Empresas estão soterrando igarapé do Irurá
Trecho próximo a ponte da Toca da Raposa está quase extinto
Um grave problema de crime ambiental
pode ser constatado por quem caminha às margens do Igarapé do Irurá,
considerado a mais importante fonte de água doce da zona urbana de
Santarém, no oeste do Pará. Nos últimos anos, após a instalação de
grandes empresas e da construção de dezenas de residências próximo ao
leito do manancial iniciou o processo de soterramento e assoreamento do
Irurá.
Hoje, o trecho localizado próximo a
ponte da Toca da Raposa se encontra em avançado estado de soterramento.
Lama, areia e muito entulho podem ser constatados no local. Outros
pontos críticos de danos ambientais no Irurá podem ser observados desde a
sua nascente nos arredores do bairro do Cambuquira e também na Matinha.
Depois da Construtora Mello de Azevedo
iniciar a extração de mineral em uma serra próximo ao manancial iniciou o
processo de assoreamento do leito do Irurá, devido a descida de
toneladas de areia em decorrência das enxurradas. No local, segundo os
moradores, os peixes entraram em processo de extinção.
Um problema parecido aconteceu no bairro
da Matinha, onde a empresa Transportes Bertolini Ltda (TBL) se instalou
e desmatou vários hectares da mata ciliar do Irurá para construir um
galpão. Quem caminha no local, também observa que a Bertolini construiu
uma rede de esgoto que deságua no manancial. Lama, restos de material de
construção e de madeira são despejados diariamente no leito do Irurá.
Parte do igarapé ‘agoniza’ devido a poluição.
Para a população, os verdadeiros crimes
ambientais vêm acontecendo de forma natural e bem a vista das
autoridades de Santarém. Um exemplo deste problema fica na Toca da
Raposa, na Grande Área do Santarenzinho, onde dezenas de residências
foram construídas às margens do Irurá, contribuindo para a poluição do
manancial.
Outro problema que pode ser visto no
Santarenzinho é a erosão que ocorre na Serra do Índio, após o local ter
sido alvo de extração de material de construção, durante décadas. Por
conta da erosão da Serra do Índio, toneladas de areia são despejadas no
leito do Irurá, principalmente no período chuvoso (inverno amazônico),
quando há maior incidência de enxurradas.
Ambientalistas afirmam que por causa da
ação criminosa de empresas, em vários trechos, o curso natural do
Igarapé do Irurá foi desviado. Para quem reside há décadas próximo ao
Irurá, se nada for feito pelas autoridades para proteger o manancial das
ações criminosas das grandes empresas, em poucos anos o Irurá vai
desaparecer, o que poderá ser lembrado apenas em letras de obras de
poetas santarenos.
DENÚNCIA: A ação de
danos ambientais de uma empresa que se instalou às margens do Irurá
levou os moradores do bairro Cambuquira a denunciar a firma em maio
deste ano. Segundo os moradores, o igarapé acelerou o processo de
assoreado por conta de uma obra de construção em um terreno que fica
perto da área.
O igarapé fica nas margens da Rodovia
Santarém-Cuiabá (BR-163) e, de acordo com os moradores, desde que
começou a ser aterrado, o manancial ficou mais seco. “Aqui a gente não
sabe de onde vem essa areia que ele traz, se tem alguma doença. Então,
quando chove a água escorre e vem tudo para o igarapé”, declarou a
moradora Arlete Travassos.
Arlete afirmou que por causa do problema
sua casa foi alagada várias vezes em dias de chuva. “Em alguns dias a
gente estava quase dormindo, quando alguém acordou e alertou que a casa
estava alagando”, declarou.
Muitas famílias deixaram de ir para o
local tomar banho e aproveitar momentos de lazer. “A gente tomava banho,
lavava roupa. Nos domingos isso aqui era um lazer pra gente. Aí depois
que começou isso ficou assim”, contou a moradora Rubenita dos Santos
O aposentado Antônio Cardoso redobra os
cuidados com as crianças para não tomar banho no igarapé. “As crianças
tomavam banho aqui no igarapé quando era limpo, mas agora está nessa
situação”, relatou.
Por: Manoel Cardoso