sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Risco de explosão cria pânico em alunos do Álvaro Adolfo

Fiação elétrica antiga superaquece, explode e danifica equipamentos

Muitos educandários públicos em Santarém, lamentavelmente encontram-se com suas estruturas em condições precárias, ocasionando ambientes insalubres para uma educação de qualidade, o que faz com que o processo de ensino-aprendizado seja prejudicado.
Não é de hoje que ‘O Impacto’ retrata essa triste situação, provocada pelo descaso de nossos governantes, que desvalorizam a educação, a única capaz de transformar a sociedade para melhor.
Uma das escolas mais antigas de nosso Município chama-se Escola Estadual de Ensino Médio Álvaro Adolfo da Silveira, localizada na Avenida Marechal Rondon, bairro Santa Clara, fundada há 54 anos, hoje encontra-se em uma situação preocupante, sem assistência, proporcionando um verdadeiro caos para os alunos, professores e demais servidores, que correm perigo de morte com as precárias condições do colégio, principalmente com relação à fiação elétrica que pode causar uma explosão a qualquer momento, colocando em perigo a vida de centenas de pessoas, entre alunos, professores, diretores e demais servidores desta instituição de ensino, uma das mais tradicionais de Santarém.
Esse descaso do Governo do Estado com a educação de Santarém chegou ao limite e, na manhã de segunda-feira (21), os alunos uniram forças para reivindicar melhorias no referido educandário. Nossa reportagem conversou com alguns desses alunos, onde expressam toda sua revolta.
“Todos os dia a gente vem para a escola estudar, mas sempre nos deparamos com essa situação precária na estrutura do Álvaro Adolfo. Nós já tentamos nos mobilizar no ano passado, tentamos conversar com o diretor, mas infelizmente, ele nunca resolve nada. Então, hoje (segunda-feira, dia 21), nós decidimos cobrar melhorias. Só que infelizmente não tem como nós armarmos uma manifestação, pois temos que comunicar primeiro os pais, porque sem essa comunicação, tanto a direção da escola, quanto os professores serão  prejudicados. Nós vamos para 5ª URE agora, já conversamos com o Grêmio Estudantil da escola e a gente vai tentar conversar com eles para resolver o problema. Se por uma acaso ele não resolver nada, ou seja, colocar empecilhos, nós seremos obrigados a fazer essa manifestação com toda a escola, fechando a Avenida Barão do Rio Branco, enquanto uma grande parte dos alunos irá se deslocar para 5ª URE. Trata-se de uma situação crítica que vem se alongando durante três anos”, explicou o aluno Leonardo Elias Alcântara.
“Com relação à merenda escolar, está até tendo, mas estamos sem serventes há algum tempo. Não temos infraestrutura nos banheiros, as fiações elétricas são antigas e a gente já mandou documentos para a 5ª URE, para conversar com o diretor que simplesmente não resolve nada. Por conta de todos esses problemas, resolvemos armar essa manifestação. Estamos sem gás na cozinha do colégio, ou seja, estamos na base da bolacha. É uma situação muito crítica, nós tentamos conversar e manter aquela relação, mas infelizmente o diretor da 5ª URE não resolve nada”, lamenta Leonardo Alcântara.
Ainda de acordo com o estudante, é muito difícil os alunos chegarem à escola e assistir cem por cento uma aula. “A gente vem porque precisa, principalmente nós, alunos do 3º ano. Precisamos vir porque iremos participar do ENEM, prestaremos vestibular este ano e temos apenas uma pouco mais de dois meses para a prova. Esses motivos são os únicos meios que nos incentivam para vir à escola, mesmo com todas essa dificuldades que estamos enfrentando. Temos dificuldades inclusive com as centrais de ar. Por exemplo, hoje (segunda-feira, 21), pela parte da manhã, na primeira sala do terceiro pavilhão, a central acabou pifando; em virtude disso, viemos até a direção, a diretora nós levou para outra sala e quando nós chegamos na outra sala, do primeiro pavilhão, a central de ar funcionou por apenas dez minutos e logo depois pifou. Ou seja, queimou a central do primeiro pavilhão, as duas centrais do terceiro pavilhão e as outras ainda estão funcionando de forma precária, pelo fato da sobrecarga”, desabafou.
