advogado Antonio
Campos, irmão de Eduardo Campos, adiantou seu voto em Aécio, mas afirmou
ser uma decisão pessoal e que não falava em nome da viúva de Campos.
“Vamos conversar para tentar chegar a um consenso”, disse o prefeito de
Recife, Geraldo Júlio, que foi ontem cedo à casa da família Campos.
“Tivemos uma vitória esmagadora, a maior
do País, e essa vitória vai servir apenas para nos fortalecer para que a
gente possa discutir com legitimidade política. Mas tem de ser levado
em conta o que o País todo vai pensar”, defendeu o presidente estadual
do PSB, Sileno Guedes. Em entrevista às rádios locais, o governador
eleito Paulo Câmara (PSB) adotou discurso semelhante. O atual
governador, João Lyra Neto (PSB), declarou voto em Aécio.
Outro lado.
Segundo informações do blog da Sonia
Racy, Nilson Oliveira, assessor de Marina, negou que a ex-candidata
tenha tomado alguma decisão. Ele informou que ela vai se reunir com a
base da Rede nesta terça-feira.
Fonte: Estadão