Estadão
A
presidente Dilma Rousseff vai mudar toda a diretoria da Petrobras. A saída da
presidente da companhia, Graça Foster, é questão de dias e está atrelada apenas
à aprovação do balanço do terceiro trimestre de 2014 da estatal. Dilma
conversou ontem com Graça, durante pouco mais de duas horas, no Palácio do
Planalto, e comunicou a decisão. O governo procura agora um nome do mercado
para substituir a executiva.
Dilma
quer repetir a solução "à Levy", uma alusão ao ministro da Fazenda,
Joaquim Levy, que era diretor do Bradesco e foi chamado para o governo com a
missão de resolver os problemas na economia e acalmar o mercado. Na
terça-feira, 3, a expectativa pela mudança no comando da petrolífera
impulsionou as ações da estatal - que encerraram com a maior alta dos últimos
16 anos - e ofuscou as notícias de rebaixamento do rating (classificação da
qualidade de crédito de uma empresa) da estatal, anunciada pela agência Fitch.
Na
avaliação da presidente, depois da Operação Lava Jato, que escancarou um
esquema de corrupção na Petrobras, a companhia precisa de um nome de peso para
limpar sua imagem.
Cotados
Na lista
dos cotados para substituir Graça estão o ex-presidente do Banco Central
Henrique Meirelles, o ex-presidente da BR Distribuidora Rodolfo Landim, que
trabalhou com Eike Batista na OGX, e o ex-presidente da Vale Roger Agnelli.
Além da
espera da aprovação do balanço, a substituição do comando da estatal esbarra
nas dificuldades do governo para encontrar quem queira ocupar a presidência de
uma empresa em crise, alvejada por denúncias de corrupção. Por isso, a decisão
de condicionar o afastamento da atual diretoria à aprovação do balanço. Nesse
cenário, a nova diretoria assumiria com o "terreno limpo", livre de
ser responsabilizada por desvios de dinheiro praticados por gestões anteriores.
Desde que
veio à tona o escândalo envolvendo a Petrobras, no ano passado, Graça chegou a
pedir para sair do cargo três vezes. Dilma a segurou, embora o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva pregasse sua demissão. A permanência de Graça à
frente da companhia sob investigação sempre foi um anteparo para Dilma.
Agora, o
impasse contábil da Petrobras aflige o governo. O balanço não foi auditado
ainda pela PriceWaterHouse Coopers. A empresa evita assinar o balanço enquanto
a estatal não apontar quais foram as perdas com as fraudes que estão sendo
investigadas na Lava Jato.
Graça
sofreu forte desgaste político ao divulgar que os ativos da empresa foram
inflados em R$ 88,6 bilhões. Sua imagem piorou ainda mais com declarações de
que a exploração de petróleo cairá "ao mínimo necessário" e de que
haverá corte de investimentos e desaceleração de projetos.
No
governo a divulgação dos ativos inflados de R$ 88,6 bilhões foi considerada uma
"trapalhada" da atual presidente. Ao citar o número em entrevista da
semana passada, ela deu a entender que a cifra poderia ser prejuízo da empresa,
embora depois tentasse explicar que ali estavam incluídos projetos mal
planejados e até mesmo a variação em dólar do preço do petróleo, além dos
desvios por corrupção.
Em
Brasília, Graça não esteve apenas no Planalto. Antes de conversar com Dilma,
ela se reuniu com o ministro da Fazenda, que fora incumbido pela presidente de
procurar nomes do mercado para o comando da Petrobras. Nesse intervalo, voltou
ao escritório da empresa para conversar com a diretoria, que estava no Rio de
Janeiro, por videoconferência.
No
encontro com Dilma, Graça deu demonstrações de que está esgotada. O fogo amigo
contra ela foi desencadeado com a decisão de não poupar mais o ex-presidente da
estatal José Sergio Gabrielli, amigo de Lula, dos problemas da administração
anterior.