Já o aluno Adanilson Luiz, ao ser questionado sobre o ENEM, mesmo com todos os problemas encontrados atualmente na escola, foi enfático: “Sinceramente, nós estudamos diante de condições precárias da nossa escola. Quando chove molha mais dentro da escola do que fora, as centrais de ar estão queimando, por conta da nossa fiação elétrica que estão precárias, inclusive a Celpa já condenou nossa escola e o Ministério Público já está a par dessa situação. Nós já enviamos documentos para a 5ª URE, mas não tivemos resposta. Estamos sem merenda, nosso horário é reduzido, então, é muito difícil nós termos um aprendizado assim, pois quando se reduz tempo de aula, perdemos muito assunto, tem muita coisa que não aprendemos. Então, nós estamos vivendo uma situação crítica. Nós estamos abandonados pelo Estado, pois dez escola já receberam o aval para receber reformas e o Álvaro Adolfo não é nenhuma dessas escolas. É muito provável que o dinheiro venha, mas não chega até nossa escola. Nós não temos recursos, estamos com falta de merendeiras na escola, faz três semanas que saímos praticamente todos os dias cedo. Nós estamos muito prejudicados com essa situação. Nossa quadra de esportes também encontra-se em uma situação precária, eles vieram e fizeram as sapatas, estão há cinco anos com essa mesma construção e nunca terminam, trata-se de uma construção infindável; nossas aulas de educação física são no sol escaldante, principalmente durante a tarde. Sinceramente, nós não estamos preparados para o ENEM, principalmente os alunos que têm mais dificuldades em aprender, e com o horário reduzido não é possível aprender todo o conteúdo”, denunciou Adanilson.
INSEGURANÇA TOTAL: Além da situação precária em termos de infraestrutura, outro problema que atormenta a vida dos estudantes, e da comunidade escolar, são os altos índices de criminalidade, o que fez com as escolas se tornassem alvo dos bandidos.
“A gente paga tanto imposto, eu me pergunto para quê? Não temos nem o direito à educação e à saúde. Esse Governador nos desprezou, abandonou nossa cidade. Minha filha já foi assaltada três vezes, vou repetir, três vezes! Duas vezes foram dentro da escola. Isso é um absurdo”, desabafou à nossa reportagem o trabalhador autônomo João Assis, cuja filha estuda na Escola Plácido de Castro.
A triste realidade de vários educandários em Santarém tem deixado os estudantes e seus pais com os nervos à flor da pele. O sentimento é de completo desprezo com a população, já que há anos, inúmeros problemas estão sem solução.
O caos que se instalou nos educandários da Rede Estadual de Ensino, só não é maior, devido ao esforço dos profissionais da educação e da comunidade. Ao longo dos anos, o que se viu foram muitas promessas por parte do Governo do Estado, e pouca ação efetiva. Reformas iniciadas há mais de quatro anos e que até o momento não foram concluídas; problemas na carga horária de trabalho dos vigias, que deixou as escolas da rede sem segurança aos fins de semana.
Como exemplo da insegurança que atinge as escolas, os pais de alunos que frequentam a Escola Estadual Plácido de Castro já não sabem a quem apelar. O educandário que fica localizado na Avenida Sérgio Henn, bairro do Diamantino, tornou-se alvo de pelo menos três assaltos no ano de 2016, e neste primeiro ano, outros dois assaltos foram registrados. A ousadia dos bandidos é tanta, que eles realizam verdadeiros arrastões em salas de aula. De posse de arma de fogo e arma branca, eles ameaçam professores e alunos, tocam terror e roubam dinheiro, celular e objetos da escola. É incontável o número de escolas do Estado que tornaram-se alvo dos criminosos.
Para os pais, uma situação tem causado ainda mais preocupação, e pode explicar o aumento da criminalidade nas escolas. O advento do tráfico de droga nas escolas, e é cada vez maior o número de estudantes que são aliciados pelos traficantes. Muitos acabam tornando-se viciados, e para manter o vício, acabam roubando os próprios colegas de escola.
