Em
 reunião na sede do Instituto Chico Mendes de Conservação da 
Biodiversidade (ICMBio), em Santarém, o Ministério Público Federal expôs
 a necessidade de ser realizada, de modo adequado, consulta prévia, 
livre e informada com as comunidades moradoras da Reserva Extrativista 
Tapajós-Arapiuns antes de qualquer projeto ou empreendimento que afete 
seu modo de vida e território. A reunião tratava de proposta de 
comercialização de créditos de carbono florestal na região, feita pelo 
ICMBio.
A consulta prévia é um instrumento 
previsto pela Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho 
(OIT) para qualquer medida (seja considerada positiva ou negativa) que 
afete comunidades tradicionais, o que inclui indígenas, ribeirinhos, 
quilombolas agroextrativistas e diversas outras populações brasileiras 
que mantém relação diferenciada com o território onde vivem. O sentido 
do instrumento é o de respeitar o direito dessas comunidades à 
autodeterminação, à escolha do próprio futuro e à manutenção de modos de
 vida que atravessam gerações.
No caso da proposta do ICMBio, como em 
vários outros casos de projetos que afetam populações tradicionais, a 
Convenção 169 vinha sendo relativizada, em prejuízo das comunidades. “Se
 apresenta como necessário um recomeço do processo de diálogo e 
informação, dessa vez com base na Convenção, sobretudo, levando em 
consideração o ineditismo e complexidade do tema”, apontou o procurador 
da República Camões Boaventura, que acompanhou a reunião. “É preciso 
desconstituir a idéia de que a execução do projeto é inevitável, o que 
viciaria o caráter livre da consulta”, afirmou.
Para ele, a apresentação de um projeto 
pronto pelos servidores do ICMBio às comunidades, sendo dadas as opções 
de apoiá-lo ou não, viciaria o caráter livre e dialógico da consulta. “O
 momento é de informação, qualificada, isenta, técnica e multilateral”, 
explicou. Só com base no máximo de informações possíveis, inclusive com 
conhecimento de outras experiências similares é que as comunidades terão
 capacidade de decidir da melhor forma possível.
Tanto as comunidades presentes quanto os
 servidores do Instituto concordaram com as observações e aceitaram 
reiniciar o diálogo respeitando as premissas da Convenção 169. O MPF vai
 acompanhar o processo, através de um inquérito civil aberto na 
Procuradoria da República em Santarém. Com informações do MPF.