
A manhã de sexta-feira (31) talvez tenha
sido a mais especial em muitos anos para o adolescente E.F.B.S., de 14
anos. Foi o primeiro dia em que ele acordou em sua própria cama e sem
ter que se preocupar com todos os problemas que o limitaram por tanto
tempo, impedindo-o de fazer até as coisas mais simples, próprias da sua
idade, como brincar. O menino tinha comunicação interatrial, uma
cardiopatia congênita que o impedia de fazer esforços, e foi submetido a
uma cirurgia cardíaca, a primeira realizada em um hospital público no
Pará fora da capital.
A alta hospitalar foi autorizada na
tarde de quinta-feira (30), sob um clima de festa tanto para a família
do jovem quanto da equipe do hospital. “Fizemos toda a composição da
estrutura para conseguir tratá-lo aqui mesmo. Esse é o primeiro passo
para a autonomia da região oeste do Pará no que concerne ao tratamento
de pacientes com problemas cardiológicos, que até então tinham que se
deslocar para Belém caso necessitassem de cirurgia”, explica o cirurgião
cardíaco Renê Augusto Gonçalves.
A mãe do garoto, Heritânia de Sousa, de
39 anos, comemorou a vitória junto com o filho, a quem acompanhou de
perto durante todo o processo. Ela conta que ele precisava da
intervenção cirúrgica já há bastante tempo, e que a espera deixava toda a
família angustiada. “Ele estava muito debilitado, porque o tempo ia
passando e a situação só piorava. Quando o médico falou que ia fazer o
possível para realizar o procedimento aqui no Regional, foi como se
nossas preces finalmente tivessem sido ouvidas. Meu coração se encheu de
esperança. No mês passado, meu filho consultou, fez novos exames e o
médico confirmou que a cirurgia seria realizada. Para nós foi um grande
alívio”, conta Heritânia.
Porém, ninguém mais do que o próprio
E.F.B.S. celebrou com tanta emoção a tão esperada cirurgia. “Antes eu
queria brincar com meus irmãos, mas não conseguia. Tinha dificuldade
para respirar, sentia muita falta de ar, cansava rápido com o menor
esforço. Agora, se Deus quiser, eu vou ficar livre de tudo isso e poder
fazer tudo o que tinha vontade. Sei que agora tudo vai ficar bem e
agradeço muito ao médico e ao hospital pelo o que fizeram por mim”,
relata.
A intenção do hospital é expandir o
serviço, para que os procedimentos do tipo se tornem rotina. Para o
diretor geral da unidade, Hebert Moreschi, esse é mais um avanço
fundamental do Hospital Regional do Baixo Amazonas – unidade pública
gerenciada pela Pró-Saúde Associação Beneficente de Assistência Social e
Hospitalar, sob contrato com a Secretaria de Estado de Saúde Pública
(Sespa) – na descentralização do acesso à saúde na região Norte.
“Com essa conquista o HRBA dá um passo
importantíssimo na descentralização da assistência de alta complexidade,
trazendo esse benefício à população do oeste do Pará. Essa foi a
primeira cirurgia cardíaca realizada em nosso hospital, e embora seja um
serviço que ainda está em fase de consolidação, o sucesso desse
procedimento demonstrou claramente que temos condições de assumir essa
demanda e nos tornar uma referência também nessa área”, argumenta
Moreschi.
Segundo o secretário estadual de Saúde,
Vitor Mateus, o HRBA já desenvolve um trabalho referenciado e amplamente
reconhecido, inclusive com prêmios concedidos por entidades
credenciadas a avaliar práticas de gestão em saúde. Agora é a vez de
premiarmos a população com a oferta de mais um serviço de qualidade.
”Tivemos a felicidade de garantir a um menino a chance de ter uma nova
vida e realizar tudo o que sempre quis, como é direito de toda criança. E
isso é mérito de um grupo de profissionais que encara com dedicação e
coragem os desafios diários. A equipe de cardiologia do hospital está de
parabéns”, asseverou Vitor Mateus.
Com a realização das cirurgias em
Santarém ganha o hospital, em excelência, e principalmente a comunidade,
que agora não precisa mais enfrentar as dificuldades de um tratamento a
distância. “A ideia é ampliar isso para que, em um futuro próximo,
consigamos tratar todos os casos cardiológicos que precisam de cirurgia
aqui mesmo, no hospital. Será um grande avanço para toda a região”,
defende o cirurgião Renê Augusto.
A partir desta primeira cirurgia, uma
série de avaliações será realizada para verificar os investimentos
necessários à implantação definitiva do serviço.
Fonte: RG 15/O Impacto e Joab Ferreira
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