sexta-feira, 2 de outubro de 2015

EU HEIN!

Não é pelos R$ 7,8 milhões…


Shot
O governo do Pará não consegue sair do rebojo quando o assunto é educação.
Em agosto, a Secretaria de Educação do Pará veio à tona com o escândalo da estapafúrdia contratação, por R$ 180 milhões, da empresa BR7 Editoria e Ensino Ltda., para ministrar aulas de inglês em carretas. A repercussão negativa da leviandade foi tão grande que o contrato foi rescindido antes que um só aluno aprendesse a dizer goodbye.
Quando eu pensava que o pessoal da Seduc se escaldara com a aventura do curso de inglês on the road e, por conseguinte, não ia passar perto de água fria tão cedo, eis que leio essa história de contratar, por R$ 7,8 milhões, duas escolas particulares, o Centro de Ensino Fundamental e Médio Universo, em Belém, e o Colégio São Geraldo, de Ananindeua, para que, por cinco meses, atendam 22 mil alunos em aulas de reforço.
A finalidade das contratações, embora de ética duvidosa, não é má: preparar alunos para os exames do Enem e para a Prova Brasil, que compõe o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb).
Os meios, todavia, não atendem ao interesse público, uma vez que poderia o reforço ser ministrado pelo próprio estoque docente da Seduc, ou um sistema misto com contratações temporárias, o que evitaria a versão de que a Seduc usa o programa para repassar recursos da educação pública para a rede privada.
O programa, quando se tratam de recursos públicos, e visa auferir um índice de avaliação educacional de toda a rede, também pode ser questionado, à medida que, ao diferenciar uma parte através de um reforço que os demais não terão, mascara o resultado obtido, dando ao público inadvertido, caso a empreitada logre êxito, uma falsa imagem do estado em que se encontra o todo.
Nesse raciocínio, pelo que mais não seja, e em que pese possam haver educadores que acreditam na exação da empreitada, é possível afirmar que o erário paga R$ 7,8 milhões para, por cinco meses, oferecer a poucos um padrão de ensino que não presta a muitos.
É lastimável nos entregarmos a malabarismos casuais para desfocar o verdadeiro problema. Não é possível enxugar o chão com a torneira aberta, a não ser que a água jorre até acabar, mas aí, teremos morrido de sede.
Como disse La Rochefoucauld, “é tão fácil enganar-se a si mesmo sem o perceber, como é difícil enganar os outros sem que o percebam”.