
A nota diz que o presidente “não
participou e nem autorizou qualquer movimento com o objetivo de evitar
delação ou colaboração com a Justiça pelo ex-parlamentar.”
De acordo com a Presidência, o encontro
com o dono do grupo JBS, Joesley Batista, foi no começo de março, no
Palácio do Jaburu. “Não houve no diálogo nada que comprometesse a
conduta do presidente da República”.
O comunicado diz ainda que Temer
“defende ampla e profunda investigação para apurar todas as denúncias
veiculadas pela imprensa, com a responsabilização dos eventuais
envolvidos em quaisquer ilícitos e que venham a ser comprovados.”
No início da noite, o jornal O Globo
publicou reportagem, segundo a qual, em encontro gravado, em aúdio,
pelo empresário Joesley Batista, Temer teria sugerido que se mantivesse
pagamento de mesada ao ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e ao
doleiro Lúcio Funaro para que esses ficassem em silêncio. Batista,
conforme a reportagem, firmou delação premiada com o Ministério Público
Federal (MPF) e entregou gravações sobre as denúncias. Segundo o jornal,
ainda não há cionfirmação de que a delaçãodo empresário tenha sido
homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Temer estave reunido hoje com
governadores da Região Nordeste. O encontro terminou às 19h50. O
presidente, então, iniciou uma reunião com os ministros Antonio
Imbassahy, da Secretaria de Governo; Eliseu Padilha, da Casa Civil;
Moreira Franco, da Secretaria-Geral da Presidência da República, após a
divulgação da reportagem. Também estiveram presentes assessores da
Secretaria de Comunicação da Presidência. A nota do Planalto foi enviada
à imprensa cerca de uma hora e meia após o início da reunião no
terceiro andar do Planalto, onde fica o gabinete de Temer.
Por volta das 21h, cerca de 50
manifestantes se reuniram em frente ao Palácio do Planalto com buzinas
para protestar contra o presidente. A Polícia Militar reforçou a
segurança no local.
Congresso
As sessões da Câmara dos Deputados e do Senado foram suspensas depois da divulgação da reportagem.
O presidente da Câmara dos Deputados,
Rodrigo Maia (DEM-RJ), encerrou a sessão que analisava medidas
provisórias (MPs) que trancam a pauta da Casa, sem concluir a votação da
MP 755/16, que trata dos repasses de recursos do Fundo Penitenciário
Nacional (Funpen) a estados e municípios. Maia disse que “não havia mais
clima para a continuidade dos trabalhos”. Ele saiu apressadamente,
falando ao telefone, e admitiu que as denúncias são graves.
Após a divulgação da reportagem, o líder
do PSOL, Glauber Braga (RJ), foi à tribuna. “Acaba de sair uma
revelação, a notícia de uma gravação onde [o presidente] Michel Temer dá
orientações para manter Eduardo Cunha calado na unidade prisional em
que se encontra”, disse Braga, e deputados da oposição passaram a gritar
palavras de ordem pedindo a saída de Temer.
O deputado Alessandro Molon (Rede-RJ) informou que protocolou um pedido de impeachment de Temer.
“As denúncias mostram um comportamento incompatível com a função de
presidente, com o decoro do cargo. […] Não há outra saída para o
presidente [da Câmara] Rodrigo Maia a não ser receber esse pedido.”
Depois o deputado JHC (PSB-AL) protocolou um segundo pedido de impeachment contra
o presidente. No documento, o deputado diz que a denúncia contra Temer
revela “sua total ausência de condições mínimas para liderar o país rumo
à saída da maior crise econômica de sua história”.
Os deputados disseram que vão obstruir
as votações enquanto o presidente da Comissão de Constituição e Justiça
(CCJ), Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), não colocar para deliberação do
colegiado uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), de autoria do
deputado Miro Teixeira (REDE-RJ), que prevê eleições diretas para a
Presidência da República, caso o presidente Michel Temer seja cassado ou
renuncie ao mandato.
Segundo o líder da minoria, José
Guimarães (PT-CE), os partidos de oposição vão trabalhar em três
direções: a renúncia, “que deixaria o país mais tranquilo, com a
convocação de novas eleições”, o impeachment e a realização de novas eleições.
De acordo com a reportagem, outra
gravação da delação de Batista diz que o presidente do PSDB, senador
Aécio Neves (MG), teria pedido R$ 2 milhões ao empresário. O dinheiro
teria sido entregue a um primo de Aécio. A entrega foi registrada em
vídeo pela Polícia Federal. A PF rastreou o caminho do dinheiro e
descobriu que o montante foi depositado numa empresa do senador Zezé
Perrella (PSDB-MG).
O líder do DEM, Efraim Filho (PB), disse
que as denúncias são graves e que precisam ser analisadas de forma
serena. “É preciso buscar, de forma rápida, respostas para a sociedade
brasileira”, disse. “A investigação dos fatos irá dizer se houve
qualquer infração à Constituição. Em se configurando qualquer infração à
Constituição, o rito tem que ser seguido como foi com a presidente
Dilma, de impedimento.”
Outro lado
Em nota, a assessoria de Aécio Neves
disse que o senador “está absolutamente tranquilo quanto à correção de
todos os seus atos. No que se refere à relação com o senhor Joesley
Batista, ela era estritamente pessoal, sem qualquer envolvimento com o
setor público. O senador aguarda ter acesso ao conjunto das informações
para prestar todos os esclarecimentos necessários”.
O senador Zezé Perrella publicou uma
mensagem em seu Twitter por volta das 22h50 de hoje em que diz que nunca
conversou com Wesley Batista, não conhece ninguém do grupo Friboi (uma
das marcas da JBS) e que nunca recebeu, “oficial ou extraoficial”,
nenhuma doação da empresa. “Estou absolutamente tranquilo”, disse o
senador, que acrescentou que espera que todos os citados na matéria de O Globo tenham
a oportunidade de esclarecer sua participação. “O sigilo das minhas
empresas citadas, dos meus filhos estão absolutamente à disposição da
Justiça, onde ficará comprovado que eu não tenho nada a ver com essa
história”, disse Perrella.
A assessoria do deputado federal Rodrigo
Rocha Loures (PMDB-PR) informou que o deputado está em Nova York, onde
proferiu palestra sobre a política brasileira a um grupo de investidores
internacionais. Rocha Loures tem retorno programado para amanhã. Em seu
retorno, o deputado deverá se inteirar e esclarecer os fatos
divulgados. De acordo com o jornal O Globo, o deputado foi
indicado por Temer como interlocutor para solucionar um problema da JBS.
Posteriormente, Rocha Loures teria sido filmado recebendo R$ 500 mil.
Íntegra da nota da Presidência da República
“O presidente Michel Temer jamais
solicitou pagamentos para obter o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha.
Não participou e nem autorizou qualquer movimento com o objetivo de
evitar delação ou colaboração com a Justiça pelo ex-parlamentar.
O encontro com o empresário Joesley Batista ocorreu no começo de
março, no Palácio do Jaburu, mas não houve no diálogo nada que
comprometesse a conduta do presidente da República.O presidente defende ampla e profunda investigação para apurar todas as denúncias veiculadas pela imprensa, com a responsabilização dos eventuais envolvidos em quaisquer ilícitos que venham a ser comprovados.”
Fonte: Agência Brasil