Desde as primeiras horas de domingo, 16, cerca de 200 índios da etnia Munduruku ocupam o canteiro de obras da Usina Hidrelétrica de São Manoel, localizada no rio Teles Pires, na fronteira do Pará com o Mato Grosso. Representando 138 aldeias da bacia do rio Tapajós, os Munduruku reivindicam o diálogo com representantes da UHE São Manoel e do governo Federal, para que uma pauta de exigências seja debatida.
Em nota, os indígenas explicaram os
motivos da ocupação da Hidrelétrica de São Manoel. Eles afirmam que
tiveram os direitos violados com a construção da UHE. Veja na íntegra a
nota:
“Nós, povo Munduruku do Alto e Médio
Tapajós e do Baixo Teles Pires, ocupamos de forma pacifica o canteiro de
obras da Hidrelétrica de São Manoel. Somos 200 indígenas, entre
caciques, mulheres, pajés, lideranças, guerreiros e crianças, que
estamos aqui representando as 138 aldeias Munduruku, para reivindicar
nossos direitos.
Esta ação foi encaminhada durante o
segundo encontro de mulheres Munduruku ‘Aya Cayu Waydip Pe’, realizado
entre os dias 8 e 10 de maio de 2017, na Aldeia Santa Cruz, no Município
de Jacareacanga (PA). Os principais problemas discutidos durante este
encontro foram causados pelas construções das hidrelétricas de Teles
Pires e São Manoel.
Os nossos locais agrados Karobixexe e
Dekuka’a foram violados e destruídos. Nossos ancestrais estão chorando,
segundo nossos pajés. Os nossos rios Teles Pires e Tapajós estão
morrendo. Nossos direitos que estão garantidos pela Constituição Federal
e que passaram a existir depois de muito sangue indígena ter sido
derramado, estão sendo violados. Nem mesmo o nosso protocolo de consulta
foi respeitado.
Não podemos esquecer do nosso parente
Adenilson Krixi Munduruku, assassinado em novembro de 2012, pela Polícia
Federal, na Aldeia Teles Pires, durante a Operação Eldorado. Queremos
Justiça!
Depois de ouvirmos as mulheres
Munduruku, foi decidido que estaríamos aqui pacificamente, no canteiro
da Hidrelétrica de São Manoel, por motivos de dores. A gentes não está
aqui invadindo. O único invasor é o governo e as empresas responsáveis
pelas hidrelétricas que estão sendo construídas no rio Teles Pires.
Nós, povo Munduruku, estamos aqui em
nosso local sagrado. Sabemos que nossa luta é legitima, pois estamos
lutando pelos nossos direitos que foram violados, com as construções
dessas hidrelétricas. Queremos que nossas pautas e reivindicações sejam
atendidas e não sairemos daqui sem que isto aconteça!”
EMPREENDIMENTO: O
Consórcio CONSTRAN-UTC UHE continua às obras de construção e montagem da
Usina Hidrelétrica São Manoel pertencente à Empresa de Energia São
Manoel S.A (FURNAS/EDP).
Localizada na divisa dos estados do Mato
Grosso e do Pará, a uma distância de cerca de 950 km da capital Cuiabá e
a 125 km da cidade de Paranaíta, no estado do Mato Grosso, a UHE terá
uma capacidade mínima de 700 MW, devendo gerar energia a partir de
agosto de 2017 com capacidade para atender uma população de 2,5 milhões
de pessoas.
A represa de São Manoel tem previsão de
inundar 64 km². A usina hidrelétrica São Manoel encerrou o ano de 2016
com suas obras civis praticamente concluídas e pode entrar em operação
comercial antes de seu prazo regulatório, de maio de 2018, indicou o
diretor presidente da EDP Energias do Brasil, Miguel Setas. A EDP é
acionista do consórcio responsável pela usina, juntamente com Furnas e a
chinesa CTG.
“Trabalhamos com perspectiva de
antecipação”, disse Setas, sem revelar um prazo estimado para ligar as
turbinas, justificando que isso seria um assunto dos três acionistas
conjuntamente.
Fonte: RG 15/O Impacto