Fiação elétrica antiga superaquece, explode e danifica equipamentos
Muitos educandários públicos em
Santarém, lamentavelmente encontram-se com suas estruturas em condições
precárias, ocasionando ambientes insalubres para uma educação de
qualidade, o que faz com que o processo de ensino-aprendizado seja
prejudicado.
Não é de hoje que ‘O Impacto’ retrata
essa triste situação, provocada pelo descaso de nossos governantes, que
desvalorizam a educação, a única capaz de transformar a sociedade para
melhor.
Uma das escolas mais antigas de nosso
Município chama-se Escola Estadual de Ensino Médio Álvaro Adolfo da
Silveira, localizada na Avenida Marechal Rondon, bairro Santa Clara,
fundada há 54 anos, hoje encontra-se em uma situação preocupante, sem
assistência, proporcionando um verdadeiro caos para os alunos,
professores e demais servidores, que correm perigo de morte com as
precárias condições do colégio, principalmente com relação à fiação
elétrica que pode causar uma explosão a qualquer momento, colocando em
perigo a vida de centenas de pessoas, entre alunos, professores,
diretores e demais servidores desta instituição de ensino, uma das mais
tradicionais de Santarém.
Esse descaso do Governo do Estado com a
educação de Santarém chegou ao limite e, na manhã de segunda-feira (21),
os alunos uniram forças para reivindicar melhorias no referido
educandário. Nossa reportagem conversou com alguns desses alunos, onde
expressam toda sua revolta.
“Todos os dia a gente vem para a escola
estudar, mas sempre nos deparamos com essa situação precária na
estrutura do Álvaro Adolfo. Nós já tentamos nos mobilizar no ano
passado, tentamos conversar com o diretor, mas infelizmente, ele nunca
resolve nada. Então, hoje (segunda-feira, dia 21), nós decidimos cobrar
melhorias. Só que infelizmente não tem como nós armarmos uma
manifestação, pois temos que comunicar primeiro os pais, porque sem essa
comunicação, tanto a direção da escola, quanto os professores serão
prejudicados. Nós vamos para 5ª URE agora, já conversamos com o Grêmio
Estudantil da escola e a gente vai tentar conversar com eles para
resolver o problema. Se por uma acaso ele não resolver nada, ou seja,
colocar empecilhos, nós seremos obrigados a fazer essa manifestação com
toda a escola, fechando a Avenida Barão do Rio Branco, enquanto uma
grande parte dos alunos irá se deslocar para 5ª URE. Trata-se de uma
situação crítica que vem se alongando durante três anos”, explicou o
aluno Leonardo Elias Alcântara.
“Com relação à merenda escolar, está até
tendo, mas estamos sem serventes há algum tempo. Não temos
infraestrutura nos banheiros, as fiações elétricas são antigas e a gente
já mandou documentos para a 5ª URE, para conversar com o diretor que
simplesmente não resolve nada. Por conta de todos esses problemas,
resolvemos armar essa manifestação. Estamos sem gás na cozinha do
colégio, ou seja, estamos na base da bolacha. É uma situação muito
crítica, nós tentamos conversar e manter aquela relação, mas
infelizmente o diretor da 5ª URE não resolve nada”, lamenta Leonardo
Alcântara.
Ainda de acordo com o estudante, é muito
difícil os alunos chegarem à escola e assistir cem por cento uma aula.
“A gente vem porque precisa, principalmente nós, alunos do 3º ano.
Precisamos vir porque iremos participar do ENEM, prestaremos vestibular
este ano e temos apenas uma pouco mais de dois meses para a prova. Esses
motivos são os únicos meios que nos incentivam para vir à escola, mesmo
com todas essa dificuldades que estamos enfrentando. Temos dificuldades
inclusive com as centrais de ar. Por exemplo, hoje (segunda-feira, 21),
pela parte da manhã, na primeira sala do terceiro pavilhão, a central
acabou pifando; em virtude disso, viemos até a direção, a diretora nós
levou para outra sala e quando nós chegamos na outra sala, do primeiro
pavilhão, a central de ar funcionou por apenas dez minutos e logo depois
pifou. Ou seja, queimou a central do primeiro pavilhão, as duas
centrais do terceiro pavilhão e as outras ainda estão funcionando de
forma precária, pelo fato da sobrecarga”, desabafou.
