Surto de hepatite assusta Alter do Chão
Esgotos em frente à Vila podem ser uma das causas da doença
Casos de Hepatite A registrados na Vila
Balneária de Alter do Chão geraram questionamentos sobre a qualidade da
água consumida pela população e turistas que vão ao local em busca de
lazer e diversão. Autoridades de Saúde de Santarém suspeitam que a
contaminação da doença em pessoas em Alter do Chão pode ter ocorrido por
consumo de água de poços artesianos ou do Lago Verde.
Profissionais da área da saúde trabalham
com a possibilidade de que a grande quantidade de esgotos em frente à
Vila de Alter do Chão esteja lançando coliformes fecais no Lago Verde,
assim como contaminado o lençol freático e, com isso aumentando os
riscos de que pessoas que tenham contato com a água sejam acometidas
pela Hepatite A.
Outra possibilidade levantada pela
Divisão de Vigilância em Saúde (Divisa) é de que o grande número de
embarcações que atracam nas praias, nos arredores de Alter do Chão,
principalmente nos finais de semana, estejam também lançando coliformes
fecais diretamente no Lago Verde e, com isso contaminado as águas e
provocando riscos aos banhistas.
Segundo o médico da unidade de saúde
Alter do Chão, Frederico Galante, somente nos últimos 11 dias, 15
pessoas procuraram o local apresentando os sintomas da doença. Ele
revela que no período de 22 de dezembro de 2014 até sexta-feira, 16, dos
pacientes suspeitos, 4 casos foram confirmados na vila.
A quantidade de pessoas portadoras dos
sintomas que procuram a unidade de saúde de Alter do Chão preocupa o
médico. “Pessoas que manifestaram os sintomas foram 14, no período de 09
de janeiro para cá. Elas estão com mal estar, fraqueza, febre leve, dor
no corpo e dor no fígado. Quando chegam aqui passam por avaliação
clínica e solicitamos o exame de sangue. Se der alguma alteração é
pedida a sorologia”, explicou o médico.
Mesmo com os casos informados pelo
médico, a Divisão de Vigilância em Sanitária (Divisa), órgão da
Secretaria Municipal de Saúde (Semsa) de Santarém, explicou que somente
dois casos tiveram sorologia confirmada este mês.
Nos últimos três anos, de acordo com a
Divisa, os casos de Hepatite A aumentaram em Santarém e Alter do Chão.
Em 2012, foram registrados no município 54 casos. Em 2013, foram 45
registros da doença apenas em Santarém. No ano passado, os casos de
pessoas contaminadas duplicaram.
Segundo a Divisa, foram 116 casos na
zona urbana da cidade e 12 em Alter do Chão. No início deste ano, o
coordenador da Divisa, o médico veterinário João Alberto Coelho,
informou que no mês de janeiro já foram contabilizados cinco casos,
entre eles, dois na vila balneária. Em Alter do Chão, as principais
vítimas são crianças e idosos. Na unidade médica daquele Distrito,
vários casos suspeitos estão sob acompanhamento epidemiológico.
CONTÁGIO: Em relação à
forma de contágio dos pacientes, um estudo feito pela Divisa aponta
contaminação por coliformes fecais, por conta de ingestão de água do
Lago verde. Em 2014, a Divisa realizou 49 amostras de água em Alter do
Chão, onde 65% positivaram a coliformes totais e 24,4% para escherichia
coli, que se refere a gêneros diversos de bactéria bacil.
O último relatório das amostras de água
coletadas em escolas, residências, rio e no Lago Verde, apontou que o
líquido está contaminado. “A água está contaminada com coliformes fecais
ou totais. Só monitoramos a água. Outras secretarias precisam agir em
conjunto. Não tem banheiro químico na praia, tem gente morando na rua,
os esgotos caem no rio e os poços são cavados com pouca profundidade”,
apontou Coelho.
Ele alertou para a falta de
investimentos em saneamento básico na Vila e falta de estrutura das
praias, onde a maioria das pessoas utiliza a própria água para fazer
suas necessidades fisiológicas, já que os banheiros químicos não são
suficientes. Por conta dos excrementos e urina despejados diretamente na
água o risco de contaminação por coliformes é maior.
Além disso, pequenas embarcações que
realizam passeios nas praias de Alter do Chão despejam todos os dias nas
águas do rio Tapajós esses excrementos. O coordenador da Divisa explica
que ações preventivas precisam ser realizadas de forma ampla com
envolvimento de vários órgãos, inclusive Capitania dos Portos,
Secretarias de Meio Ambiente, Infraestrutura, Saúde, entre outros, pois
somente assim será possível evitar um surto da doença.
