Jornal O Impacto: Delegado Rilmar Firmino, qual a importância para Santarém e o Pará da realização de um evento dessa magnitude?
Rilmar Firmino:
Primeiramente, por se tratar de uma das cidades mais antigas e também
uma das importantes da Amazônia, e por se tratar da Amazônia como um
todo, a questão da segurança pública hoje não tem divisas e muito menos
fronteiras e essa reunião que é a 49ª, cada vez mais aumenta o
intercâmbio entre as polícias judiciárias, que é importantíssimo e
necessário, até porque sabemos que a bandidagem de hoje não tem
fronteiras e nem divisas e o intercâmbio deles é muito grande. Nós
chefes de Polícias Judiciais dos estados, temos a obrigação de juntos
combater o crime como um todo. Não adianta especular ou achar algo se
baseando em estatísticas, porque o Estado “A” hoje está em primeiro, o
Estado “B” está em segundo ou terceiro, pois com toda certeza a política
de segurança pública foi implantada no Brasil, o Pará será o primeiro
amanhã, Rio Grande do Norte será o terceiro, Distrito Federal será o
quarto, nós ficaremos só contando posições e achando que 62 mil mortos
em um País, dependendo da localização, o Estado está bem ou está mal. Na
verdade, o Brasil está mal, 62 mil mortes no ano de 2016 é o reflexo da
violência e o aumento da criminalidade e aqui na Amazônia podemos dizer
que temos uma situação diferenciada, a Amazônia faz fronteira com a
Colômbia, o Peru e a Bolívia, são exatamente os três maiores produtores
de cocaína do mundo. Aqui, é uma rota do tráfico, isso é fato; para se
ter uma ideia, agora no primeiro semestre nós acompanhamos uma carga de
drogas, quase meia tonelada, que saiu de Letícia, na Colômbia, entrou
por Tabatinga, chegou até Belém, sem nenhuma parada, até porque o ponto
de parada obrigatória que nós tínhamos era a Base Candirú no estreito de
Óbidos, que inclusive foi desativada desde 2009. Como a União vai
combater o tráfico de entorpecentes e o tráfico de armas, que são duas
molas propulsoras da violência e da criminalidade, sem ter fiscalização?
Se você pegar as rodovias federais, saindo de Santarém até Guarantã do
Norte, vai ter só um posto da Polícia Rodoviária Federal que é a da
Serra do Piquiatuba. Então, é brincadeira tratar a segurança pública da
forma que é tratada. Nós temos 17 deputados estaduais, temos três
senadores e um Ministro de Estado, isso é um descaso com a Amazônia, é
um descaso com o estado do Pará.
Jornal O Impacto: O senhor está
prestes a completar mais um ano à frente da Delegacia Geral, qual
avaliação que o senhor pode fazer sobre os trabalhos desenvolvidos em
2017?
Rilmar Firmino: Nossa
equipe está há sete anos no comando da Polícia Civil. Eu digo que é uma
equipe, não é o delegado Rilmar. Eu passei dois anos como Delegado
Adjunto, estou hoje no quinto ano como Delegado Geral da Polícia e os
algozes foram muitos nesses sete anos. Graças à sensibilidade e ao
respeito que o Governador do Estado tem para com a Polícia Civil e o
sistema de segurança pública. Ao longo desse sete anos nós construímos
60 Unidades Integradas, reformamos 70 Delegacias, nós conseguimos fazer
em menos de quatro anos dois concursos públicos com ingresso de mil
policiais. A partir do próximo dia 30 nós estaremos formando 500
policiais civis e na quinta-feira (09), nós iniciamos o curso de
formação para 150 delegados da Polícia Civil. No total nós incorporamos
ao nosso efetivo mais 650 policiais. Então, nosso efetivo hoje gira em
torno de três mil, sendo que um mil policiais terão menos de quatro anos
na ativa. Isso é muito bom, pois trata-se de uma renovação e
reestruturação da Polícia Civil. No que diz respeito a equipamentos e
armamentos, nós não temos o que reclamar. Sobre a capacitação, nós
conseguimos no primeiro semestre, implantar a Academia Itinerante, onde
tivemos a oportunidade de percorrer todas as Regionais, capacitando
nossos polícias. Na verdade, é a disciplina do dia a dia, armamento,
munição e tiro, investigação policial; isso foi muito importante sendo
que o reflexo se tem na prática. Estamos há sete anos sem um acidente
com arma de fogo na Polícia Civil; o efetivo que nós temos, a quantidade
de armas que possuímos e não termos acidente ou incidentes com armas de
fogo, isso se chama prevenção.
Jornal O Impacto: Com relação aos concursados, qual a previsão para assumirem os cargos?
Rilmar Firmino: Veja
só, a partir do dia 30 termina o curso de formação, dia 06 de dezembro é
a festa e solenidade de formatura e a partir do dia 10 de dezembro será
homologado o concurso. A partir daí fica a cargo do Governador, pois
sempre tem sido feito de forma automática, entre o término do curso de
formação e o período da nomeação, é só o prazo legal da homologação do
concurso. Tem sido feito assim e tenho certeza não vai ser diferente.
Jornal O Impacto: Com relação à
operação que investiga as mortes no Sudeste paraense. O que pode ser
revelado sobre as motivações, haja a vista que na última operação foi
presa a mãe do atual prefeito de Tucuruí, suspeita de ser a principal
mandante do crime, o que o senhor tem a dizer sobre isso?