Já o aluno Adanilson Luiz, ao ser
questionado sobre o ENEM, mesmo com todos os problemas encontrados
atualmente na escola, foi enfático: “Sinceramente, nós estudamos diante
de condições precárias da nossa escola. Quando chove molha mais dentro
da escola do que fora, as centrais de ar estão queimando, por conta da
nossa fiação elétrica que estão precárias, inclusive a Celpa já condenou
nossa escola e o Ministério Público já está a par dessa situação. Nós
já enviamos documentos para a 5ª URE, mas não tivemos resposta. Estamos
sem merenda, nosso horário é reduzido, então, é muito difícil nós termos
um aprendizado assim, pois quando se reduz tempo de aula, perdemos
muito assunto, tem muita coisa que não aprendemos. Então, nós estamos
vivendo uma situação crítica. Nós estamos abandonados pelo Estado, pois
dez escola já receberam o aval para receber reformas e o Álvaro Adolfo
não é nenhuma dessas escolas. É muito provável que o dinheiro venha, mas
não chega até nossa escola. Nós não temos recursos, estamos com falta
de merendeiras na escola, faz três semanas que saímos praticamente todos
os dias cedo. Nós estamos muito prejudicados com essa situação. Nossa
quadra de esportes também encontra-se em uma situação precária, eles
vieram e fizeram as sapatas, estão há cinco anos com essa mesma
construção e nunca terminam, trata-se de uma construção infindável;
nossas aulas de educação física são no sol escaldante, principalmente
durante a tarde. Sinceramente, nós não estamos preparados para o ENEM,
principalmente os alunos que têm mais dificuldades em aprender, e com o
horário reduzido não é possível aprender todo o conteúdo”, denunciou
Adanilson.
INSEGURANÇA TOTAL: Além
da situação precária em termos de infraestrutura, outro problema que
atormenta a vida dos estudantes, e da comunidade escolar, são os altos
índices de criminalidade, o que fez com as escolas se tornassem alvo dos
bandidos.
“A gente paga tanto imposto, eu me
pergunto para quê? Não temos nem o direito à educação e à saúde. Esse
Governador nos desprezou, abandonou nossa cidade. Minha filha já foi
assaltada três vezes, vou repetir, três vezes! Duas vezes foram dentro
da escola. Isso é um absurdo”, desabafou à nossa reportagem o
trabalhador autônomo João Assis, cuja filha estuda na Escola Plácido de
Castro.
A triste realidade de vários
educandários em Santarém tem deixado os estudantes e seus pais com os
nervos à flor da pele. O sentimento é de completo desprezo com a
população, já que há anos, inúmeros problemas estão sem solução.
O caos que se instalou nos educandários
da Rede Estadual de Ensino, só não é maior, devido ao esforço dos
profissionais da educação e da comunidade. Ao longo dos anos, o que se
viu foram muitas promessas por parte do Governo do Estado, e pouca ação
efetiva. Reformas iniciadas há mais de quatro anos e que até o momento
não foram concluídas; problemas na carga horária de trabalho dos vigias,
que deixou as escolas da rede sem segurança aos fins de semana.
Como exemplo da insegurança que atinge
as escolas, os pais de alunos que frequentam a Escola Estadual Plácido
de Castro já não sabem a quem apelar. O educandário que fica localizado
na Avenida Sérgio Henn, bairro do Diamantino, tornou-se alvo de pelo
menos três assaltos no ano de 2016, e neste primeiro ano, outros dois
assaltos foram registrados. A ousadia dos bandidos é tanta, que eles
realizam verdadeiros arrastões em salas de aula. De posse de arma de
fogo e arma branca, eles ameaçam professores e alunos, tocam terror e
roubam dinheiro, celular e objetos da escola. É incontável o número de
escolas do Estado que tornaram-se alvo dos criminosos.
Para os pais, uma situação tem causado
ainda mais preocupação, e pode explicar o aumento da criminalidade nas
escolas. O advento do tráfico de droga nas escolas, e é cada vez maior o
número de estudantes que são aliciados pelos traficantes. Muitos acabam
tornando-se viciados, e para manter o vício, acabam roubando os
próprios colegas de escola.
