sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Moradores do Corta Corda bloquearão PA-370

Após inúmeras tentativas de terem suas reivindicações atendidas, moradores de assentamentos na região do Corta Corda, no planalto santareno, decidiram que irão interditar a PA-370 – a Santarém/Curuá-Una. O bloqueio da via será realizado na segunda-feira, dia 4, a partir das 7h e só deve acabar caso seus pedidos sejam atendidos – e eles vão desde a regularização dos vários assentamentos naquela área até energia, asfaltamento e construção de ponte.
O movimento de bloqueio tem à frente os senhores Adelio Bezerra da Silva e Jonas Lopes da Silva, que cansados de esperar alguma posição dos órgãos públicos – principalmente o INCRA – decidiram que era hora de se fazerem ouvir.
REIVINDICAÇÕES: O protesto na via tem como objetivo conseguir os seguintes pedidos:
Asfaltamento da PA-370; Ponte sobre o Rio Curuá-Una; Titulação e reconhecimento das terras ocupadas por colonos; Liberação de crédito de apoio habitação e segurança dos colonos; Implantação o Programa Luz Para Todos; Capacitação de Jovens e Adolescentes; Intervenção do MPF para impedir grileiros de estarem no Corta Corda.
De acordo com eles, os principais problemas enfrentados pelos moradores da região do Corta Corda passam pelo INCRA, que não dá a eles a devida assistência.
“Foi criado o assentamento onde o INCRA tem que dar assistência. Quando começou o assentamento eles ainda iniciaram um trabalho de fazer vicinal, liberar crédito habitação e apoio, só que isso parou. Eles não demarcaram as terras, os lotes e os perímetros do assentamento, então o que eles fazem lá é só uma vistoria ocupacional, fazendo medo para as pessoas, dizendo que elas não estão trabalhando corretamente no lote – isso tudo até 2008, porque de lá para cá eles não fizeram absolutamente mais nada. Ali está virando uma área de conflito, um local aonde alguém chega, se apossa e começa a negociar (a grilagem). Devido a tudo isso, a gente vai fazer esse manifesto convocando o INCRA a tomar uma atitude dentro do assentamento”, comenta Jonas Lopes da Silva.
Além da legalização dos assentamentos, outro ponto reivindicado pelos moradores da região do Corta Corda é a questão da construção de uma ponte para melhorar o acesso à comunidade. De acordo com eles, os moradores daquela área ficam reféns de uma balsa que só os deixa atravessar após o fim do expediente da Eletronorte – além de cobrar um preço muito alto para a travessia.
“Desde quando surgiu o assentamento [em 1997] tem a promessa dessa ponte e de 2008 para cá estamos apertando os órgãos, como o governo do Estado, a terminarem aquilo. Nunca disseram que não iriam fazer, mas quando a gente pede uma data eles não dão resposta. Por isso tivemos que tomar essa atitude. Lá tem uma balsa que a gente diz ser um ‘garimpo sem malária’ e ninguém sabe pra quem, se tem alguém da Eletronorte ou do governo, ninguém sabe de onde. Só sabemos que ninguém faz muita questão de fazer essa ponte. A gente é impedido de ter o acesso para o ônibus que faz linha para as comunidades poder trafegar. As vezes o ônibus chega ali umas 13h30 e só vai atravessar depois das 17h, que é quando eles [pessoal da Eletronorte] param de trabalhar”, relata Adelio Bezerra da Silva.
A falta de energia para aquela área também é uma das pautas que estão sendo discutidas dentro dos assentamentos. Segundo os manifestantes, muitas comunidades daquela área não são atendidas pelo programa Luz Para Todos, deixando eles no escuro – literalmente. Houve ocasiões em que o projeto chegou a ser discutido com moradores da região, mas ficando apenas nisso.
“A gente lutou para que fosse implantado o programa Luz para Todos. O que eles fizeram? Subiram, fizeram nas comunidades que tem à beira da estrada e nos primeiros ramais, mas foi só. Chegaram a fazer até a comunidade de Curuatinga, mas só por conta de protestos que fizeram. Desde que eles começaram, em 2016, que a gente vem cobrando que seja feita a implantação nas outras comunidades, mas não deram resposta”.
A MANIFESTAÇÃO: Ainda que possa ser considerado como ato extremo, pois vai causar inúmeros transtornos a quem trafega pela Santarém/Curuá-Una, o bloqueio da via não foi uma decisão tomada em cima da hora ou de forma impensada. Os assentados decidiram pela reivindicação há pelo menos três meses, sendo todo este período utilizado para planejamento e preparação. “Temos uma comissão com a faixa de 12 pessoas que está tomando conta das questões internas, mais oito por comunidades daquela região e outras localidades – que vêm desde o Mararu até o Uruará. Tomamos essa decisão há uns três meses, ficamos elaborando [a ideia] e conversando com os moradores. Quando o Henderson Pinto se reuniu com a gente, em maio, colocamos para ele que se não tivéssemos uma resposta que fosse do nosso agrado, antes de findar o ano a gente ia fazer esse manifesto. Fomos a todos os órgãos e emissoras de TV e Rádio para comunicar a interdição, não pedir permissão”, afirma Jonas Lopes da Silva. Com a interdição marcada para segunda-feira, dia 4, os manifestantes afirmam que só deixarão passar pelo bloqueio aquelas pessoas que estiverem doentes ou casos considerados como urgentes. De resto, nada passará pela rodovia, que só deve ser desinterditada caso as reivindicações sejam atendidas. “Vamos continuar com a manifestação até sermos ouvidos. Temos data para começar, mas não para acabar, temos uma meta que se não for alcançada não terminaremos a interdição. O que faremos é deixar passar apenas pessoas doentes ou alguma emergência. De resto é fechado de qualquer jeito”, afirma.
PROBLEMAS COM O INCRA E GRILEIROS: De acordo com Jonas Lopes da Silva, a falta de presença do INCRA naquela área fez com que aumentasse o número de grileiros naquela região. Com isso, muitos moradores do Corta Corda se viram obrigados a largarem aquela área por se verem ameaçados e sem nenhum apoio.
“O INCRA não dá assistência, eu não tenho condição de cavar um microssistema de água para abastecer a minha comunidade. Aí chega o grileiro oferecendo uma migalha e o cara vende até 100 hectares por quatro ou cinco mil reais para que ele possa ir procurar um lugar que tenha pelo menos água. A falta de assistência faz com que as pessoas se prestem a isso. Mas também tem gente que vem de outros estados e tenta tomar terra na mão grande. Tem isso também, inclusive muito e não estão pegando pouco não”, ressalta Jonas Lopes da Silva.