“São as embarcações que ficam na frente
da vila, jogando dejetos e casas que tem poços artesianos perto da
fossa. Estamos criando campanha de orientação aos moradores e já
iniciamos a vacinação nas crianças de até 2 anos. Pedimos que os
trabalhadores que mexem com água, garis e pessoas que trabalham em
restaurantes façam os exames. Além de orientar aos moradores a usar água
mineral por enquanto”, destaca Coelho.
PREOCUPAÇÃO: Empresários
de Alter do Chão e a própria comunidade estão preocupados, uma vez que a
Vila é um importante pólo turístico do Estado e da Amazônia, sobretudo,
com destaque na mídia internacional. Os empresários alertam que não
foram apenas os nativos que apareceram doentes com suspeita de Hepatite
A, mas, também, turistas atendidos pela unidade de saúde da comunidade
apresentaram sintomas de diarréia e vômitos.
Na sexta-feira, 16, a Divisa encaminhou o
relatório com os dados sobre os casos de Hepatite registrados em
Santarém e Alter do Chão à vice-prefeita do município, Maria José Maia,
para que ela apresentasse o documento ao prefeito Alexandre Von
sugerindo medidas urgentes para o controle e prevenção da doença.
TURISMO: Apesar do
problema de saúde pública, o turismo em Alter do Chão cresceu nos
últimos anos. A declaração foi feita pelo empresário Pedro Paulo
Buchalle, que há 10 anos mora e trabalha em Alter do Chão. Segundo ele, a
divulgação tem sido o ponto chave, inclusive, em rede nacional e
internacional, mas, os problemas que existem não podem ser esquecidos.
Entre os problemas enfrentados na Vila de Alter do Chão, o empresário
destacou o assoreamento da frente da vila, pois, já não tem praia no
local, apenas matagal.
De acordo com ele, isso ocorre por que o
espaço não foi asfaltado e no período do verão são colocadas carradas
de terra, que no inverno desce para a praia e causa o assoreamento.
Outro ponto crítico são as bocas de esgoto que caem em frente à Vila.
Paulo Buchalle também alertou os órgãos competentes, como a Capitania
dos Portos, quanto ao tráfego de embarcações. Existem balsas despejando
materiais poluentes ou comercializando. Há também motos aquáticas e
lanchas em alta velocidade que podem causar acidentes. No final do ano
passado, nas festas do Natal e Ano Novo, aproximadamente 300 empresários
do Estado de São Paulo visitaram Alter do Chão.
Pedro Paulo Buchalle destacou que os
turistas afirmaram não ter visto nada igual, relacionado à beleza do
local. Porém, é inadmissível que este local esteja sendo destruído, por
falta de melhorias básicas que pode haver na gestão de um Município.
No que se refere ao saneamento básico, é
absolutamente incompatível que bocas de esgoto deságüem na praia onde
estão os banhistas. Para o empresário Pedro Paulo, se os principais
problemas forem resolvidos, muitos turistas serão atraídos para a Vila
de Alter do Chão.
ACES COBRA AÇÃO IMEDIATA DA PREFEITURA: Em
reunião na sede da Associação Comercial e Empresarial de Santarém
(ACES), na noite de segunda-feira (19), foi formada uma comissão para
tratar com a Prefeitura e autoridades competentes as ações imediatas que
devem ser executadas para eliminar a contaminação da Bacia Hidrográfica
de Alter do Chão e os casos de hepatite. O Diretor da Divisa, João
Alberto Coelho, afirmou que a Divisa vem acompanhando a situação da vila
balneária desde junho de 2014 e que o aumento de casos de casos da
doença se deve: contaminação da água, a ausência de banheiro químicos,
falta de tratamento de esgoto; circulação de embarcações que despejam
resíduos sólidos no lago e entorno; presença de animais na praia,
moradias as margens do rio e lixo jogado na praia.
A comissão composta por diretores da
ACES, Gabriel Geller, Roberto Branco, Bruno Moura e Emanuel Júlio Leite
irá reunir nos próximos dias com o prefeito Alexandre Von para tratar
das questões levantadas na reunião e solicitar ações imediatas para o
local. A secretária de Turismo, Irene Belo, garantiu que os problemas
expostos na reunião estão dentro do Plano de Turismo que está sendo
executado pela Semtur. O morador de Alter do Chão, Zé Carlos, mostrou
sua preocupação quanto ao reflexo negativo na economia. “Essa situação
me preocupa muito, por isso vim até a Aces pedir ajuda para que medidas
sejam tomadas. Agora no fim do ano, conseguimos trazer em torno de 370
paulistanos para passar o fim de ano e estes elogiaram muito Alter do
Chão e não podemos perder esse reconhecimento”, declarou Zé Carlos. A
ACES também levará este assunto para o Grupo de Gestão Integrada para o
Desenvolvimento Sustentável (GGI DRS) para que seja dada a atenção
necessária para o assunto.
Por: Manoel Cardoso