Rilmar Firmino: Tanto
no município de Goianésia, quando o prefeito Russo foi morto, quanto em
Breu Branco, quando o Diego Alemão foi morto e também o prefeito de
Tucuruí, Jonny Williams, em todas as três investigações nós chegamos a
um resultado satisfatório; tanto que o pessoal que cometeu o crime
contra o prefeito Russo está preso; sobre Breu Branco, todos estão
presos, tanto o mandante quanto o pistoleiro e o intermediário; também
nós já temos boa parte da investigação avançada sobre o crime de
Tucuruí, sendo que na semana passada deflagramos a operação onde foram
cumpridos 5 mandatos de prisão temporária, 12 mandados de busca e
apreensão e 8 mandados de condução coercitiva. Então fizemos algumas
apreensões em residências, alguns materiais serão submetidos à perícia,
em breve nós chegaremos à conclusão final do inquérito da morte do
prefeito Jonny Williams. Finalizou Rilmar.
O presidente do Conselho Nacional de
Chefes de Polícia, delegado Eric Ceba, também concedeu entrevista à
nossa reportagem, onde fala sobre o evento que aconteceu em Santarém.
Acompanhe:
Jornal O Impacto: Delegado, como se deu a escolha de Santarém para sediar esse encontro?
Eric Ceba: Na verdade,
as deliberações do Conselho são feitas a cada reunião e na última
reunião houve a proposta, por entendermos a importância da região Norte
no contexto da segurança do Brasil e da Polícia Civil do estado do Pará,
a projeção que ela tem tido. Nós achamos que seria muito importante,
seria um marco no momento em que toda população pede uma melhoria de
segurança, uma política efetiva de Segurança Pública, uma política que
traga resultados e paz para a população. Então, nós entendemos que aqui
reuniria todas as condições, uma Polícia que tem apresentado bons
resultados, uma região que é considerada o pulmão do mundo. Não só os
crimes contra as pessoas, contra o patrimônio, mas também os crimes
ambientais devem ser olhados. Trata-se também de uma rota do tráfico de
drogas, que é o que acaba movimentando a criminalidade pelo Brasil
inteiro, de certa forma há uma passagem de armas. Para nós, além de ser
muito importante, é um marco essa reunião aqui no estado do Pará e pela
beleza da cidade e hospitalidade da população, o povo paraense de uma
forma geral é muito receptivo. A última reunião foi no Rio Grande do
Sul, nós tivemos a reunião em Porto Alegre e depois tivemos uma outra
setorial em Rondônia e, agora essa aqui no estado do Pará e a próxima
por questão de logística será no Rio de Janeiro.
Jornal O Impacto: Qual sua avaliação sobre a gestão adotada no Pará pelo delegado Rilmar Firmino?
Eric Ceba: É importante
frisar que o Doutor Firmino é o segundo chefe de Polícia mais antigo do
Brasil. Então, ninguém consegue alcançar uma longevidade dessa se não
tiver um envolvimento e comprometimento com a política de segurança, com
sua instituição e sua população. O Pará tem levado boas práticas, é um
modelo de gestão muito importante e é a interação que nós temos feito; o
Pará tem servido de referência para outras polícias no Brasil, no
sentido de boas práticas, práticas modernas e valorização de servidor,
pela preocupação com a coisa pública, com a própria população. É uma
referência pra gente.
Jornal O Impacto: Como o senhor vê a situação do Rio de Janeiro, você acha que essa situação pode se espalhar para o País?
Eric Ceba: Veja só, a
situação do Rio de Janeiro é preocupante, é uma densidade demográfica
muito grande em um espaço muito pequeno e isso acaba provocando uma
pressão. Isso a gente vive em Brasília (Distrito Federal), o aumento de
uma população de forma desordenada e acaba que as políticas públicas não
conseguem acompanhar. Isso é preocupante, mas eu entendo que é
controlável, basta que se faça uma política séria e efetiva de segurança
pública e mais do que isso, acabar com o sentimento de impunidade no
Brasil. A Lei existe, fala-se muito toda vez que acontece uma morte ou
um crime bárbaro, todo mundo diz: “Vamos mudar a lei, os políticos vão
para o congresso, vamos fazer isso, vamos fazer aquilo”, tudo é pura
pirotecnia. Na verdade, o que se precisa é aplicar a Lei com mais rigor,
na essência do que ela foi para aqueles que ainda querem se
ressocializar e se recuperar, para aqueles que não querem, cadeia.
Espalhar para o resto do Brasil é de fato uma preocupação,
principalmente pelo crime organizado, mas o combate é pela Polícia Civil
e pela Polícia Federal, colocando esses camaradas na cadeia,
desapropriando esses criminosos, tirando esses patrimônios que esses
criminoso conquistam com o crime.
Jornal O Impacto: O Ministro da
Justiça fez sérias declarações com relação à associação entre o crime
organizado e o poder público no Rio de Janeiro. No seu ponto de vista, o
que levaria o Ministro a fazer esse tipo de declaração?
Eric Ceba: Talvez ele
tenha verbalizado aquilo que todo mundo sabe e não tem coragem de falar,
a verdade é essa. Eu costumo dizer o seguinte: eu tenho 33 anos de
Polícia,o aparelho policial do Estado tem de ser respeitado, se não for
respeitado tem de ser temido, então, ele deixa de ser respeitado e
temido quando um agente público desce ao nível do criminoso, e aí nós
começamos a ver mortes de policiais e outros tipos de ações que vêm
contra o Estado. Eu dei uma nota 10 para o Ministro e não restrinjo só
para o Rio de Janeiro e sim para o Brasil inteiro. Todos os maus
policiais e agentes públicos comprometem a estrutura do Estado, e
deveriam ser punidos e estar na cadeia, mais ainda do que próprio
bandido. A verdade é essa!
Por: Edmundo Baía Junior
Fonte: RG 15/O Impacto