quinta-feira, 25 de junho de 2015

LULA, O PT, CHICO BUARQUE, O PSDB, NÓS E ETC...

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A tradução da fala de Lula foi a dura constatação, por ele mesmo, de que o PT associou-se ao sistema que combateu um dia.
O nosso sistema político-eleitoral consolidou aquela “roda-viva” que cantou o Chico:
“A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a roseira pra lá”
E enquanto essa roda-viva houver não haverá roseira que dure, pois ela tanto encanta que inebria, e quem ébrio fica o senso perde.
A forma como o PT chegou ao governo foi revolucionária. Não a revolução da força, mas a do ideal, feita pelo voto.
Lula está certo ao opinar que o PT perdeu a utopia. Na verdade, toda a classe política, se um dia a teve, depositou-a em uma poupança com prazo ad aeternum e perdeu o número da conta e a senha para resgatá-la.
O ex-presidente FHC, em um daqueles momentos no quais o vulgo, achando que á fácil tomar decisões políticas, cobrava-lhe que cortasse o nó górdio como o fez Alexandre, o Grande, sugeriu que “a política é a arte do possível”, e ficou crido ter sido dele a autoria do dito.
Não foi. A pior fraude é a intelectual: somos obrigados a dar crédito àqueles que nos ajudam na arte da linguagem, pois ela é um poderoso instrumento de dominação.
A frase foi dita pelo prussiano Otto von Bismarck, conhecido pela alcunha de "Chanceler de Ferro", que plantou o 2º Reich unindo os países germânicos em uma única nacionalidade alemã. Hitler veio depois e estragou tudo, mas isso é outra história.
Enquanto ao PSDB o povo deu a métrica do possível, ao PT o povo entregou a utopia de buscar o ideal, assim como os diversos povos germânicos entregaram a Bismarck a tarefa de uni-los sob um só signo. Bismark entregou.
A tarefa do PSDB foi cotidiana. A tarefa do PT foi revolucionária. O Brasil, embora conservador, apostou as fichas na utopia que o PT se comprometeu a empreitar, mas, destarte a tenha buscado na fase vestibular, terminou por ceder. Não resistir. Entrou na roda-viva e inebriou-se. E quem diz isso é o seu próprio fundador.
Não é possível a país ou pessoa viver sem utopias. Elas foram a carenagem com que a humanidade saiu das cavernas e chegou à Lua: a utopia é o combustível do homo sapiens na estrada da civilização.
Mas a política nacional, que deveria ser um excipiente do ideal, nunca saiu da mera luta de conquista e manutenção de poder, e tanto perdeu o tento que trava a liça escancaradamente.
O PT, e me refiro apenas ao PT porque os outros sequer jamais tentaram, foi seduzido pelo monstro contra o qual lutou um dia,  perdendo a noção correta de poder, pois tê-lo não é indigno, desde que se faça com ele coisas dignas.
A nação também nunca saiu da liça e, a ser um agente da mudança, prefere apontar hereges, colocando lençóis em todos os espelhos da casa, para não correr o risco de encontrar um culpado quando se olhar em um deles.