A bacharel em
direito e ex-garota de programa, Elize Matsunaga, 35, foi condenada na
madrugada desta segunda (5) a 19 anos e 11 meses de prisão pela morte e
esquartejamento do marido, o empresário Marcos Matsunaga, em maio de
2012, um dos crimes mais emblemáticos de São Paulo.
Foram sete sessões de julgamento em um
dos júris mais longos do judiciário paulista, superando até mesmo outros
casos midiáticos como o Nardoni, em 2010, que durou cinco dias.
O crime foi considerado hediondo porque,
segundo entenderam os jurados, ela utilizou meio que impossibilitou a
defesa da vítima. Isso impediu que a agora condenada saísse do fórum da
Barra Funda de São Paulo (zona oeste) com a possibilidade de deixar a
prisão nos próximos dias.
Isso poderia acontecer se o crime
tivesse considerado um homicídio intencional simples, com pena mínima de
seis anos (e máximo de 20) e possibilidade de progressão após o
cumprimento de um sexto da pena. Como Elize já está presa há mais quatro
anos, tem, assim, tempo suficiente para pedir o benefício.
Considerado hediondo, a progressão só
pode ser requisitada após dois quintos da pena, porque não tem outros
antecedentes criminais e tem bom comportamento na prisão onde está, em
Tremembé (no interior do Estado). O hediondo tem pena mínima de 12 anos e
tempo máximo de prisão de 30 anos.
Dessa condenação, um ano e dois meses
foram pela destruição e ocultação do cadáver. Crime que tanto a acusação
quanto a defesa pediram a condenação.
Sobre as outras qualificadoras, os
jurados entenderam que ela não utilizou meio cruel para cometer o crime e
não foi motivado por motivo torpe, como queria a acusação. Todos os
placares, segundo os advogados, foram apertados: sempre 4 a 3 para a
tese vencedora.
Pesou na decisão dos jurados os
argumentos do promotor José Carlos Cosenzo de que uma condenação por
homicídio simples seria muito benéfica a ré. “Se vocês condenarem pelo
homicídio estarão a absolvendo. Ela sairá daqui do fórum na frente dos
senhores”, disse ele aos jurados. “Todo o Brasil está aguardando a
decisão de vocês”, disse o promotor.
Depois da decisão dos jurados, ele disse
que vai analisar se vai recorrer. “Não ficamos satisfeitos”, disse que
queria uma condenação de ao menos 25 anos.
A defesa disse que vai recorrer porque,
segundo eles, a pena aplicada pelo juiz Adilson Simoni foi
excessivamente, ao contrário do desejo dos jurados. “Ganhamos, mas não
levamos. Essa é a sensação”, disse Luciano Santoro, um dos defensores.
Os debates entre defesa e acusação foram
marcados pelas trocas de farpas entre Cosenzo e a advogada Roselle
Soglio. O promotor chegou a chamá-la de louca, que pediria a interdição
dela, enquanto a defensora de Elize respondeu chamando de machistas e
que fazia muitos gracejos, para as pessoas rirem, a exemplo de um
palhaço.
O julgamento foi marcado em seu último
dia pelo interrogatório da ré que, em cerca de quatro horas, contou como
matou o marido e porque o esquartejou. Alegou a bacharel de direito que
não tinha a intenção de matar o marido, mas, após discutir com ele
sobre a descoberta da amante, acabou sendo humilhada e levando um tapa
no rosto.
Disse que decidiu esquartejar o marido
ao tentar se livrar do corpo. “Infelizmente, a única forma que encontrei
foi cortá-lo”, disse. “Eu não podia ligar para minha sogra, pessoa que
sempre me tratou com respeito: eu dei um tiro no filho”, disse ela.
Elize chorou muito ao recontar detalhes do crime e ao falar de sua família.
A disposição dos jurados com a ré pôde
ser medida ainda na tarde de domingo (4) quando um deles ao perguntar,
por meio do juiz, baseada no depoimento dela. “A senhora disse que está
sendo crucificada [por falar da distância do tiro]. Mas será que seu
marido merecia ser esquartejado?”, disse.
“Nem ele nem ninguém”, respondeu ela.
“Infelizmente, eu não posso voltar no tempo. Se pudesse, voltaria”,
completou em outra questão.
DEPOIMENTOS
Dezesseis testemunhas foram ouvidas,
tanto da defesa quanto da acusação. O julgamento teve início na
segunda-feira (28 de novembro). E terminou na madrugada desta segunda
(5).
Um dos depoimentos mais importantes para
o convencimento dos jurados sobre o meio que impossibilitou a defesa da
vítima foi o depoimento do delegado Mauro Gomes Dias, então do DHPP,
que, para ele, Elize atirou no marido tão logo ele deixou o elevador
carregando uma caixa de pizza.
Nem mesmo o argumento da defesa de haver
um espelho na frente do elevador, informação apresentada nos debates,
conseguiu demover a certeza do jurado sobre a tocaia.
A maioria dos jurados entendeu que Elize
não esquartejou o marido ainda em vida, como queria a Promotoria. A
assassina confessa disse em seu interrogatório que começou a cortar
partes do corpo do marido pela manhã de domingo, dia 20 de maio, cerca
de 10 horas após atirar contra sua cabeça. Na tarde de domingo (4)
voltou a afirmar que fez isso logo após a chegada da babá, por volta das
6h.
Pesou nessa decisão o depoimento do
perito e legista Sami El Jundi, ocorrido na sexta (2), que disse que a
morte de Marcos foi instantânea e, assim, não houve sofrimento -um dos
pressupostos do motivo cruel. “Ele morreu com o tiro”, disse.
A terceira qualificadora apontada pela
Promotoria era a motivação por motivo torpe, um crime considerado
repugnante. O Ministério Público sustentou que Elize matou o marido por
causa do dinheiro e por vingança por conta da descoberta da amante.
Isso, para o jurados, não ficou provado.
Fonte: Folha de São Paulo