| ADEUS BOÊMIA |
A notícia veiculada no IMPACTO da semana anterior, informando de que a “Boite da Mariazinha” estava prestes a fechar suas portas, cerrando, assim, as cortinas para os show’s, diários, promovidos pelas “garotas” que ali se exibiam em espetáculos noturnos, pegou-me de surpresa e levou-me a uma viagem sobre o tema.
Essa casa teve seu auge na época da corrida econômica do ouro, há pelo menos uns vinte anos atrás. Com sua paralisação, encerra-se mais uma época em nossa terra, a boemia!
Aliada a crise por que passa o município de Santarém, não se importando, os que têm poder de decisão, em atrair empresas para que aqueçam a economia, proporcionando emprego e circulação de dinheiro entre os seus habitantes, nenhuma expectativa.
Sem isso, todos os setores estão passando por dificuldades, inclusive a vida noturna. Vem a corrida do mercado imobiliário, razão por que a expansão urbana de Santarém foi engolindo as zonas boêmias da ex-pérola do tapajós.
Não sou tão antigo para relembrar de muitas outras casas de danças, (dançarás) que existiam em Santarém, e que, às vezes, ainda “de menor”, furtivamente, (não havia Conselho Tutelar, fazendo ronda noturna, como hoje há, só o GM JUSTO (in memoriam)), ali, naquele ambiente romântico, começava-se a dar os primeiros passos de danças de salão. Lá era a academia da nossa juventude e de muitos adultos, que se iniciavam, um pouco tarde, na diversão noturna.
O progresso foi engolindo cada uma delas. ‘O Pau da Garça” foi pelas basculantes lançando as carradas de aterros e pedras para aterrarem a frente de Santarém, onde existia praia em toda a sua extensão e, assim criaram a avenida Tapajós, e foi-se embora uma das maiores belezas desta Pérola, a Praia, e com ela foi-se embora, a área boêmia próxima do mercado.
Depois dela a “FULUCA” foi engolida pela expansão urbana e imobiliária, após ter se deslocado da Mendonça Furtado, para próximo de onde hoje é a área das seringueiras, próximo do bairro Mapiri. Por sinal este, hoje bairro, era uma praia boêmia, que muitos passavam no retorno e comiam um jaraqui frito no (saudoso) Miguel.
Ao lado do Mapiri, foram afogados pelo progresso “Poço Frio” e “Nosso Banho”. Assim foram tomando o mesmo destino e pelas mesmas razões: “O Copacabana” no Caranazal; “A Sombra da Lua”, na rodagem; “A Lua de Mel”, na Álvaro Adolfo com a Rosa Passos; “O PUK PUk” na Santana.
“O Trem”; na Mendonça Furtado; “O Brahma Bar” na Dois de Junho e a Praça da Liberdade ficava cercada pelos boêmios freqüentadores do “Bibito” e do “Coquinho”, estes foram os últimos a cerrar as portas, tombados pelo especulação e o crescimento do mercado imobiliário. Ainda cito o “Beija Flor”, “Vai Quem Quer”, “Arrozal”, “Quartel” e “Charão”, além de muitos outros, esquecidos na poeira do tempo.
Mas, o mais desastrado é deixar o ponto de encontro e de partida de todos os boêmios do século passado se deteriorar, perdendo um bom pedaço da história social de Santarém. “O Tapajós Bar”, que de frente do “Castelo” e a “Torre da Matriz”, era referência para quem chegava, à nossa Terra, pelo rio Amazonas.
Ali, em suas mesas, muitos papos, muitos drinks rolaram e muitos atos que mudaram os destinos de Santarém foram tratados. Pois, lá é que se reuniam policiais, políticos, comerciantes, fofoqueiros , fuxiqueiros e, principalmente, os boêmios que começavam à noite por ali, encontrando-se. E, quando davam sorte, já iam com a sua “dama da noite” e depois pegavam o Táxi, que naquela época, eram Jeep ou Rural, até chegar o Sinca Chambort e outros veículos, para se dirigirem aos bailes nas casas noturnas da Pérola do Tapajós, até a madrugada.
Mas o importante é que o prédio do “Cliper Tapajós Bar” faz parte da história social, da boêmia, arquitetônica, política e paisagística de Santarém. E, portanto, mereceria não ser descaracterizado, ser defendida a sua destruição impedida pelo governo municipal. Alô, cadê o compromisso com a Cidade que lhes serviu de berço, como a mim, também?
De lá de sua área livre pode-se apreciar o cenário maravilhoso do rio Tapajós, do encontro das águas dos dois rios que “disputam seu carinho numa luta tão feroz” e funcionar, agora com, a chamada revitalização da orla (tão falada) ao lado do BAR MASCOTE, são os únicos, tirando a GARAPEIRA IPIRANGA, sobreviventes dos pontos de encontros dos Santarenos e outros viajantes, turistas que apreciavam o movimento dos barcos, saindo e chegando com suas luzes coloridas, acompanhando a batida da máquina, até o toque da campainha para ancorar no cais em frente da cidade e começar a descer sua carga de saudades.

Nenhum comentário:
Postar um comentário