MINISTÉRIO PÚBLICO EM AÇÃO:
No mês de novembro do ano passado, o Ministério Público de Santarém
promoveu uma audiência pública para discutir o Regimento Escolar das
escolas estaduais e municipais. A audiência aconteceu no auditório do
Campus Tapajós, da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa). O
objetivo foi discutir os principais problemas enfrentados pelas escolas
estaduais e municipais, além de mecanismos e soluções para aumentar a
segurança.
A audiência foi presidida pela promotora
de justiça Lílian Regina Furtado Braga, titular da 8ª Promotoria de
Justiça- Educação e Saúde. Todos os gestores das escolas estaduais e
municipais de Santarém foram convidados. Por conta dos problemas de
segurança identificados no interior dos estabelecimentos de ensino, o MP
lançou a discussão no início de 2015. Discutir e buscar soluções para a
segurança nas escolas faz parte dos procedimentos da Promotoria a
partir de demandas trazidas ao MP pelos alunos, que identificaram
fragilidades nessa questão, além da infraestrutura, alimentação e
outros. A segurança foi definida como uma das prioridades, e
acontecimentos recentes, como assaltos dentro e no entorno das escolas,
fizeram com que o tema se tornasse urgente.
O Regimento Interno é o instrumento que
prevê o funcionamento administrativo da escola e o regime disciplinar.
Na consulta prévia realizada com gestores de 22 escolas de Santarém, 20
apontaram a necessidade de atualizar e reformular os regimentos em
vigor. Dentre os problemas referentes à segurança, os mais recorrentes
são furtos e roubos ocorridos em todas as escolas consultadas; seguido
de indisciplina dos alunos, relatado por 13 gestores. Para basear seus
procedimentos, 19 dos 22 consultados afirmaram usar as normas do
regimento.
Dentre as sugestões que serão
apresentadas, incluem-se a necessidade de prever procedimentos a serem
adotados em casos de tráfico de drogas, mecanismos de participação das
famílias, atendimento psicológico, inserção de mecanismos para evitar
evasão escolar, atividades alternativas para alunos suspensos e inclusão
de respaldo legal em algumas situações.
O regimento interno prevê o regime
disciplinar e tem a finalidade de aprimorar o ensino, a formação do
educando, o bom funcionamento dos trabalhos escolares e o respeito mútuo
entre os membros da comunidade escolar. Traz artigos sobre as faltas
graves e penalidades, regras internas relacionadas às questões
disciplinares como uso de eletrônicos, atrasos, fardamento, cuidados com
o patrimônio escolar, limpeza, saídas, conselhos de classe e outros. “É
o fio condutor das ações internas, com horários, questões de disciplina
e outras, e que por vezes não é conhecido ou utilizado de forma
adequada”, concluiu a promotora de justiça Lílian Braga.
PRECARIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO:
A insatisfação dos estudantes e profissionais da educação ganhou as
ruas de Santarém no mês de outubro do ano passado. A indignação vem
desde a questão de falta de infraestrutura das escolas, a falta e/ou
distribuição de merenda escolar de péssima qualidade e desvalorização
dos profissionais da educação. Também, provocou revolta nos estudantes
do ensino médio, a informação de que o Governo Federal, através de
Medida Provisória, que retirar da grade curricular, disciplinas tais
como: educação física e artes, que hoje são obrigatórias.
O protesto teve inicio às proximidades
do viaduto. Com faixas, cartazes e discursos em carro de som, os
manifestantes mostraram toda a sua indignação referente à precarização
da educação imposta pelos governos.
“Estamos protestando para demonstrar e
chamar a atenção da sociedade sobre o que está acontecendo no Brasil, no
Pará e também em nosso município. Estão propondo um processo, culpando a
educação, culpando os trabalhadores por essa crise. Os nossos
políticos, principalmente os corruptos, criaram esta situação e agora
estão querendo penalizar a educação”, desabafou na época o professor
Carlos Assis, vice-presidente do Sindicato dos Profissionais de Educação
de Santarém (Sinprosan).
Por: Edmundo Baía Júnior
Fonte: RG 15/O Impacto