MINISTÉRIO PÚBLICO EM AÇÃO: No mês de novembro do ano passado, o Ministério Público de Santarém promoveu uma audiência pública para discutir o Regimento Escolar das escolas estaduais e municipais. A audiência aconteceu no auditório do Campus Tapajós, da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa). O objetivo foi discutir os principais problemas enfrentados pelas escolas estaduais e municipais, além de mecanismos e soluções para aumentar a segurança.
A audiência foi presidida pela promotora de justiça Lílian Regina Furtado Braga, titular da 8ª Promotoria de Justiça- Educação e Saúde. Todos os gestores das escolas estaduais e municipais de Santarém foram convidados. Por conta dos problemas de segurança identificados no interior dos estabelecimentos de ensino, o MP lançou a discussão no início de 2015. Discutir e buscar soluções para a segurança nas escolas faz parte dos procedimentos da Promotoria a partir de demandas trazidas ao MP pelos alunos, que identificaram fragilidades nessa questão, além da infraestrutura, alimentação e outros. A segurança foi definida como uma das prioridades, e acontecimentos recentes, como assaltos dentro e no entorno das escolas, fizeram com que o tema se tornasse urgente.
O Regimento Interno é o instrumento que prevê o funcionamento administrativo da escola e o regime disciplinar. Na consulta prévia realizada com gestores de 22 escolas de Santarém, 20 apontaram a necessidade de atualizar e reformular os regimentos em vigor. Dentre os problemas referentes à segurança, os mais recorrentes são furtos e roubos ocorridos em todas as escolas consultadas; seguido de indisciplina dos alunos, relatado por 13 gestores. Para basear seus procedimentos, 19 dos 22 consultados afirmaram usar as normas do regimento.
Dentre as sugestões que serão apresentadas, incluem-se a necessidade de prever procedimentos a serem adotados em casos de tráfico de drogas, mecanismos de participação das famílias, atendimento psicológico, inserção de mecanismos para evitar evasão escolar, atividades alternativas para alunos suspensos e inclusão de respaldo legal em algumas situações.
O regimento interno prevê o regime disciplinar e tem a finalidade de aprimorar o ensino, a formação do educando, o bom funcionamento dos trabalhos escolares e o respeito mútuo entre os membros da comunidade escolar. Traz artigos sobre as faltas graves e penalidades, regras internas relacionadas às questões disciplinares como uso de eletrônicos, atrasos, fardamento, cuidados com o patrimônio escolar, limpeza, saídas, conselhos de classe e outros. “É o fio condutor das ações internas, com horários, questões de disciplina e outras, e que por vezes não é conhecido ou utilizado de forma adequada”, concluiu a promotora de justiça Lílian Braga.
PRECARIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO: A insatisfação dos estudantes e profissionais da educação ganhou as ruas de Santarém no mês de outubro do ano passado. A indignação vem desde a questão de falta de infraestrutura das escolas, a falta e/ou distribuição de merenda escolar de péssima qualidade e desvalorização dos profissionais da educação. Também, provocou revolta nos estudantes do ensino médio, a informação de que o Governo Federal, através de Medida Provisória, que retirar da grade curricular, disciplinas tais como: educação física e artes, que hoje são obrigatórias.
O protesto teve inicio às proximidades do viaduto.  Com faixas, cartazes e discursos em carro de som, os manifestantes mostraram toda a sua indignação referente à precarização da educação imposta pelos governos.
“Estamos protestando para demonstrar e chamar a atenção da sociedade sobre o que está acontecendo no Brasil, no Pará e também em nosso município. Estão propondo um processo, culpando a educação, culpando os trabalhadores por essa crise. Os nossos políticos, principalmente os corruptos, criaram esta situação e agora estão querendo penalizar a educação”, desabafou na época o professor Carlos Assis, vice-presidente do Sindicato dos Profissionais de Educação de Santarém (Sinprosan).
Por: Edmundo Baía Júnior

Fonte: RG 15/O Impacto